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Informação Diária de Mercados (atualizada)

11.04.2025

Escrito por: Equipa Research Bankinter Portugal

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11/04/2025

Ontem: “China penaliza a bolsa.”

As bolsas europeias receberam positivamente (+4,3%) o anúncio de Trump de pausar durante 90 dias a aplicação dos impostos alfandegários recíprocos mais graves, sendo correspondido pela UE com um adiamento das suas contramedidas. Resta negociar, mas é importante ressaltar que o imposto alfandegário geral de 10% permanece, assim como os da China e também, claro, os do aço, alumínio e automóveis. Inicialmente, esta notícia foi recebida com otimismo na quarta-feira, com as fortes subidas de Wall St., mas ontem houve um banho de realidade na bolsa (-3,5%) após a escalada das tensões alfandegárias entre os EUA e a China, depois de Trump voltar a subir o imposto sobre as importações até 145%. Tampouco ajudou um bom registo da inflação americana em março (+2,4% vs. +2,8% ant. Geral e +2,8% vs. +3,1% ant. Subjacente), que o mercado recebeu negativamente perante a possibilidade de que esta moderação de preços viesse por um debilitamento da procura. O impacto desta nova política comercial a curto prazo não pode ser negado, embora vejamos o seu impacto em preços nos registo de abril ou maio. Neste contexto, em renda fixa, houve vendas de obrigações nos EUA (T-Note +9 p.b. 4,43%) e compra na UE (Bund -1 p.b. 2,58%), embora com intensidade na periférica (ESP 10A -4 p.b. 3,31%; ITA 10A -6 p.b. 3,82%). O ouro continuou a sua escalada (+3%), o petróleo caiu (-3/-4%) e o dólar continuou a debilitar-se contra o euro (-2% até 1,12).

 

Hoje: “Não há motivos para pensar num tom positivo.” 

A principal referência do dia será a Confiança do Consumidor da Universidade de Michigan (16 h, abril). Espera-se que retroceda pelo quarto mês consecutivo até 53,5, o nível mais baixo em quase dois anos. Atualmente, este indicador é importante, já que é uma das amostras do impacto que as políticas comerciais de Trump têm sobre a economia e das pressões inflacionistas. Teremos de prestar especial atenção às componentes de expectativas de inflação a 1A e 5A/10A, que se espera que aumentem 2 décimas até 5,2% e 4,3% respetivamente (vs. +2,6% e +3,2% nov. 2024). No plano empresarial, os primeiros bancos americanos começam a publicar hoje os seus resultados do 1T 2025 (Wells Fargo +3%e, JP Morgan +4%e e Morgan Stanley +14%e), mas o realmente importante serão as mensagens e guias que disponibilizam sobre a evolução do negócio nos próximos meses. Apesar dos futuros virem em alta, todo o anterior faz pensar numa sessão que irá perdendo a força à medida que avançar. Caso haja subidas, serão testemunhais e fruto de “caçadores de oportunidades”. Não há motivos para confiar numa melhoria do tom. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

REINO UNIDO (08:00h): (i) O PIB de fevereiro situa-se em +0,5% m/m vs. +0,1% estimado e 0,0% anterior (revisto desde -0,1%). Em termos intertrimestrais, aumenta +0,6% vs. +0,4% est. e +0,3% anterior (revisto desde +0,2%). (ii) A Produção Industrial entra em crescimento positivo em fevereiro e situa-se em +0,1% vs. -2,3% estimado e -0,5% anterior (revisto desde -1,5%). (iii) A Produção Industrial (fevereiro) aumenta até +0,3% a/a vs. -2,2% estimado e -0,9% anterior (revisto desde -1,5%). OPINIÃO: O conjunto de dados é positivo e implica uma notável melhoria após a apatia de janeiro. O PIB, tanto o registo mensal como o trimestral, é muito superior ao esperado e ao dado anterior. A Produção Industrial entra em crescimento positivo, embora seja em termos mínimos, após 16 meses em negativo. Estes dados ainda não recebem o impacto adverso das medidas alfandegárias dos EUA e a dúvida é se veremos uma deterioração do PIB após a sua entrada em vigor. 

EUA (ontem): A inflação modera-se mais do que o esperado em março. O IPC abranda o seu crescimento até +2,4% a/a (março) desde +2,8% em fevereiro (vs. +3,0% em janeiro) e situa-se abaixo de +2,5% esperado. O nível mais baixo desde setembro de 2024. Destacam-se as quedas em Energia (-3,3% a/a) e Gasolina (-9,8%). A Taxa Subjacente, que exclui os setores mais voláteis (energia e alimentos), também retrocede. Situa-se em +2,8% vs. +3,0% esp. e +3,1% em fevereiro (+3,3% em janeiro). Link para o nosso relatório (em espanhol). OPINIÃO: Boas notícias, mas por quanto tempo? O IPC modera-se mais do que o esperado, algo que é sempre positivo, igual à desaceleração da Taxa Subjacente. Não obstante, o dado não recebe os primeiros efeitos da política alfandegária de Trump, que previsivelmente irá favorecer subidas de preços para compensar os efeitos dos impostos alfandegários. Ontem conhecemos uma pausa de 90 dias na aplicação de impostos alfandegários recíprocos. Por sua vez, a Fed, nas suas Atas da reunião de 18/19 de março, deixou claro que vê um aumento dos riscos para a inflação e que esta pode ser persistente. Para a próxima reunião da Fed (17 de abril), continuamos a pensar que não baixarão taxas de juros desta vez. Não tem necessidade de o fazer e acreditamos que fará cortes em setembro e dezembro (-25 p.b. em cada ocasião), para deixas as taxas de juros em 3,75%/4,00%.


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10/04/2025

Ontem: “Alívio na bolsa americana perante a pausa de 90 dias nos impostos alfandegários.”

O anúncio de Trump de uma pausa de 90 dias aos impostos alfandegários “recíprocos” desatou numa reação em alta das bolsas americanas. As bolsas europeias tinham fechado com quedas entre -2% e -4% perante a escalada alfandegária que estava a acontecer previamente. A exceção da pausa é China, elevando-os até 125%, após a represália da China (84% a produtos americanos). Mantêm-se os impostos alfandegários de 10% a todas as importações e ao aço, alumínio e automóveis anunciados anteriormente. Trump tinha apelado anteriormente à calma e o seu Secretário do Tesouro (Bessent) comentava a possibilidade de alcançar um acordo comercial com os seus aliados para uma aproximação conjunta posterior a China. Por último, alertou os países que se aproximem de China.

Contudo, os mercados de Renda Fixa continuaram predominados pelas vendas, a yield do T-Note manteve-se em alta +4,32% (+3,0 p.b.), enquanto a 30 anos melhorou muito levemente +4,74% (-2,6 p.b.). O dólar manteve-se fraco vs. Euro 1,095. Em suma, sessão com duas partes diferenciadas após o anúncio de Trump. 

 

Hoje: “Etapa de “configuração” do novo contexto comercial.”

As bolsas europeias descontarão hoje com subidas o “alívio alfandegário” que abre esta nova fase. Por um lado, é o primeiro sinal de atenção de Trump à reação dos mercados; por outro, a pergunta é se a confiança realmente muda enquanto se prolonga o processo de negociações durante o 2T25. 

Apesar da subida dos mercados, o nível de incerteza continua historicamente alto. Mantêm-se alguns impostos alfandegários (comentado anteriormente) e as obrigações americanas a longo prazo continuam sob pressão. Nesta etapa de “configuração” da nova estrutura comercial global, a dificuldade para estimar o impacto final em baixa sobre o crescimento e em alta sobre a inflação irá manter a preferência por ativos com baixo perfil de risco. 

Hoje começam as referências de preços na China e nos EUA. São dados de março, demasiado precoces. Os primeiros anúncios de impostos alfandegários que elevaram os alarmes foram em inícios de março; enquanto a escalada ocorreu em abril, portanto teremos de esperar meses para ver o seu impacto em preços finais. Daí a importância dos indicadores adiantados de confiança e componentes de preços (como o Índice de Conf. Consumidora da Univ. de Michigan, na sexta-feira). Dito isto, hoje o IPC americano pode moderar-se até +2,5% a/a (-0,3 pp) e uma décima a Subjacente (+3,0%). Esta madrugada, China continua em deflação (IPC -0,1%). 

Em suma, sessão de recuperação das bolsas. Contudo, a confiança continua alterada, a visibilidade sobre o desenvolvimento alfandegário é limitada e os riscos geoestratégicos continuam elevados. Portanto, mantém-se a pressão sobre as obrigações americanas a longo prazo e, após uma pausa temporária, sobre as bolsas. Os guidances da temporada de resultados irão clarificar mais a confiança investidora a curto prazo. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

CHINA (02:30 h): Os indicadores de preços ressaltam a debilidade da economia chinesa, que continua em deflação. (i) IPC (março): -0,1% a/a vs. 0,0% esperado e -0,7% anterior. Taxa Subjacente: +0,5% a/a vs. -0,1% anterior; (ii) Preços Industriais (março): -2,5% a/a vs. -2,3% esperado vs. -2,2% anterior. OPINIÃO: Mais notícias negativas para a economia chinesa. Os preços continuam em deflação, embora o IPC Subjacente aumente, enquanto os Preços Industriais aceleram o seu retrocesso. A guerra alfandegária com os EUA aumentará a pressão em baixa sobre os preços. Consideramos lógico que as autoridades introduzam novos estímulos, possivelmente de caráter fiscal, para impulsionar a economia e apoiar uma recuperação do consumo. O único aspeto positivo destes dados é a recuperação do IPC Subjacente.

JAPÃO (00:50 h): Os Preços Industriais sobem em alta em março: +4,2% a/a vs. +3,9% esp. e +4,1% em fevereiro (revisto desde +4,0%). Os setores onde estão os maiores aumentos são: Agricultura (+40,1% a/a), Metais não ferrosos (+12,3%) e Utilities (+6,4%). OPINIÃO: O indicador dececiona ao acelerar o seu crescimento e manter-se em níveis elevados. Além disso, implica um argumento para que o BoJ continue a subir taxas de juros (subiu +40 p.b. até +0,50% entre julho de 2024 e janeiro de 2025).

EUA (ontem): As Atas da Fed apontam para uma incerteza elevada, riscos em alta para a inflação e preocupação por uma inflação mais persistente. Na sua reunião de 18/19 de março, a Fed deixou as taxas de juros no intervalo 4,25%/4,50% e manteve a opinião de que, em 2025, fará duas descidas de taxas de juros até ao intervalo 3,75%/4,0%. Nas Atas, revela que os participantes perceberam maiores riscos em baixa para o emprego e crescimento, assim como riscos em alta para a inflação, enquanto indicaram que as suas perspetivas económicas estavam rodeadas por uma grande incerteza. Os membros do FOMC assinalaram que a incerteza sobre o efeito líquido das diversas políticas governamentais da agenda de Trump nas perspetivas económicas era alta, o que justificava uma atitude cautelosa. Enfatizando tal incerteza, a maioria apontou a possibilidade de que os efeitos inflacionistas derivados de diversos fatores foram mais persistentes do que o previsto. Além disso, alguns dos participantes advertiram que um aumento acentuado do risco nos mercados financeiros poderá exacerbar os efeitos de qualquer choque negativos na economia. Link para as Atas (em inglês). OPINIÃO:  As Atas da Fed enfatizam a elevada incerteza que enfrenta e a sua preocupação por uma inflação mais persistente do que o inicialmente esperado. O tom de cautela e preocupação pelos efeitos da agenda económica de Trump sobre a inflação são claramente vistos nestas Atas. A próxima reunião da Fed será a 7 de maior. O nosso cenário central contempla dois cortes de taxas de juros este ano, nas reuniões de setembro e dezembro. 

ALEMANHA (ontem): Acordo para formar governo de coligação na Alemanha. Os conservadores e os sociais-democratas fecharam o acordo de coligação que estavam a negociar há 27 dias para formar governo. Um contrato que chega mês e meio depois das eleições gerais (23 de fevereiro). O democrata-cristão Friedrich Merz, futuro Chanceler, afirmou que o acordo “é um sinal muito forte e claro para os seus cidadãos e para os seus sócios da União Europeia; Alemanha terá um governo forte e com capacidade para atuar”. OPINIÃO: Boas notícias. A 18 de março, antes da constituição do novo Bundestag surgido das urnas – constituído mais tarde, a 25 de março – Friedrich Merz conseguiu a aprovação parlamentar para novos estímulos fiscais. Estes incluíam três aspetos: (i) plano de infraestruturas de 500.000M €, (ii) isenção do limite da dívida para despesa em defesa superior a 1% do PIB e (iii) maior flexibilidade de endividamentos para os estados federais. Merz iniciará o seu mandato como Chanceler como um arsenal financeiro fantástico e com certa liberdade de movimentos para o seu governo.


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09/04/2025

Ontem: “Duas sessões diferentes: subida insegura na Europa, EUA continuam a sofrer.”

Após a pior série em baixa de 4 sessões desde a pandemia, ontem a Europa recuperava. Nenhum motivo objetivo além da procura de “oportunidades” após os fortes cortes acumulados e esperança, sem grandes fundamentos, de uma suavização da postura americana. O Japão está em conversações “construtivas” e ontem a Coreia do Sul juntou-se. Trump escrevia que a China será a próxima, brevemente… após elevar os seus impostos alfandegários em 50% adicionais até 104%. Nos EUA, estas notícias frustravam um início em alta do mercado, enquanto o T-Note, num claro movimento de risk-off, aumentava +10,9 p.b. até 4,295%. Este será o tom do mercado: movimentos erráticos ao som das notícias/rumores na frente comercial. É difícil ver uma recuperação sustentada do mercado até que se clarifique o panorama comercial: ou os impostos alfandegários diminuem ou diminui o crescimento económico e, portanto, os lucros. E quanto mais tarde, pior. Ontem, o Índice de Otimismo das pequenas empresas americanas caía pelo terceiro mês consecutivo. Perdia os avanços após a vitória de Trump e a esperança de descidas de impostos e desregulação. Sofria uma queda de +3,3 pontos até 97,4, abaixo da sua média de 51 anos e a maior queda desde junho de 2022. Em dezembro, situava-se em 105,1. Uma maioria de pequenos negócios declara maior incerteza e redução de expetativas de vendas. Apenas 3% espera aumentar as suas receitas em 2025. No setor de distribuição, por exemplo, estas empresas representam 90% do emprego. E este inquérito é anterior ao anúncio de impostos alfandegários a 2 de abril… A probabilidade de recessão aumenta. Petróleo bruto -3% (-18% em 8 sessões).

 

Hoje: “A forte crise de confiança continuará a cobrar.”

Dois bancos centrais com escassa relevância global, Nova Zelândia e Índia, cortaram taxas de juros. Já esperado, não tiveram grande impacto no mercado. na sessão, não há referências relevantes além das Atas da Fed da reunião de 19 de março (19 h), que não contribuirão com novidades visto que são anteriores ao anúncio dos impostos alfandegários. Então, a Fed cortou as suas previsões de crescimento para 2025 desde +2,1% até +1,7% e elevou as do Deflator do Consumo PCE desde +2,5% até +2,7%. Desde então, Powell e outros membros da Fed evitaram avaliar o impacto de umas medidas que ainda reconhecem desconhecidas em duração, amplitude e resposta recebida, embora Powell tenha declarado, na passada sexta-feira, que o impacto dos impostos alfandegários será maior do que o esperado e poderá ser mais persistente, colocando em risco as perspetivas de inflação a longo prazo. Teremos uma primeira impressão dessas perspetivas com o Indicador da Universidade de Michigan (inflação a 5/10 anos +2 décimas até +4,3%), na sexta-feira. Entretanto, o foco continuará na frente comercial. Hoje entram em vigor os impostos alfandegários sobre as importações da UE. Esta anunciará a sua resposta, que será escalonada com impostos alfandegários aos EUA a partir da próxima semana e novos em maio e dezembro. Entramos numa prova de medidas que, além da frente comercial, afeta os fluxos de capitais, a geopolítica, o ciclo e a sustentabilidade fiscal. Crises de confiança gerais que mantêm a volatilidade elevada, VIX >52%, perto de máximos de 53,5% durante a pandemia. O tom beligerante de Trump não faz pensar numa retificação a curto prazo. O seu limite de dor em termos de perda de atividade económica e em mercados parece elevado a curto prazo por causa do seu MAGA (Make America Great Again). É necessária uma retirada cautelosa, tal como anunciámos na segunda-feira.  Hoje a sessão volta a ter uma clara tendência de risk-off: refúgio nas obrigações (T-Note de madrugada +14,4 p.b. até 4,439), bolsas, dólar, petróleo bruto e outras matérias-primas em baixa.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

ÍNDIA (05:30 h): O Banco Central da Índia (RBI) baixa taxas de juros até 6,0% e aponta para novas descidas para os próximos meses.  O RBI baixa taxas de juros em -25 p.b. até 6,0%, numa decisão tomada por unanimidade. Este corte era esperado pelo mercado. Além disso, o RBI altera a consideração da sua política monetária para “acomodatícia” desde “neutral”, indicando que poderão acontecer novos cortes nos los próximos meses. OPINIÃO: Boas notícias. Índia cresceu +6,5% em 2024, o ritmo mais baixo desde a pandemia. A inflação situa-se em 3,61% vs. objetivo do RBI de 4% (com uma margem de +/-2%). A guerra alfandegária afetará negativamente o crescimento, a inflação está dentro do objetivo do RBI (4% com uma margem de +/-2%) e o petróleo está a debilitar-se, o que coloca o banco central numa posição confortável para continuar a aplicar novos cortes. O nosso cenário central contempla um novo corte, este ano, até 5,7%, mas não descartamos cortes adicionais para apoiar e estimular o crescimento, que se verá afetado pela guerra comercial. 

NOVA ZELÂNDIA (03:00 h): O Banco da Reserva da Nova Zelândia (RBNZ) baixa taxas de juros até 3,50%. O RBNZ baixa taxas de juros em -25 p.b até 3,50%. Desde agosto de 2024, o RBNZ baixou taxas de juros nas últimas cinco reuniões, um total de -200 p.b. OPINIÃO: Decisão esperada pelo mercado. O RBNZ considera que há margem para aplicar cortes adicionais. As barreiras comerciais globais debilitam as perspetivas de crescimento global e criam riscos em baixa para a economia da Nova Zelândia. O mercado espera que as taxas de juros poderão situar-se abaixo de 3% para o final do ano. 

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08/04/2025

Ontem: “Prolongam-se as quedas nas bolsas.”
Nova sessão em baixa nas bolsas, e foi a terceira consecutiva. Nova Iorque caiu -0,2% e a Europa -4,5%, acumulando -6,1% e -8,9%, respetivamente, depois de Trump, na quarta-feira passada, materializar um dos piores desenvolvimentos possíveis em relação aos impostos alfandegários. Em linha com este último ponto, ontem a Europa anunciou que está disposta a negociar enquanto contra-atacava com impostos alfandegários de 25% em produtos como o aço e alumínio. Trump também endureceu o tom com a China, afirmando que elevaria os impostos alfandegários adicionais até 50% se esta não eliminar a represália de 34% aos produtos americanos. Em suma, intensifica-se a guerra comercial e, neste contexto, as avaliações das bolsas estão questionadas e as secções longas das obrigações são as mais penalizadas: ontem T-Note +20 p.b. e Bund alemão +7 p.b. Insistimos que na renda fixa não há incentivos para assumir risco de crédito nem de duração. Além dos impostos alfandegários, ontem foi publicado o Índice de Confiança do Investidor Sentix europeu (-19,5 pontos vs. -9,0 esp. e -2,9 ant.), mostrando que as expetativas continuam a deteriorar-se.

 

Hoje: “Subida técnica, embora sem capacidade de se prolongar a curto prazo.”

Sem referências no plano macro, à primeira hora as bolsas no Japão sobem quase 5% perante as possíveis negociações com os EUA sobre impostos alfandegários. De momento, não há nenhuma concretização e a subida parece pouco apoiada. Também haverá intervenções de alguns membros de bancos centrais: del BCE Guindos (10 h), Holzmann (14 h), Cipollone (15 h) e da Fed Daly (19 h), embora não esperemos grandes novidades nesta frente. De momento, resta continuar a digerir o impacto da guerra comercial. O contexto mudou para pior e a debilidade nas bolsas prolongar-se-á durante um tempo. Hoje provavelmente haverá uma subida, embora sem força para se prolongar no tempo. As referências mais imediatas serão: IPC americano (Q; 13:30 h) e Confiança do Consumidor Universidade de Michigan (S; 15 h). A inflação desacelerará (+2,6% vs. +2,8% ant.), embora seja de março e não receba o impacto da guerra comercial. Por isso, a leitura ficará para segundo plano. A segunda referência cobra mais importância neste contexto, já que é o primeiro indicador adiantado de abril. Retrocederá, como já fez em março, até 54,0 pontos (desde 57,0) e a chave estará em analisar quanto tempo tardará esta debilidade a transferir-se para os indicadores intermédios (PMIs) e atrasados (IPC, Taxa de Desemprego)… 2/3 meses? E também onde se situam as expetativas de inflação a 1,5 e 10 anos. Atualmente estão em +5,0% e +4,1%, respetivamente. Veremos. 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

UE (ontem): O Sentix deteriora-se mais do que o esperado em abril. (i) O Índice de Confiança do Investidor Sentix cai até -19,5 pontos em abril vs. -9,0 estimado e -2,9 anterior. (ii) Vendas a Retalho: +2,3% em fevereiro (a/a) vs. +1,9% esperado e +1,8% anterior (revisto desde +1,5%). OPINIÃO: As Vendas a Retalho são ainda de fevereiro, portanto não refletem o impacto das medidas alfandegárias de Trump sobre o ciclo económico global. Apenas os indicadores adiantados e intermédios começam a refletir as consequências. É o caso do Sentix, que mostra uma deterioração significativa do sentimento investidor em abril e que poderá chegar a níveis de -40 pontos alcançados na COVID.

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04/04/2025

Ontem: “Sell-on em bolsas com dólar e petróleo em baixa e obrigações apoiadas como primeira reação à guerra comercial.”

A política comercial da Administração Trump, com um imposto alfandegário mínimo de 10% às importações ou até mais (20% para a Europa e 34% adicional para a China), cobra os mercados (bolsas, dólar e petróleo em baixa). As bolsas foram as principais danificadas com quedas que oscilam entre -3,5% (Europa), -4,9% (EUA) e -5,5% na tecnologia americana.

O mercado antecipa uma mudança para pior no ciclo (menos crescimento e mais inflação) que inevitavelmente se traduz numa deterioração dos resultados empresariais. Apenas os setores menos sensíveis ao ciclo/defensivo como as utilities (+3,0%) e o consumo básico (+0,1%) europeus evitaram as quedas. Além disso, a previsível reação de pelo menos uma parte dos países afetados implica um aumento do risco (probabilidade de recessão em alta). 
Neste contexto, as obrigações atuaram como ativo-refúgio (descidas de yield/subidas de preço) com a yield do Bund alemão a 10 A em 2,65% (-7 p.b.) e o T-Note americano em 4,04% (-9 p.b.).

 

Hoje: “Pendentes de Powell e Emprego americano, mas o mercado ficou abalado pelos impostos alfandegários de Trump.”

A visão macro de Powell (16:25 h) e o Emprego americano de março nos EUA (13:30 h) são as referências principais da sessão. O emprego poderá dar sintomas de debilitamento perante a perda de tração observada nos indicadores adiantados e intermédios da atividade (Confiança do Consumidor, ISM Industrial, Philly…). Espera-se uma ligeira queda na Criação de Emprego Não Agrícola até 140 k (vs. 151 k), que é o que acontece quando há incerteza, neste caso pela guerra comercial, e isso com os primeiros impostos alfandegários (aço e alumínio) que entraram em vigor a 4 de março. A política comercial americana e a previsível reação dos países como a UE ou a China entraram numa espiral perigosa para o ciclo. Insistimos que os impostos alfandegários prejudicam o comércio global, geram inflação e deterioram a confiança e o sentimento investidor. Isto é o que explica a correção das bolsas e a procura de ativos-refúgios como o ouro, que ronda máximos históricos (3.113 $). Neste contexto, é difícil que o mercado se recomponha se o fluxo de notícias não melhorar no plano comercial, algo que se antecipa difícil. Ásia avalia em baixa (-2,4% Japão) e o mais provável é que continuem as quedas na Europa e nos EUA. -0,4%/-0,6%? 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

ALEMANHA (07:00h): Pedidos à Fábrica (fevereiro): -0,2% a/a vs. +1,5% esperado vs. +0,1% anterior (revisto desde -2,6%). No mês, +0,0% vs. +3,4% esperado vs. -5,5% anterior (revisto desde -7,0%). OPINIÃO: A atividade industrial do país continua a registar quedas em pedidos industriais, afetada pela fraca procura global, especialmente na China, e a incerteza na frente alfandegária. A queda é geral em todas as categorias de produtos (intermédios -1,3% m/m, consumo -5,2%), enquanto os bens capitais recuperam um pouco (+1,5% m/m, após -9,7% no mês anterior). A imposição de impostos alfandegários por parte dos EUA a partir de abril continuará a penalizar o setor industrial, especialmente os automóveis, onde os empregadores já estimam uma perda de receitas para o setor de 200.000 M € em 2025.

ÍNDIA (06:00 h): O PMI Composto (final) de março é revisto para melhor.- Situa-se em 59,5 pontos face a 58,6 do dado preliminar e 58,8 anterior. Por sua vez, o PMI Serviços também é revisto em alta até 58,5 desde 57,7 do registo preliminar e 59,0 em fevereiro. OPINIÃO: Boas notícias que reforçam a nossa opinião positiva sobre a região. Apesar do PMI Serviços desacelerar ligeiramente face ao registo de fevereiro, situa-se amplamente em zona de expansão. Como referência, o Consumo Privado implica ca. 60% sobre o PIB e, na nossa opinião, acreditamos que continuará a apoiar o crescimento da economia, graças a: (i) crescimento da classe média, (ii) orçamentos 2025 claramente pró-crescimento, (iii) política monetária mais acomodatícia, (iv) situação favorável para substituir a China como produtor a nível mundial e (v) exposição limitada da economia ao setor exterior. Em relação a este último ponto, esperamos que os “impostos alfandegários recíprocos” anunciados pela administração tenham impacto mais limitado na Índia no que em outros países emergentes como China (tanto pela taxa aplicada como pela abertura da economia). Os impostos alfandegários para a Índia serão de 26% enquanto a China está com >60%... Portanto, acreditamos que a Índia poderá capturar fluxos estrangeiros procedentes de outras regiões emergentes e apoiar o mercado de renda variável a curto prazo. Índia é uma das nossas ideias de investimento incorporadas na nossa carteiras modelo de fundos. 

OPEP+/PETRÓLEO (ontem): A OPEP, na sua reunião mensal, acordou aumentar a produção a partir de maio em 411.000bd. Este resultado praticamente triplica o anunciado em abril: +138.000bd. A OPEP tem o objetivo de introduzir no mercado +2,2Mbd e, ao manter este aumento, conseguiria o objetivo em setembro deste ano face a julho de 2026 prognosticado em abril. Como referência, a OPEP+ (inclui outros países como Rússia ou México) produz 41Mbd. Link para o comunicado (em inglês). OPINIÃO: Notícia negativa para o petróleo, que caiu com muita força ontem (Brent 70,1 $, -6,4%, WT 66,9 $, -6,6%). Este aumento reflete a falta de consenso na OPEP. Em finais de março publicou um calendário que afetava 7 países, mediante o qual lhes obrigada a reduzir produção. Entre eles, Cazaquistão (está a produzir acima da sua quota: 1,767Mbd vs. 1,570Mbs e.), Rússia e Iraque. Portanto, é provável que a notícia de maior produção esteja a apontar para uma falta de consenso interna, o que lhes levou a aumentar produção a muitos deles. Na nossa opinião, o preço do petróleo moderar-se-á nos próximos anos devido à desaceleração económica, provocada, em grande parte, pela guerra alfandegária, o que impacta diretamente o crescimento e a inflação. Mas outros fatores impactam também, como a sobreprodução mundial (principalmente dos EUA), auge de energias alternativas e maior eficácia energética global. Tal como publicamos na nossa Estratégia Trimestral 2T 2025, estimamos que o Brent se situará em 68 $ no fecho de 2025 e em 65 $ no fecho de 2026. 

EUA (ontem): (i) O ISM de Serviços (março) sai abaixo do esperado: 50,8 vs. 52,9 esperado e 53,5 anterior. O ISM Serviços baixa mais do que o esperado em março, embora se mantenha em zona de expansão (>50). OPINIÃO: Entre as componentes, surpreendem os Preços Pagos, que caem face ao mês anterior e situam-se em 60,9 vs. 63,1 esp. e 62,6 ant. A componente de Novos Pedidos baixa mais do que o esperado: 50,4 vs. 51,9 esp. e 52,2 ant. Por último, o Emprego abranda significativamente até 46,2 vs. 53,0 esp. e 53,9 ant. O dado fraco do ISM de Serviços une-se aos resultados também fracos do ISM Industrial que conhecemos na segunda-feira. No conjunto, os dados apontam para uma queda em termos de atividade de serviços nos EUA e revelam o impacto no sentimento económico da guerra alfandegária e da incerteza geopolítica. (ii) A Balança Comercial (Bens e Serviços) de fevereiro apresenta um défice um pouco menor do que o esperado. A Balança Comercial dos EUA situa-se, em fevereiro, em -122.700M $ vs. -123.500M $ esperado e 130.700M $ anterior (revisto desde -131.400M $). As exportações crescem +4,8% (a/a), enquanto as importações +19,7% (+22,1% em Bens e +9,7% em Serviços). OPINIÃO: Os resultados da Balança Comercial dos EUA, apesar da ligeira melhoria do défice face ao mês anterior, mantêm-se em níveis mínimos históricos. Os dados, portanto, confirmam a tendência que já vimos na semana passada com a publicação da Balança Comercial de Bens. A forte atração das importações reflete a antecipação dos atores do mercado ao impacto da guerra alfandegária e faz prever um PIB 1T 2025 fraco (a nossa estimativa aponta para uma contração de -1,8%).

BCE/UE (ontem): As atas da última reunião do BCE (5/6 de março) não trazem grandes novidades. Conclusões das atas do BCE sobre a reunião de taxas de juros de 5/6 de março. As atas da última reunião do BCE (5/6 de março) não trazem grandes novidades face às mensagens conhecidas na reunião: (i) após ter realizado um corte de taxas de juros acumulado de -150 p.b. desde junho de 2024, a política monetária está a adotar uma orientação consideravelmente menos restritiva; (ii) O cenário macroeconómico, especialmente o relacionado com os EUA, apresenta um nível de incerteza muito elevado e a evolução para o futuro das exportações da UE é um importante foco de preocupação. Em todo o caso, o BCE reitera a sua visão de que, a médio prazo, a inflação estabilizar-se-á perto dos seus níveis de 2%; em relação ao crescimento, as projeções assinalam que a evolução do mesmo será a ritmo menor do que o antecipado em reuniões anteriores; (iii) No contexto atual, as decisões serão dependentes dos dados, tomadas a cada reunião e o BCE não se compromete de antemão com um roteiro preconcebido. Em suma, as atas mostram um cenário de elevada incerteza onde os membros do Comité não tomaram a decisão de baixar taxas de juros por unanimidade, embora por ampla maioria. A nossa previsão é que o BCE realize uma pausa no corte de taxas de juros na sua próxima reunião, a 17 de abril, para voltar a realizar uma descida em junho, que deixaria as taxas de juros em 2,25%/2,40% e seria a última de 2025. Link para o documento do BCE (em inglês).

UE (ontem): Os Preços de Produção (PPI) da UE (fevereiro) saem em linha com o esperado: +3,0% a/a vs. +3,0% esperado vs. +1,7% anterior (revisto desde +1,8%). Em dados m/m: +0,2% vs. +0,3% esperado vs. +0,7% anterior (revisto desde +0,8%). OPINIÃO: Os Preços Industriais situam-se em terreno positivo na UE pelo terceiro mês consecutivo (e após ter permanecido em negativo durante dois anos). Por componentes, destaca a subida dos Preços da Energia (+7,4% a/a), que implica a principal contribuição para a subida. De facto, excluindo o componente de Energia, os Preços Industriais sobem apenas +1,4% a/a. As subidas de Preços de Produção, apesar de ser um dado de fevereiro, são um sinal do potencial aumento das pressões inflacionistas a nível global no contexto geoestratégico atual.

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03/04/2025

Ontem: “Sessão de menos a mais à espera dos impostos alfandegários.”

As bolsas arrancaram com retrocessos gerais à espera de conhecer o alcance dos novos impostos alfandegários da Administração Trump. Contudo, durante a sessão, impôs-se a esperança de que o desenvolvimento fosse menos agressivo do que o temido (impostos alfandegários específicos vs. globais). Os EUA conseguiram fechar com avanços (+0,7%) e a Europa moderou as quedas (-0,3%). 

As obrigações viviam a mesma volatilidade. Começaram a sessão com retrocessos de yield (avanço de preços), para acabar a fechar com ligeiras subidas: Bund +3 p.b. até 2,72% e T-Note +2 p.b. até 4,19%.

Neste contexto, a macro passou despercebida. O Inquérito de Criação de Emprego no Setor Privado (ADP) recuperou em março mais do que o estimado (+155k vs. +120k esperado e +84k anterior). É um registo positivo, mas nos últimos meses a correlação deste indicador com a Criação de Emprego Não Agrícola (Payrolls) diminuiu notavelmente. Por isso, será fundamental esperar por sexta-feira para testar a força do mercado laboral americano.
Em suma, subidas ingénuas na bolsa à espera do anúncio de impostos alfandegários.


Hoje: “Trump opta pelo pior desenvolvimento possível.”

O “Liberation Day” salda-se com a opção mais agressiva. Trump anuncia um imposto global mínimo de 10% a todos os bens importados para os EUA e estabelece taxas específicas para uma lista de países. Entre eles, 20% para a Europa e 34% adicional à China. São más notícias que questionam o ciclo económico expansivo e implicam uma ameaça (em alta) para a inflação. É uma combinação complexa que complica as futuras decisões da Fed. As nossas estimativas apontam que o PIB americano do 1T 2025 irá contrair-se cerca de -1,8% enquanto a inflação manter-se-á perto de +3,0%. O mercado ficará abalado durante um tempo. Hoje as bolsas cairão enquanto as obrigações ganham atrativo como ativo-refúgio, e o dólar deprecia-se.

É publicada a Balança Comercial de fevereiro (13:30 h), que ganha interesse neste contexto. O Défice Comercial manter-se-á próximo de máximos históricos (-131.400M $) e levará a uma contribuição negativa do Setor Exterior no PIB do 1T 2025. A incerteza sobre o impacto definitivo dos impostos alfandegários provocou um forte aumento das Importações (+23% em janeiro), que não se viu igualado pelas Exportações (+4%). Esta evolução poderá entender-se como um ajuste pontual que daria lugar a uma normalização posterior. Contudo, múltiplos indicadores adiantados e intermédios (Confiança do Consumidor, Indicador Adiantado, Empire Manufacturing, Philly, ISM Industrial…) mostram uma mudança para pior nas suas últimas leituras e levam a antecipar um debilitamento do Consumo e do Investimento nos próximos meses. Por isso, será também importante o ISM de Serviços de março (15 h). Estima-se que se moderará (até 52,9 desde 53,5) enquanto a componente de preços acelera (63,0 desde 62,6). 

Em suma, más notícias. As dúvidas sobre o crescimento e o receio de um aumento da inflação travarão inevitavelmente o mercado. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

EUA (ontem): (i) O Presidente Donald Trump anunciou ontem a lista dos novos impostos alfandegários que irá impor aos países que comercializem com os EUA. Irá impor uma taxa universal de 10% de forma geral a todas as importações, e depois impostos alfandegários específicos aos países e bloqueios com os que tiver maior défice comercial. Os principais são os seguintes: União Europeia (20%); China (34%, adicional a 20% já existente); Japão (24%); Vietname (46%); Taiwan (32%); Índia (26%); Coreia do Sul (25%); Tailândia (36%); Suíça (31%); Indonésia (32%); Brasil e Reino Unido (10%). Em relação ao Canadá e México, mantêm 25% para as importações que não cumpram o Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC) e ficarão isentas as em cumprimento. Em relação à entrada em vigor dos mesmos, a taxa universal será a partir de 5 de abril, e o restante a partir de 9 de abril. Por setores, além dos impostos alfandegários ao aço, alumínio e aos automóveis (este último de 25% entra em vigor a partir de hoje), não há novidades, mas foi assinalado que irá ser estudada a imposição de impostos alfandegários específicos para semicondutores, produtos farmacêuticos e minerais. OPINIÃO: Os impostos alfandegários anunciados ontem à noite implicam um cenário mais negativo do que o mercado esperava e, portanto, a reação imediata da abertura do mercado hoje esperada é de quedas significativas das bolsas. Em suma, este cenário de guerra alfandegária e a espera da reação dos países afetados (a China e a UE fizeram declarações a este respeito) implica, a curto prazo, um agravamento do ciclo económico global e um aumento geral da inflação. As nossas estimativas apontam que o PIB americano do 1T 2025 irá contrair-se cerca de -1,8% enquanto a inflação se manterá perto de +3,0%. (ii) O Inquérito de Criação de Emprego no Setor Privado (ADP) recuperou mais do que o estimado em março, até +155k vs. +120k esperado. Além disso, o dado anterior foi revisto para melhor (+84k vs. +77k anterior). OPINIÃO: Dado positivo que aponta para um mercado laboral sólido. Contudo, nos últimos meses, a correlação deste dado com a Criação de Emprego Não Agrícola (Payrolls) diminuiu notavelmente. (iii) Os Pedidos à Fábrica avançaram +0,6% em fevereiro vs. +0,5% estimado vs. +1,8% anterior (revisto desde +1,7%). O dado final dos Pedidos de Bens Duráveis foi revisto ligeiramente para melhor, +1,0% em fevereiro vs. +0,9% preliminar e +3,3% anterior. Excluindo Transporte, o dado mantém-se em +0,7%, em linha com o registo preliminar e vs. +0,1% anterior. OPINIÃO: Dados ligeiramente melhores do que o estimado, mas que mostram um abrandamento da atividade no setor industrial.

EUA (ontem): A National Retail Federation (NRF) prevê um aumento nominal das vendas a retalho em 2025 de +2,7%/+3,7%% até 5,42/5,48 biliões $. As vendas a retalho excluem carros, gasolina e restaurantes. Em 2024, o crescimento foi de +3,6% até 5,29 biliões $, que coincide com a média dos 10 anos anteriores à pandemia. As vendas online crescerão +7%/+9% vs. +8,1% em 2024. As hipóteses subjacentes são um crescimento do PIB um pouco inferior a +2% vs. +2,8% em 2024 e um Deflator do Consumo Privado PCE estável em cerca de +2,5%. Link para a NRF (em inglês). OPINIÃO: Apesar das incertezas na frente comercial e da redução da imigração, a NFR espera que o consumo privado se mantenha apoiado pela força do emprego, crescimentos de salários em desaceleração, mas a manter níveis robustos, e uma situação financeira saneada das famílias. Como principais desafios, identifica a desaceleração dos rendimentos das famílias (moderação dos salários), situação precária dos segmentos baixos socioeconómicos e preços e taxas de juros elevados, que manterão um tom de cautela nos consumidores. Culpam o arranque fraco das vendas a retalho em janeiro e fevereiro (-0,8% e +0,5%, respetivamente, excluindo carros e gasolina) em uma moderação lógica após uma campanha de Natal forte (vendas +4% em novembro e dezembro) e clima excecionalmente frio nestes meses. A travagem da imigração desacelerará a criação de emprego e, portanto, o consumo, mas, pelo contrário, a desregularização em vários setores aliviará as cargas e restrições para as pequenas empresas, que representam 90% das empresas do setor. Outro risco que poderá impactar o consumo nos próximos meses são os impostos alfandegários. Com níveis de inflação mais elevados do que na ronda de impostos alfandegários de Trump em 2017 (+2,8% em fevereiro 2025 vs. +1,5% na altura, e níveis absolutos muito mais altos após a pandemia), o impacto agora seria maior. 50% das empresas inquiridas declaram que irão transferir para os preços pelo menos 2/3 do aumento de custos derivado dos impostos alfandegários. Outro risco é a concentração do consumo nos segmentos de rendas mais elevados (10% das famílias contribuiu com 50% do crescimento do consumo em 2024). Uma queda sustentada das bolsas impactaria o património destes segmentos que poderão reduzir a sua propensão ao consumo. O possível corte de impostos poderá ver-se compensado com uma menor base tributária e maiores taxas de juros a longo prazo devido ao seu impacto no défice público. Em suma, a NFR espera umas tendências de consumo a desacelerar, mas sustentadas em níveis próximos à média de longo prazo. Nós acreditamos que os riscos são vários e em baixa, que é mais realista do que vendas a retalho a situarem-se no intervalo baixo ou até abaixo em 2025. Os baixos níveis de Confiança atuais (Confiança do Consumidor em 92,9 em março vs. 109,5 em dezembro 2024 e uma média de 110,4 nos últimos 10 anos) apontam para uma travagem do consumo nos próximos meses. Outros indicadores como o da Universidade do Michigan, assim como as previsões de vendas para o ano por parte de várias empresas de consumo discricionário, e até básico como Walmart, também antecipam um exercício mais fraco do que o anterior. 

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02/04/2025

Ontem: “Recuperação nas bolsas apesar da disparidade da macro. Bom comportamento nas obrigações europeias.”

Bolsas em alta na Europa (+1,4%), impulsionadas por um IPC que desacelera em março até +2,2% a/a desde +2,3%, sem surpresas, enquanto a Taxa Subjacente cai até duas décimas, até +2,4% vs. +2,5% esp. A Taxa de Desemprego retrocede uma décima em fevereiro até 6,1% e situa-se no seu mínimo histórico. A bolsa americana abriu em baixa, mas fechou em positivo (+0,3%) apesar de uma macro fraca (ISM Industrial, onde nos preocupa a subida da componente de Preços Pagos; Vagas de Emprego JOLTS a debilitarem-se e colapso do Indicador de Serviços Fed de Dallas), são dados que, em general, ressaltam o impacto da guerra comercial (preços em alta, desaceleração da economia). 

Compra de obrigações num movimento impulsionado pelo retrocesso do IPC e pelo receio de uma desaceleração económica. Yield T-Note -5 p.b., Bund -5 p.b., 10A Itália -7 p.b., 10A Espanha -5 p.b. Estabilidade no euro que se apreciou ligeiramente face ao dólar (EURUSD 1,08, -0,2%). O ouro flutuou em baixa após as subidas recentes até 3.113 $/onça (-0,3%), embora hoje recupere +0,1%.

 

Hoje: “Incertezas perante o Liberation Day. Não haverá vencedores nem isentos para a imposição de impostos alfandegários.”

Hoje iremos assistir a uma sessão de quedas moderadas nas bolsas enquanto esperamos por conhecer, hoje (Liberation Day), os detalhes dos impostos alfandegários que os EUA aplicarão a todos os países. Os impostos alfandegários serão anunciados a partir das 21 h, após o fecho da bolsa de Nova Iorque, e entrarão em vigor imediatamente. Trump contempla os impostos alfandegários como uma arma para proteger a sua economia daquilo que considera uma concorrência injusta e como um instrumento de negociação. Acreditamos que a UE, e principalmente a Alemanha, podem implementar contramedidas que aumentarão o dano se a guerra comercial se intensificar. Hoje há várias intervenções de membros do BCE (Schnabel 11:30 h, Holzmann 14:00 h, Lane 13:05 h, Lagarde 16:00h). Veremos se fazem alguma declaração sobre futuros movimentos de taxas de juros, principalmente após os dados de inflação de ontem. Por isso, o mais razoável seria que o BCE aprovasse uma pausa na sua próxima reunião (17 de abril) para baixar apenas mais uma vez, provavelmente em junho (-25 p.b. até 2,25%). No plano macro, nos EUA, publica-se hoje o Inquérito de Emprego Privado ADP de março (esperam +120.000 novas contratações após aumentar apenas +77.000 em fevereiro) e os Pedidos à Fábrica de fevereiro, que se espera que moderem o seu crescimento para +0,5% vs. +1,7% em janeiro. Em suma, trata-se de dados que ficarão eclipsados pelas notícias sobre os impostos alfandegários. Para hoje, esperamos que as bolsas retrocedam enquanto esperamos por notícias sobre os impostos alfandegários, que serão conhecidos após o fecho das bolsas. Os futuros apontam que a Europa e Nova Iorque poderão abrir com quedas de -0,2%.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

ESPANHA (08:00 h): O número de desempregados descende em março em -13.311 pessoas. O dado contrasta com -5.994 pessoas em fevereiro e após +38.725 em janeiro. O número de desempregados situa-se em 2.580,1M de pessoas (-0,51% m/m e -5,4% a/a). Os afiliados corrigidos de sazonalidade à Segurança Social aumentam até 21,480M de pessoas (+23 mil trabalhadores, +0,11% m/m e +2,13% a/a). Link para o Ministério de Trabalho e Economia Social (em espanhol) e Link para o Ministério de Inclusão SS e Migrações (em espanhol). OPINIÃO: O número de desempregados reduz-se em março, acima da média dos últimos anos (-5.840 em março dos últimos 10 anos). Março é tradicionalmente um mês positivo na criação de emprego pela contratação para a Semana Santa. O número de afiliados à Segurança Social mantém-se acima de 21M desde março do ano passado. A Taxa de Desemprego implícita reduz-se ligeiramente até 10,7% vs. 10,8% anterior (vs. 10,61% da EPA do 4T 2024). Na nossa opinião, os níveis de Ocupação manterão uma tendência de melhoria, embora a um menor ritmo do que em exercícios anteriores. A Taxa de Desemprego continua a ser elevada na UE (em mínimo histórico, 6,1% fevereiro 2025), apesar das nossas maiores taxas de crescimento do PIB e longe de mínimos (7,9% em 2007). A médio prazo, a melhoria da Produtividade será fundamental para conter os Custos Laborais Unitários e para o crescimento perante a moderação no ritmo da Ocupação.

ALEMANHA (06:30 h): A Associação de Bancos alemã baixa a sua estimativa de crescimento do PIB em 2025 até +0,2% desde +0,7% previsto em setembro de 2024. OPINIÃO: A estimativa de +0,2% coincide com a nossa previsão de crescimento para o país. O pacote de estímulos fiscais (plano de infraestruturas de 500.000 M€ a 12 anos, isenção da despesa em defesa que supere 1% do PIB do cálculo do défice público e possibilidade dos Länder incorrerem em défices de 0,35% do seu PIB vs. 0% anteriormente) tardará meses a ser concebido, especialmente com um governo fragmentado, e não esperamos que tenha impacto no crescimento económico até 2026. As primeiras estimativas, à falta de maior concretização dos planos, é de um impacto no PIB alemão de +1% a partir de 2026 e potencialmente superior nos anos seguintes, dependendo do seu efeito multiplicador. A médio prazo, estas medidas estimularão tanto o crescimento cíclico como potencial. Contudo, a curto prazo, até que as medidas se realizem, o crescimento continuará penalizado pelas incertezas: a própria concretização dessas medidas e quais setores afetarão, assim como possíveis impostos alfandegários por parte dos EUA a partir de abril. Em 2025, prevemos um crescimento de PIB de +0,2% para o país e +1,4% em 2026 vs. -0,2% em 2024 e -0,3% em 2023.  

EUA (ontem): (i) O ISM Industrial foi fraco em março: 49,0 vs. 49,5 estimado e 50,3 anterior, portanto, situou-se na zona de contração económica (<50). Destacou especialmente a componente de Preços Pagos, visto que aumentou com força até ao nível mais alto desde meados de 2022: 69,4 vs. 64,6 estimado e 62,4 anterior. A componente Novos Pedidos também caiu com força: 45,2 vs. 48,2 estimado e 48,6 anterior. Por último, o Emprego abrandou até 44,7 vs. 47,3 estimado e 47,6 anterior. (ii) O PMI Industrial de março melhorou até 50,2 vs. preliminar 49,8. Contudo, também piorou face ao dado anterior, 52,7. (iii) As Vagas de Emprego Jolts reduziram-se até 7.568K vs. 7.658K estimado e 7.762K anterior (revisto desde 7.740K). O que refletiu uma moderação na criação de emprego. (iv) A Atividade de Serviços da Fed de Dallas também retrocedeu com força em março: -11,3 vs. +4,6 anterior. OPINIÃO: Dados fracos que apontam para uma queda em termos de atividade, tanto Industrial como de Serviços. O ISM Industrial piorou e fê-lo em todas as suas componentes: preços mais altos, menor contratação e moderação na criação de emprego. No conjunto, estes dados revelaram o impacto da guerra comercial: mais pressão de preços e desaceleração económica. 

UE (ontem): (i) O registo preliminar de Inflação de março desacelerou até +2,2% desde +2,3%, sem surpresas. Contudo, a Taxa Subjacente (que exclui os setores mais voláteis do indicador: alimentos e energia) caiu mais do que o esperado até +2,4% face a +2,5% esperado e +2,6% anterior. Link para a nota (em espanhol). (ii) A Taxa de Desemprego (fevereiro) moderou-se uma décima até 6,1% e situou-se em mínimos históricos. Link para a nota (em espanhol). OPINIÃO: A leitura dos resultados é positiva, embora, de momento, não recebam o impacto dos impostos alfandegários impostos pelos EUA. Os riscos em termos inflacionistas movem-se em alta e a probabilidade de aumentaram no 2S 2025 é elevada. Por este motivo, acreditamos que o mais razoável seria que o BCE aprovasse uma pausa na sua próxima reunião sobre taxas de juros (17 de abril) para avaliar o impacto destes impostos alfandegários. 

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01/04/2025

Ontem: “O receio da guerra comercial cobra as bolsas.”

Bolsas em negativo na Europa (-1,6%) e subida no final da sessão nos EUA (+0,5%). As declarações de Trump de que a nova ronda de impostos alfandegários (The Big One) que anunciará na quarta-feira (Liberation Day) se aplicará a todos os países e não apenas àqueles com maiores desequilíbrios comerciais com os EUA (Dirty Fifteen) é uma amostra da sua determinação de avançar com a guerra comercial na sua versão mais combativa. Tampouco ajudou o profit warning de Virgin Atlantic Airways, alertando uma fraca procura desde os EUA. Encerra-se um trimestre com um comportamento negativo para a bolsa americana: -5% e tecnologia -11%. Na Europa, com a aprovação de um histórico plano de estímulos fiscais e rácios de avaliação menos exigentes, o saldo é mais favorável (+7%).  

Movimento de ida e volta em obrigações na Europa. Abertura com rentabilidades em baixa (-7 p.b.) após o retrocesso do IPC alemão. Mas os rumores de que vários membros do BCE apostam numa pausa (em vez de uma descida) na reunião de 17 de abril resultou numa subida final de +1 p.b. (2,74%). Nos EUA, a yield do cede -4 p.b. até 4,20%.  

O euro debilita-se ligeiramente face ao dólar EURUSD 1,08 (-0,1%). E o ouro volta a subir (+1,3%) e alcança um novo máximo histórico (3.124$/onça).    

 

Hoje: “Inflação na UE. Impõe-se a cautela no prelúdio do Liberation Day.”

Sessão intensa em referências macro tanto na Europa como nos EUA. Da Europa veremos um novo retrocesso no IPC (2,2% vs. 2,3% ant.). A Taxa Subjacente também melhorará (+2,5% vs. +2,6% ant.), colocando-se no nível mais baixo desde antes da invasão da Ucrânia (janeiro de 2022). Para os próximos meses, a parte positiva é a esperada menor pressão da inflação de serviços graças à moderação em salários. A parte negativa é o impacto negativo derivado da guerra comercial (quantificado em +0,5% pelo BCE). Apesar destas melhorias em inflação, a incerteza sobre o impacto dos impostos alfandegários e dos estímulos fiscais, aconselha cautela no relaxamento da política monetária. E dos EUA temos novos indicadores a apontar para um debilitamento do ciclo. Por um lado, retrocesso no ISM Industrial (49,5 vs. 50,3 ant.) que entraria novamente em território de contração. Por outro, menores Vagas Disponíveis (7,6M vs. 7,7M ant.), revelando um arrefecimento da procura no mercado laboral. 
Em relação às bolsas, as medidas alfandegárias cobram os indicadores de sentimento e travam os avanços. Trump vê os impostos alfandegários como uma arma para proteger a sua economia do que considera uma injusta concorrência e como um instrumento de negociação. Mas ninguém ganha numa guerra comercial. Para hoje, esperamos uma sessão de cautela à espera dos detalhes da nova ronda de impostos alfandegários de amanhã (Liberation Day). A boa notícia de um menor IPC na UE ver-se-á prejudicada pela deterioração no ISM Industrial e menores Vagas nos EUA. No melhor dos casos, Europa poderá subir milimetricamente, seguindo Wall Street ontem, e EUA estabilizar-se. Os investidores preferem ficar à margem perante a possibilidade de uma versão penalizadora na frente comercial.      

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

REINO UNIDO (07:00 h): O Preço das Habitações repete em março +3,9% a/a vs. +4,2% estimado. Em termos mensais, mantém-se plano vs. +0,2% estimado e +0,4% anterior. O preço médio das habitações é 271.316GBP. OPINIÃO: Os preços não aumentam pela primeira vez em sete meses, afetados porque hoje termina uma isenção de impostos. 

AUSTRÁLIA (04:30 h): O Banco Central mantém as taxas de juros em 4,10%, em linha com as estimativas. OPINIÃO: A decisão não surpreende, visto que já reduziu -25 p.b. a 18 de fevereiro. O banco central considera que a descida contínua da inflação é positiva (+2,4% a/a fevereiro), mas existem elevados riscos, portanto mantém a cautela em relação às expetativas. A rentabilidade a 10 anos australiana aumentou ligeiramente +1,1p.b. até 4,37% e a sua bolsa lidera as subidas na Ásia, +1,0%.  

CHINA (02:45 h): O PMI Industrial Caixin melhor do que o esperado em março: 51,2 vs. 50,6 estimado e 50,8 anterior. OPINIÃO: Dados positivos, em linha com os PMIs oficiais publicados ontem. Dito isto, ainda não refletem o impacto dos impostos alfandegários e a deterioração no comércio internacional. 

JAPÃO (00:50 h): (i) A Taxa de Desemprego reduziu-se em fevereiro até 2,4% vs. 2,5% anterior. (ii) Indicador Tankan de Grandes Empresas. A Componente Industrial reduz-se até 12, coincidindo com expetativas, e 14 anterior. A Componente Expetativas situa-se em 12 vs. 9 estimado e 13 anterior. O Tankan Não Industrial: 35 vs. 33 estimado e anterior. A Componente Expetativas mantém-se em 28 vs. 29 estimado. Indicador Tankan de Pequenas Empresas. Industrial aumenta até 2 vs. -1 estimado e 1 anterior. A Componente Expetativas situa-se em -1 vs. -3 estimado e 0 anterior. O Tankan Não Industrial repete em 16 vs. 15 estimado. A Componente Expetativas aumenta até 9 desde 8 vs. 10 estimado. OPINIÃO: Dados positivos. A Confiança no Setor Industrial reduz-se, mas muito moderadamente, apesar do contexto complexo devido à tensão geopolítica internacional e guerra comercial. Além disso, a confiança nos setores-chave como Automóveis fortalece-se. Por outra parte, o indicador tanto em grandes como em pequenas empresas mantém-se em positivo, o que sugere que as empresas estão a reportar condições positivas para fazer negócios. Por último, as expetativas de inflação situam-se em 2% a longo prazo. Portanto, o Indicador Tankan não se vê especialmente afetado por um contexto alfandegário e pela perda de tração prevista nas exportações pela força do yen. O impacto em mercado destes indicadores foi moderado: o Nikkei avalia plano.

EUA (ontem): O PMI de Chicago surpreende positivamente após aumentar até 47,6 pontos em março (vs. 44,5 esperado vs. 45,5 ant.). Ainda assim, o indicador de atividade situa-se em zona de contração desde dezembro de 2023. OPINIÃO: É uma boa notícia, porque os indicadores mais recentes revelam uma perda de tração da economia americana (GDP Now da Fed de Atlanta, Confiança do Consumidor e Indicador Adiantado). 

ALEMANHA (ontem): A inflação (dado preliminar) enfraquece uma décima em março até +2,2% (vs. +2,2% esperado vs. +2,3% ant.). OPINIÃO: Hoje publica-se o IPC da UE (+2,3% esperado vs. +2,3% ant.). Por agora, a inflação melhora na Alemanha, Espanha (+2,3% vs. +3,0% ant.) e Portugal (+1,9% vs. 2,4% ant.); mantém-se estável na França (+0,8%) e aumenta na Itália (+2,0% vs. +1,6% ant.). 

PORTUGAL (ontem): IPC preliminar de março retrocede a +1,9% a/a (vs. +2,4% anterior). A Taxa Subjacente cai até +1,9% a/a (vs. +2,5% anterior). Em termos intermensais: +1,4% m/m (vs. -0,1% ant. e +2,0% no mesmo mês do ano passado) e a subjacente +1,8% m/m. OPINIÃO: Boas notícias para a economia portuguesa. Após um aumento no final do ano passado, quando a taxa geral alcançou +3,0%, o abrandamento da inflação é positivo. Esta moderação na taxa geral deve-se principalmente à queda dos preços dos produtos energéticos. Para finais do ano, as nossas estimativas apontam para +2,5%.

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28/03/2025

Ontem: “Nova sessão de debilidade nas bolsas, afetadas pelos anúncios de impostos alfandegários ao setor automóvel.”

Ontem, as bolsas continuaram com os cortes tanto na Europa como nos EUA (-0,57% e -0,33%, respetivamente), afetadas pelo anúncio dos impostos alfandegários de 25% ao setor automóvel conhecidos na noite anterior. As bolsas continuam a dar sinais de debilidade e elevada volatilidade fruto da escalada na guerra alfandegária e do seu impacto no ciclo económico global.

Na frente macro, conhecemos nos EUA o PIB final do 4T24, revisto em alta até +2,4% (t/t anualizado) desde +2,3% preliminar e +3,1% anterior, e a Balança Comercial de fevereiro, em que as exportações cresceram +2,4% a/a enquanto as importações +23% a/a, antecipando um dado fraco do PIB 1T´25 (GDPNow em inglês: -1,8%). Por parte dos bancos centrais, destacaram-se as declarações de Wunsch (BCE) a assinalar que seria lógica una pausa nas descidas de taxas de juros na próxima reunião do BCE.

Na renda fixa, tivemos uma sessão de ligeiros cortes de yields na Europa, com o Bund a fechar em +2,770% (-2,2pb) enquanto nos EUA a yield do T-Note fechou com subidas até +4,359% (+0,7pb face à sessão anterior). 

 

Hoje: “Sessão marcada pelo PCE dos EUA. O mercado continuará a arrefecer perante o atual contexto de incerteza.”

Na frente macro, a referência do dia será o PCE americano que, apesar de ser dado de fevereiro, espera-se que aumente uma décima na Taxa Subjacente (+2,7% esp. vs. +2,6% ant). A confirmar-se o aumento, não seriam boas notícias para o mercado e poderia servir de desculpa para novas quedas. Além disso, na Europa, conheceremos hoje os IPC de março de Espanha e França, na segunda-feira da Alemanha e na terça-feira da UE. Os dados são relevantes, já que serão fundamentais para marcar a decisão do BCE na sua próxima reunião.

Para a próxima semana, o foco estará na entrada em vigor dos novos impostos alfandegários dos EUA a partir de quarta-feira (e na resposta dos países afetados). Além disso, teremos macro relevante (ISM e dados de Emprego de março) e é mais provável que continue a mostrar a debilidade dos resultados que já vimos nos indicadores adiantados. 
Com tudo isto, o lógico é que o tom do mercado continue a arrefecer enquanto se mantém o atual contexto de incerteza geopolítica e macro fraca.


CONTEXTO ECONÓMICO. –

ESPANHA (08:00 h): (i) IPC preliminar de março retrocede para +2,3% a/a (vs. +2,6% esperado e desde +3% anterior). A Taxa Subjacente melhora até +2,0% a/a (vs. +2,1% esperado e +2,2% ant.). Em termos intermensais: +0,1% m/m (vs. +0,4% anterior e 0,8% no mesmo mês do ano passado) e a Subjacente +0,4% m/m. OPINIÃO: Boas notícias na taxa Geral e na Subjacente após o aumento na Geral no início do ano devido ao aumento superior ao esperado pelo aumento dos preços da eletricidade que compararam com uns especialmente baixos há um ano. Para o final do ano, as nossas estimativas apontam para +2,3%. (ii) O défice público de 2024 situou-se em -2,8% do PIB (incluindo o impacto das medidas para mitigar a DANA, teria se situado em -3,15% do PIB). As regras fiscais permitem-lhe excluir o impacto negativo de catástrofes naturais. Portanto, o défice elevou-se a -44.597M€ (-5.590M€ do impacto da DANA elevaria a necessidade de financiamento das administrações públicas a -50.187M€ vs. -52.669M€ em 2023. O resto dos recursos mobilizados pela DANA impactarão em 2025 conforme a implementação de medidas). Link para o documento (em espanhol). OPINIÃO: A melhoria do défice público desde -3,5% para -2,8% (-3,15% incluído o extraordinário das ajudas da DANA) apoia-se na boa evolução do mercado laboral e das Receitas fiscais +8,4% a/a, entre os quais o IRPF elevou-se a +7,6% a/a (129.408M€); Sociedades +11,5% (39.096M€) e o IVA +7,9% (90.541M€). As avaliações sociais +6,7%. Em conjunto, os Recursos crescem para +7,1% a/a e os Empregos não Financeiros para +6,2% a/a.

FRANÇA (07:45 h): IPC (fevereiro): +0,8% a/a vs. +0,9% esperado vs. +0,8% anterior. No mês, +0,2% vs. +0,3% esperado e +0,0% anterior. OPINIÃO: A inflação mantém-se em mínimos de quatro anos. A taxa de inflação francesa está há 7 meses consecutivos abaixo do objetivo do BCE de 2%. O preço da energia caiu -6,2% interanual, junto com os produtos manufaturados (-0,2%). Os componentes que mais contribuíram para o aumento dos preços foram os serviços (+2,3%) e o tabaco (+4,1%).

ALEMANHA (07:00 h): A Confiança do Consumidor (GFK) de abril sai pior do que o esperado: -24,5 vs. -22,5 esperado e -24,6 anterior (revista desde -24,47). OPINIÃO: Apesar do ligeiro aumento, esperava-se que a aprovação do histórico pacote de estímulos fiscais e a melhoria do indicador IFO de Clima Empresarial tivessem mais impacto na confiança dos consumidores alemães. Em relação a componentes, tanto as expetativas económicas como as receitas, assim como a disposição para comprar, mostraram melhorias. Contudo, o dado mantém-se quase sem alteração devido ao aumento da vontade de poupar. Pode ser interpretado como uma expressão da considerável incerteza que se mantém entre os consumidores. Ainda está por ver se as esperanças em relação a uma recuperação económica na Alemanha são realistas. A rápida formação de governo e a adoção precoce do orçamento deste ano seriam os fatores-chave para proporcionar maior segurança e fomentar uma maior disposição ao consumo. Link para o comunicado (em inglês).

EUA (ontem): (i) O PIB 4T 2024 foi revisto uma décima em alta graças à melhoria da Despesa Pública e Importações mais baixas. O PIB 4T 2024 (final, t/t anualizado) foi revisto até +2,4% face a +2,3% da segunda estimativa e +3,1% do 3T 2024. Por setores, a revisão para melhor do PIB explicou-se com uma Despesa Pública superior (+3,1% vs. +2,9% 2.ª estimativa) e umas importações mais baixas (-1,9% vs. -1,2%), já que o Consumo Privado (setor que implica >2/3 do total da economia) foi revisto em baixa até +4,0%. Em relação ao nível de preços, o Deflator situou-se em +2,3% vs. +2,4% na segunda estimativa. Em termos interanuais, o PIB 4T confirma +2,5%. OPINIÃO: Os resultados, de momento, apontam que os fundamentos da economia americana são sólidos, embora não tenham o impacto negativo da política alfandegária da Administração Trump. Por isso, o impacto no mercado após o dado foi limitado. Sem mudanças no nosso raciocínio, esperamos que a economia dos EUA mostre alguma deterioração em 2025 com taxas de crescimento mais modestas (PIB +1,6% vs. +2,4% ant.) e uma inflação em alta (+3,0% vs. +2,7%). Por esto último, as nossas estimativas têm apenas dois cortes de taxas de juros em 2025, até 3,75%/4,00%, e nenhuma em 2026. Link para a nota (em espanhol). (ii) A primeira estimativa da Balança Comercial (apenas de bens) de fevereiro mostrou um Défice Comercial superior ao esperado, mas a moderar-se pela primeira vez em quatro meses. O défice situou-se em -147.914M$ vs. -139.000M$ esperado e -155.572M$ anterior (revisto desde 153.263M$), com as exportações a crescer +2,5% a/a e as importações +22,5%. OPINIÃO: Más notícias que apontam para uma perda de tração da economia no 1T 2025, penalizado pelo setor exterior. As importações aumentaram com força nos últimos meses (+23% fev. 25, +26% jan. 25, +12% dez. 24, +10% nov. 24) com a chegada de Trump, adiantando-se à aplicação dos primeiros impostos alfandegários desde março. Destaca especialmente que os metais preciosos podem ser incluídos nas próximas rondas de impostos alfandegários. Contudo, a importação desta matéria-prima não é utilizada para o cálculo do PIB, portanto o impacto do défice comercial na atividade económica poderá não ser tão negativo como se esperava nas últimas semanas. 

UE/BCE (ontem): Pierre Wunsch (conselheiro belga do BCE) afirmou que o BCE deveria considerar manter as taxas de juros na sua próxima reunião (17 abril). O conselheiro confirmou que as políticas alfandegárias da Administração Trump são um cenário complicado para as descidas de taxas de juros do BCE. OPINIÃO: Discurso que coloca uma pausa para a próxima reunião de 17 de abril, em linha com o nosso cenário central. Na nossa opinião, seria o mais razoável, pelo menos até que se clarifique o impacto em preços de todas as políticas e medidas executadas nas frentes comercial e fiscal. Como comentávamos na última nota sobre a reunião de taxas de juros do BCE (em espanhol), a falta de confiança e incerteza que prejudica o consumo e o investimento não se resolveria com um maior relaxamento monetário, e acreditamos que o BCE preferirá guardar margem de manobra para atuar quando tiver mais confiança e visibilidade.

NORUEGA (ontem): O banco central (Norges Bank) manteve as taxas de juros, em linha com o esperado. A Taxa Diretora permanece em 4,50%. No comunicado, os membros do Norges Bank apontaram que aconteceriam descidas de taxas de juros em 2025 para alcançar níveis de 4,0% (vs. 3,75% esperado anteriormente). Nas suas projeções macroeconómicas, a inflação foi revista em alta: IPC Subjacente 2025e +3,4% vs. +2,7% esp. anteriormente e para 2026e até +2,9% vs. +2,7% e o crescimento ligeiramente em baixa: PIB 2025e +1,2% vs. +1,4% ant. e para 2026e +1,2% vs. +1,4%. Link para o comunicado oficial (em inglês). OPINIÃO: A decisão de taxas de juros refletiu que estas se manterão mais altas durante um pouco mais de tempo, que a incerteza é maior, os riscos pelo lado da inflação aumentam (IPC fevereiro +3,6% e Salários +5,6%) e que as taxas de crescimento serão previsivelmente um pouco mais modestas.

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27/03/2025

Ontem: “Bolsas em baixa, lideradas por tecnologia.”

As bolsas caíram ontem (Europa -1,2% e EUA -1,1%), lideradas por tecnologia e principalmente por semicondutores (-3,3%) após a publicação de um relatório a informar que Microsoft poderá estar a cancelar projetos de centros de dados nos EUA e na Europa perante o excesso de oferta de capacidade para Inteligência Artificial. Pelo contrário, o setor Defesa destacou-se positivamente, com subidas de +0,8% na Europa, após o governo do Reino Unido anunciar um aumento de despesa em defesa a partir de abril e com o objetivo de alcançar 2,5% do PIB em 2027 (vs. 2,3% atual). Para compensar esta maior despesa, reduzirá outros setores até alcançar poupanças de 4.800M GBP anuais (0,2% do PIB), o que permitiu conter a yield do Gilt (obrigação britânica a 10 anos) em níveis de 4,73%.
Foi uma sessão quase sem referências. Na frente macro, os Pedidos de Bens Duráveis nos EUA bateram estimativas, crescendo +0,9% m/m vs. -1,0% esperado e vs. +3,3% anterior (revisto desde +2,2%). Contudo, há que ter em conta que são dados de fevereiro e que, portanto, não refletem ainda o impacto das medidas alfandegárias de Trump, que começaram a ser anunciadas a 4 de março.

 

Hoje: “Trump não recua e impõe impostos alfandegários de 25% aos automóveis. Bolsas em baixa.”

Trump aprovou impostos alfandegários de 25% aos automóveis não fabricados nos EUA. A medida entrará em vigor a 3 de abril e Trump não se mostra aberto a negociações. Aumenta a preocupação em relação a uma possível guerra comercial, que pode travar o ciclo económico global. Isto é o mais importante hoje e provavelmente penalizará as bolsas. Também teremos, embora provavelmente sem capacidade de mudar o tom: (i) Cimeira em Paris, em que líderes principalmente europeus se reúnem com Zelensky para transmitir-lhe o seu apoio militar e financeiro à Ucrânia, para a negociação de um possível acordo de paz com a Rússia. Contudo, não esperamos grandes novidades. (ii) Dado final do PIB dos EUA do 4T, que se espera que confirme +2,3% preliminar (t/t anualizado) vs. +3,1% anterior macro. Continuam a ser dados atrasados e que, portanto, acrescem pouca visibilidade; (iii) Reunião do Norges Bank, que se espera que mantenha taxas de juros em 4,50%, à espera de conhecer o impacto dos impostos alfandegários sobre o crescimento na inflação.

Em suma, hoje as bolsas deverão cair perante o aumento das tensões comerciais e falta de visibilidade sobre as suas possíveis consequências. Insistimos: a única forma de reagir perante tanta incerteza é ao reduzir a exposição ao risco.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

REINO UNIDO (ontem): Anunciou um aumento do Orçamento em Defesa. Para isso, reduzirá Despesa Social. Baixou a sua estimativa de crescimento de PIB em 2025. A Ministra da Economia britânica, Rachel Reeves, anunciou um aumento da despesa militar a partir de abril. Nomeadamente, +2.200MGBP em 2025. Assim, a Despesa em Defesa alcançará 2,5% do PIB em 2027 (vs. 2,3% atual). Em paralelo, reduzirá -4.800MGBP a Despesa Pública até o final da legislatura (termina em 2029). Entre os cortes, contempla a redução do número de funcionários públicos em -10.000 até 2029, ou 1,9% do total, e a implementação de outras medidas de poupança nos ministérios para reduzir os custos em -15%. Esta redução de despesa afetará também outros setores como pessoas com deficiência ou cooperação internacional. Por outro lado, referiu um panorama para o Reino Unido marcado por um baixo crescimento económico. Em coerência, o Gabinete de Responsabilidade Orçamental, uma agência independente do governo e que controla os seus planos de despesa e receitas, estima agora que a economia do Reino Unido crescerá este ano metade do inicialmente previsto, +1,0%. As suas estimativas para os próximos anos são: +1,9% em 2026, +1,8% em 2027, +1,7% em 2028 e +1,8% em 2029. As nossas estimativas para o PIB são +1,2% a/a em 2025 e +1,5% em 2026. Link para o relatório (em inglês). OPINIÃO: Notícia positiva, porque contempla um aumento na Despesa em Defesa, mas que será compensado com uma redução da Despesa Pública, portanto, isto não deverá, a priori, ter impacto elevado nas suas contas públicas. Este é um dos objetivos do Reino Unido, num contexto de elevado volume de défice e dívida pública. Por outro lado, um menor crescimento económico previsto não é uma boa notícia, contudo, acompanhado de uma moderação dos preços como soubemos esta semana (Geral +2,8% vs. +3,0% anterior e Subjacente +3,5% desde +3,7%), pode sim propiciar que o BoE opte por reduzir taxas de juros até duas vezes este ano, até 4,00% desde 4,50% atual, como estimamos que acontecerá. Também é uma boa notícia que não tenha compensado esta maior despesa em Defesa com aumentos de impostos, embora não seja descartável que o anuncie nos próximos meses. E fê-lo recentemente ao apresentar o seu Orçamento 2025, que contemplava maior crescimento via Despesa Pública, mas também altos impostos que caíam sobre empresas, via aumentos de avaliações. De facto, há alguns indicadores do Setor Industrial que estão a refletir uma deterioração, como o PMI Industrial (44,6) ou a Produção Industrial (-1,5% a/a janeiro), em parte por este motivo. Nesta linha, ontem, o Primeiro-Ministro Keir Starmer não quis descartar uma descida na taxa às empresas de serviços digitais, o que reforça a possibilidade de procurar aumentar a arrecadação com outros impostos.

EUA (ontem): Pedidos de Bens Duráveis (fevereiro) melhores do que o esperado. Os Pedidos de Bens Duráveis recuperam com força em janeiro (dado preliminar) após subirem +0,9% m/m vs. -1,0% esperado e vs. +3,3% anterior (revisto desde +2,2%). Embora seja um dado volátil e se trave em fevereiro, está há dois meses em positivo. A evolução dos Pedidos, excluindo Transporte (+0,7% m/m vs. +0,2% esperado vs. +0,9% ant., revisto desde +0,8%), e especialmente o comportamento dos Equipamentos Elétricos (+2,0% m/m vs. -1,2% ant.). Pelo contrário, o negativo são os Bens de Capital que caem -1,5% m/m, embora não possamos ignorar a força que tiveram em janeiro (+10,5% m/m). Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO: Os resultados, no seu conjunto, são bons, porque o investimento empresarial melhora apesar de taxas de juros que se mantêm elevadas (Fed Funds em 4,25%/4,50%). Não prevemos novos cortes até setembro e dezembro (-25 p.b. de cada vez), quando a Fed deixará as taxas de juros em 3,75%/4,00%. 

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26/03/2025

Ontem: “A Confiança nos EUA deteriora-se, mas melhora na Alemanha. Sessão em alta.”

Europa subiu com alguma energia, animada por (i) a expetativa de menor agressividade nos impostos alfandegários. (ii) O cessar-fogo parcial no Mar Negro. (iii) A publicação do IFO de Clima Empresarial alemão (86,7 vs. 85,3 anterior). Os empresários são um pouco mais otimistas em relação à evolução da economia após a aprovação do Plano de Infraestruturas. Nos EUA, os avanços foram mais moderados. Avanços que ocorreram apesar da Confiança do Consumidor ter saído especialmente fraca (92,9 vs 100,1), a pior em quatro anos. E esta era uma das referências fundamentais da semana. Os consumidores temem um aumento dos preços derivados dos impostos alfandegários e uma deterioração da atividade económica. Além disso, vários indicadores da atividade industrial e de serviços da Fed de Richmond e Filadélfia mostraram perda de tração. Como temos insistido várias vezes, isto é fundamental, porque as referências de março podem antecipar uma mudança na economia. Algo que já aconteceu com outros dados, como na Confiança da Universidade de Michigan, o Empire Industrial ou o Philly.  

Apesar da debilidade da macro americana, vivemos uma sessão de subidas gerais nas bolsas e venda de obrigações europeias. O Euro estável em 1,079.


Hoje: “Tom ligeiramente em alta, à espera do Deflator do PCE.”

À primeira hora, a inflação no Reino Unido desacelera mais do que o esperado até: +2,8% vs. +2,9% esp. e +3,0% ant. com a Subjacente em +3,5% e +3,7% anterior. Boas notícias, embora se mantenha elevada pelos Serviços (+5,0%).  

Hoje é uma sessão sem referências. O mais relevante serão os Pedidos de Bens Duráveis nos EUA. Estima-se que descendam até -1,0% desde +3,2%, o que confirmaria um arrefecimento da atividade económica. Mas ao ser um dado de fevereiro, perde relevância. O realmente importante agora são os indicadores adiantados, especialmente de sentimento ou preços, capazes de antecipar uma mudança de tendência, para pior. Por isso, o mercado irá focar-se nos dados de inflação europeus de sexta-feira e, principalmente, no Deflator do Consumo (PCE) americano. É possível que ocorra um aumento, o que elevaria a expetativa de que a Fed não reduza as taxas de juros a curto prazo.

Portanto, numa sessão com poucas referências, o mais razoável é que as bolsas lateralizem, embora talvez com um tom bastante positivo após o bom registo de inflação no Reino Unido. Contudo, como comentámos na nossa Estratégia de Investimento (em espanhol; versão portuguesa brevemente disponível), acreditamos que o contexto se torne mais incerto, com crescimentos previsivelmente inferiores, mais inflação e lucros empresariais mais modestos.


CONTEXTO ECONÓMICO. –

ESPANHA (08:00 h): O crescimento do PIB final para o conjunto de 2024 confirma +3,2% a/a. No 4T 2024, confirma +0,8% t/t antecipado, embora ajuste ligeiramente o interanual para +3,4% a/a (-0,1pp) no último trimestre do ano. Link para o comunicado (em espanhol). OPINIÃO: A economia espanhola confirma a força do crescimento no exercício 2024, que não deixou de surpreender ao longo do ano. Impulso progressivamente crescente da Procura Interna. No conjunto do ano, a Procura Interna contribuiu com +2,8pp e o S. Exterior +0,4pp. As nossas projeções apontam para um crescimento +2,5% a/a em 2025; +1,9% em 2026.

REINO UNIDO (07:00 h): O IPC (fevereiro) situa-se abaixo do esperado: +2,8% a/a vs. +3,0% esperado e anterior. A Taxa Subjacente também sai um pouco melhor do que o esperado: +3,5% vs. +3,6% esp. e +3,7% ant. OPINIÃO: Surpresa positiva na inflação de fevereiro, que se situa abaixo das expetativas e rompe o aumento sofrido entre setembro (+1,7% a/a) e janeiro (+3,0%). Este dado reduz a pressão sobre o BoE para que continue a manter as taxas de juros elevadas. Nós esperamos que o BoE faça mais duas descidas de taxas de juros em 2025, nomeadamente -25 p.b. em agosto e também em novembro, para as situar em 4,00% desde 4,50% atual.

JAPÃO (23:50 h – terça-feira): Os Preços de Produção do Setor Serviços aumentam em fevereiro até +3,0% vs. +3,1% esperado e +3,2% anterior (revisto desde +3,1%). OPINIÃO: Dado em linha, mas com reduzido impacto. O corte de preços é coerente com a tendência em baixa do IPC (+3,7% a/a em fevereiro vs. +4,0% anterior). Neste contexto, os Preços de Produção (Serviços) mantêm-se elevados, em comparação com 1,7% de média dos últimos 5 anos. Consideramos razoável a estratégia de subir taxas de juros do BoJ, porque o IPC supera o objetivo (2,0%). Recordamos que a taxa de referência está agora em 0,50% e as nossas provisões refletem mais 2 subidas, em julho e outubro, de +25 p.b. cada uma, até 1,0%.

EUA (ontem): Conjunto de indicadores fracos para o ciclo: (i) a Confiança do Consumidor (março) dececiona ao moderar-se até 92,9 vs. 94,0 esperado e 100,1 anterior (revisto desde 98,3). Situa-se no nível mais baixo desde janeiro de 2021 e implica o quarto mês consecutivo a retroceder. Por componentes: (i) Situação Atual: 134,5 vs. 138,1 ant. (revisto desde 136,5); (ii) Expetativas: 65,2 vs. 74,8 ant. (revisto desde 72,9). (ii) Indicador Atividade Industrial Fed Richmond (março): -4 vs. 1 esp. e 6 ant. (iii) Indicador Atividade Serviços Fed Richmond (março): -6 vs. 13 ant. (iv) Indicador Atividade Serviços Fed Filadélfia (março): -32,5 vs. -13,1 anterior. Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO: Este registo mostra um maior pessimismo sobre a evolução da economia e, principalmente, da inflação após as primeiras medidas aplicadas por Trump. Maiores tensões alfandegárias não são boas para a própria economia americana e o momento de incerteza atual sobre este assunto vê-se refletido neste indicador. Esta mistura de registos fracos continua a semear dúvidas sobre a evolução da economia nestes próximos meses e da atuação da Fed. O nosso cenário aponta para duas descidas de taxas de juros de -25 p.b. cada uma, nas reuniões de setembro e dezembro deste ano, até ao intervalo 3,75%/4,00%. (v) Os Preços da Habitação Case-Shiller (janeiro) aumentam menos do que o previsto, até +4,67% a/a vs. +4,80% esperado e +4,52% anterior. Em termos intermensais (m/m); +0,46% vs. +0,40% esp. e +0,54% ant. (vi) As Vendas de Habitações Novas (fevereiro) aumentam até 676K vs. 680K esperado e 664K anterior (revisto desde 657K). Em termos intermensais (m/m); +1,8% vs. +3,5% esp. e -6,9% ant. (revisto desde -10,5%). Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO: Ambos os registos mostram alguma recuperação do mercado imobiliário americano, apesar de uma taxa hipotecária média a 30 anos que se situa em 6,7% (acima da média histórica: 5,2%). Uma melhoria deste setor dá argumentos à Fed para não se precipitar com mais descidas de taxas de juros. 

ALEMANHA (ontem): O indicador IFO de Clima Empresarial (março) melhora até 86,7, como se esperava, desde 85,3 anterior (revisto desde 85,2). Por componentes: (i) Situação Atual: 85,7 vs. 85,5 esp. e 85,0 ant. (ii) Expetativas: 87,7 vs. 87,3 esp. e 85,6 ant. (revisto desde 85,4). Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO: Notícia positiva, em linha com a melhoria da semana passada no indicador ZEW. Os empresários aumentam o otimismo sobre a evolução da economia após a aprovação, na semana passada, do histórico pacote de estímulos fiscais. Inclui o investimento em infraestruturas por 500.000M € em 12 anos, uma isenção do limite da dívida de toda a despesa em segurança superior a 1% sobre o PIB e a possibilidade de maior endividamento por parte dos estados alemães.

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25/03/2025

Ontem: “O mercado continua sujeito ao carrossel de notícias sobre impostos alfandegários. Vaivéns até 2 de abril.”

A esperança de uma abordagem mais suave nos EUA com os impostos alfandegários anima as bolsas… temporariamente na Europa. Embora até 2 de abril não haja nada definitivo, a expetativa de que os impostos alfandegários sejam mais específicos do que gerais e que, de momento, sejam recíprocos e dirigidos aos países com os quais tenha maior défice comercial (os chamados “Dirty 15” ou “worse offenders”), mas não a setores, faz pensar que o alcance dos impostos alfandegários será menos agressivo do que o temido. À última hora, Trump desfaz as declarações do seu gabinete e antecipa que anunciará impostos alfandegários sobre automóveis e farmacêuticas brevemente. As bolsas europeias desinflacionam-se. Os semis parecem que, de momento, se salvam e recuperam com força (Infineon +3,3%, ASML +2,1%, SOX +3,0%). Os PMIs são mistos. O PMI Composto da UE alcança em março o maior nível em 7 meses com base num PMI Industrial que melhora mais do que o esperado e um PMI de Serviços que enfraquece um pouco, mas mantém-se em zona de expansão. Nos EUA, o PMI Industrial entra em zona de contração, mas é mais do que compensado pela melhoria em Serviços. As obrigações mantêm-se estáveis na Europa, mas o T-Note aumenta +9 p.b. até 4,337%, num movimento para ativos de risco e pressão de primário em obrigações corporativas. €/$ quase sem alterações.  


Hoje: “Quanto terá se deteriorado a Confiança do Consumidor nos EUA? Essa será a chave da sessão, e não tem bom ar.”

Sessão intensa em indicadores macro, mas os que marcarão o tom serão o IFO alemão (9 h) e, principalmente, a Confiança do Consumidor dos EUA (14 h), ambos correspondentes a março. O 1.º, que inquire 9000 empresas de todos os setores, irá refletir a melhoria da componente de Expetativas após a aprovação do pacote de estímulos fiscais da semana passada, mas já descontado. O 2.º irá mostrar o nível de deterioração do sentimento dos consumidores americanos perante o aumento de preços que os impostos alfandegários e os cortes de emprego/despesa pública pelo departamento DOGE podem gerar. Espera-se que descenda pelo 4.º mês consecutivo até 93,6 desde 98,3 em fevereiro e 105,3 em janeiro. Seria o menor dado desde janeiro de 2021. Uma maior descida do que o esperado teria um impacto negativo nas bolsas, tendo em conta que o consumo representa ~2/3 do PIB e que é o pilar da economia americana. Difícil que acresça uma surpresa positiva. Portanto, continuamos em fase de reajuste de expetativas e às custas de notícias erráticas sobre impostos alfandegários até 2 de abril, chamado por Trump de “liberation day” ou dia em que os EUA se livrarão dos “abusos” cometidos pelos outros países. Esta frase da nossa Estratégia Trimestral 2T25 (em espanhol; brevemente em português) descreve muito bem a situação: “Se os riscos são superiores, o crescimento e os lucros são revistos em baixa, as perspetivas de inflação em alta e a informação é difícil de interpretar de forma fiável, o mais razoável é assumir um pouco menos de risco”. Este é o fundo. De momento, a sessão também aponta em baixa.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

EUA/SETOR PETRÓLEO (ontem): Anuncia a possibilidade de um imposto alfandegário de 25% sobre qualquer país que importe petróleo ou gás da Venezuela, diretamente ou através de terceiros. Trump anunciou esta medida chamada de “imposto alfandegário secundário” pelo “envio de dezenas de milhares de delinquentes para os EUA”, para posteriormente ser confirmada uma ordem executiva. Embora a entrada em vigor esteja fixada para 2 de abril, a sua aplicação não será imediata e estará sujeita à decisão do Secretário de Estado, Marco Rubio. Terá completa discricionariedade para impor estes impostos alfandegários aos países que importem petróleo ou gás da Venezuela, entre os quais China, principalmente através do mercado negro, Índia ou Espanha. De momento, exclui as limitações às suas multinacionais, o que beneficia diretamente Chevron. Além disso, Trump planeia anunciar nos próximos dias os impostos alfandegários sobre os automóveis e algumas exceções ou reduções nos impostos alfandegários recíprocos que iam entrar em vigor a 2 de abril. Também comentou que planeia impor impostos alfandegários sobre semis, madeira e farmacêuticas. OPINIÃO: Este novo anúncio aumenta o sentimento negativo para o comércio internacional. Má notícia para Espanha, visto que importa petróleo venezuelano: em 2024, 3MBarr. através de Repsol. Embora o impacto para Repsol pareça moderado, visto que, em 2024, produziu 571Mbarr. Recordemos que Repsol recebeu uma licença específica outorgada pelo Escritório de Controlo de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos EUA para desenvolver projetos de petróleo e gás na Venezuela. Como referência, Venezuela é o país que mais reservas de petróleo mundiais tem. Contudo, segundo o último relatório da OPEP, em fevereiro produziu 918MBarr. (2,2% produção da OPEP+).

SETOR AUTOMÓVEL EUROPEU (05:00 h).- As vendas de carros caem -3,4% a/a em fevereiro: alcançam 853.670 unidades. Entre os principais mercados destacam-se os retrocessos na Alemanha (-6,4%), Itália (-6,2%) e França (-0,7%). Espanha é a exceção positiva (+11%). Os elétricos recuperam após uma evolução fraca e avançam +23,7% no mês. Os híbridos avançam +19%, mas os híbridos plug-in retrocedem -1,4%. Os veículos a gasolina caem -22,4% e os a diesel -28,8%. OPINIÃO: Os registos prolongam uma evolução fraca. O crescimento na Europa continua a ser tímido (+1,2% PIB 4T 2024), os custos de financiamento ainda são elevados e continuam as dúvidas sobre o tipo de veículo a adquirir. Tudo isso pesa sobre os registos, que acumulam uma queda no ano de -3,0%.

EUA (ontem): PMI de março (preliminar): Industrial em zona de contração vs. surpresa em alta em Serviços.- O PMI Industrial retrocedeu até 49,8 (desde 52,7. e abaixo de 51,7 esp.), situando-se ligeiramente abaixo da zona de expansão. Pelo contrário, o indicador de Serviços melhorou até 54,3 (desde 51 ant. e esperado). O PMI Composto viu-se impulsionado até 53,5 desde 51,6 ant., superando expetativas de 50,9. OPINIÃO: A surpresa positiva em Serviços contrariou a descida, pior do que o antecipado, no Industrial. Estes indicadores iniciais de março, após a entrada em vigor dos primeiros impostos alfandegários (4 de março) são relevantes para antecipar a reação da economia americana no 1T 2025. 

UE (ontem): PMIs preliminares de março surpreenderam positivamente no Industrial.- O PMI Composto preliminar de março melhorou até 50,4 (+0,2 pontos, embora ligeiramente abaixo de 50,7 esperado) com surpresa positiva no Industrial até 48,7 (desde 47,6) e acima dos 48,2 esperado. Pelo contrário, Serviços 50,4 (desde -0,2 pontos) situou-se ligeiramente abaixo do esperado (51,1). Por países: (1) na FRANÇA, todos os PMIs surpreenderam em alta, especialmente o Industrial, embora não tenha alcançado a zona de Expansão. PMI Composto: 47 vs. 45,1 ant. (e 46,1 esp.). PMI Serviços: 46,6 vs. 45,3 ant. (46,0 esp.). PMI Industrial: 48,9 vs. 45,8 ant. (e 46,1 esp.). (2) Na ALEMANHA, o Industrial surpreendeu também em alta vs. descida em Serviços. PMI Composto: 50,9 vs. 50,4 ant. (e 51,1 esp.). PMI Serviços: 50,2 vs. 51,1 ant. (52,0 esp.). PMI Industrial: 48,3 vs. 46,5 ant. (e 47,0 esp.). OPINIÃO: Surpresa positiva nos PMIs Industriais europeus preliminares, apesar do aumento das tensões alfandegárias. Provavelmente a melhoria esteve associada às expetativas de maior despesa em Defesa. Em qualquer caso, nenhuma das leituras do Industrial alcançou ainda a zona de Expansão. A Zona Euro manteve-se em zona de Expansão em Serviços e no indicador Composto, igual à Alemanha, mas os dados de Serviços não cumpriram expetativas e moderaram-se em ambos os casos.

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21/03/2025

Ontem: “Bolsas em negativo, com quedas maiores na Europa do que nos EUA. O dólar recupera terreno.”

Quedas na bolsa na Europa (-1,0%) após quatro sessões consecutivas em positivo (+3,8% acumulado). O BCE estima em -0,5% o impacto em crescimento e em +0,5% o impacto no IPC da guerra comercial. Nos EUA, as bolsas foram de mais a menos e terminaram a fechar em negativo (-0,2%). Os avanços na abertura, animados por uma macro melhor do que o estimado (Vendas de Habitações Usadas, Petições Semanais de Desemprego, etc.) foram-se desvanecendo durante a sessão.

Sem grandes mudanças nas obrigações. Nos EUA, a confirmação de que, no diagrama de pontos da Fed, se mantêm as descidas de taxas de juros (-50 p.b.) permitiu alguma tranquilidade: T-Note -1 p.b. até 4,24%. Na Europa, Lagarde declara que as decisões de taxas de juros dependerão se os estímulos fiscais podem compensar o potencial dano causado pelos impostos alfandegários e do impacto destes dois fatores sobre preços. Bund -2 p.b. até 2,78%. 

Em divisas, fortalecimento da libra (EURGBP 0,837 -0,2%) perante o tom hawkish/duro do BoE, alertando sobre as subidas salariais e riscos sobre a inflação. O dólar recupera terreno (EURUSD 1,085 -0,6%). 

 

Hoje: “Ligeiros retrocessos nas bolsas com a atenção em Bundesrat e na Confiança Europeia.”

O Senado alemão (Bundesrat) dará o parecer final ao plano de estímulos fiscais: 500.000M € em infraestruturas, isenção do limite da dívida para a despesa em defesa superior a 1% do PIB e maior capacidade de endividamento para os estados federais. Esta mudança histórica referente a décadas de conservadorismo fiscal permite que as perspetivas do país passem do estancamento ao crescimento constante. Na frente macro, conheceremos a Confiança do Consumidor da UE, com ligeira melhoria (-13,0 vs. -13,6 ant.) graças aos estímulos que compensam as crescentes tensões comerciais.  

Em relação aos mercados, as medidas alfandegárias estão a cobrar os indicadores de sentimento e a travar o avanço das bolsas. Nos EUA, alguns membros do governo declararam que não estão dispostos a retificar as suas políticas para apoiar as bolsas. Na Europa, os estímulos fiscais permitem mais otimismo em relação ao crescimento e explicam o melhor comportamento. Por outro lado, a inflação preocupa ao estar acima do objetivo dos bancos centrais antes do impacto dos impostos alfandegários. Na reunião de quarta-feira, a Fed optou por um tom tranquilizador ao declarar que o impacto dos impostos alfandegários na inflação poderá ser transitório e manter as duas descidas de taxas de juros previstas (-50 p.b.) para o final do ano. Para hoje, esperamos uma sessão de ligeiros retrocessos. A aprovação do plano de estímulos pelo Bundesrat e a ligeira melhoria na Confiança na UE deverão estar já descontadas pelo mercado. A má receção no mercado after hours americano das guias de algumas empresas (Fedex -6%, Nike -5%) não ajudarão na sessão. As incertezas comerciais e geopolíticas cobram as bolsas. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

Hoje há Freaky Friday, isto é, vencimento de futuros e opções sobre índices e ações. EXPLICAÇÃO: O vencimento quádruplo de derivados ocorre na terceira sexta-feira de março, junho, setembro e dezembro. Nestes dias, decide-se se estes contratos de derivados devem expirar ou se devem ser renovados na data de vencimento seguinte (roll over). O vencimento é o dia limite para executar uma opção ou que vence um futuro. Geralmente (95% dos contratos) realiza-se um roll over durante a semana de vencimento, pelo que só 5% das opções se realizam na sexta-feira correspondente. Os futuros liquidam-se no fecho do mercado para evitar que, hipoteticamente, um vencimento de elevado valor (ou vários deles coordenadamente) distorçam o fecho de um índice. Os contratos são liquidados e renovados (ou não) às: 11h para o Euro Stoxx-50; 12h para o DAX; 13:30h para Wall Street (estão proibidos os futuros sobre ações, sendo apenas “Triple Witching”); 15h para o CAC-40; 15:15/15:45h para o Ibex-35. 16:35h para futuros sobre ações de MEFF.

JAPÃO (23:30 h – quinta-feira):  A inflação modera-se menos do que o previsto em fevereiro. - IPC: +3,7% a/a vs. +3,5% esperado e +4,0% anterior. A Taxa Subjacente: +2,6% a/a, igual ao estimado e +2,5% anterior. Excluindo apenas alimentos, +3,0% a/a vs. +2,9% esperado e +3,2% anterior. OPINIÃO: Após três meses de subidas, a inflação abranda, embora menos do que o esperado. Continua acima do objetivo do BoJ de 2%. Depois de manter as taxas de juros, na quarta-feira, em 0,50%, estes dados reforçam os argumentos para que o banco central continue com as subidas. Nomeadamente, estimamos que farão mais duas subidas (+25 p.b.), nas reuniões de julho e outubro, até que a taxa diretora alcance 1%. Notícia positiva para o yen, que se aprecia +0,37% até 161,94/ €.

EUA (ontem): (i) Indicador Adiantado: -0,3% em fevereiro (m/m) vs. -0,2% esperado e -0,2% (revisto desde -0,3%); (ii) Philadelphia Fed (Philly): 12,5 em março vs. 9,0 estimado e 18,1 anterior. OPINIÃO: O Indicador Adiantado acresce pouca visibilidade sobre o impacto das medidas de Trump. Retrocede uma décima a mais do que o esperado em fevereiro, embora devido, em grande parte, à revisão do dado anterior. O que já reflete os impostos alfandegários é o Índice de Atividade Industrial, elaborado pela Fed de Philadelphia, que cai, menos do que o estimado, atuando como apoio para a bolsa americana. Link para a nota (em espanhol). (iii) As Vendas de Habitações Usadas de fevereiro saem melhores do que o esperado: 4,26M vs. 3,95M esp. e 4,09M ant. (revisto desde 4,08M). OPINIÃO: Estes resultados implicam um crescimento de +4,2% m/m vs. -3,2% esp. e -4,7% ant. (revisto desde -4,9%). Contudo, nos dados anuais, o resultado cai -1,2% a/a, após quatro meses consecutivos de subidas. O dado torna-se conhecido mesmo após a publicação, na terça-feira, de Habitações Iniciadas e Autorizações de Construção que também descendem -2,9% a/a e -6,8% a/a, respetivamente. Os dados no seu conjunto refletem, portanto, uma progressiva perda de tração no mercado imobiliário dos EUA, num contexto de incerteza geopolítica e desaceleração do crescimento económico. Link para a nota (em espanhol). 

REINO UNIDO (ontem): O BoE (banco central) mantém a Taxa Diretora em 4,50%, tal e como se esperava. O Banco de Inglaterra (BoE) mantém a taxa de juro em 4,50%, em linha com o esperado. Portanto, o BoE realiza uma nova pausa no seu processo de descidas de taxas de juros (que resultou em três cortes de -25 p.b. em agosto e novembro de 2024 e fevereiro de 2025). Decisão não unânime: 8 membros do MPC (Comité de Política Monetária) votaram a favor da manutenção de taxas de juros face a 1 (Swati Dhingra) que estava a favor de baixar -25 p.b. OPINÃO: O BoE não dá surpresas e realiza uma nova pausa no seu processo de cortes de taxas de juros. Esta pausa também coincide com o aumento da inflação do mês de janeiro (+3,0%), que acresce novas dúvidas sobre as pressões em preços e salários e a capacidade do Comité de conseguir aproximar o IPC aos níveis objetivos de 2%. Em geral, o comunicado envia um claro sinal de que os membros do Comité são a favor de manter um posicionamento de cautela perante o cenário de fortes incertezas globais. Do nosso ponto de vista, o Comité de Política Monetária (MPC) realizará mais duas descidas de taxas de juros de -25 p.b. na última parte do ano de 2025 (coincidindo com o momento em que o BoE espera que comecem a enfraquecer as pressões inflacionistas) e uma em 2026. Link para o comunicado do BoE (em inglês). Link para a nota (em espanhol).

SUÍÇA (ontem): O banco central da Suíça (SNB) corta taxas de juros em -25 p.b. até +0,25%.  O quadro macro adianta um IPC médio para 2025 de +0,4% e de +0,8% para 2026. Em relação ao crescimento, o SNB espera um PIB de entre +1,0% e 1,5% para 2025 e de +1,5% para 2026. Link para o comunicado (em inglês). OPINIÃO: Sem pressões pelo lado dos preços (IPC +0,3%, Subjacente +0,9%), um crescimento abaixo do potencial (PIB 4T +1,5% a/a) e ameaça de crescentes tensões comerciais, o SNB decidiu continuar com o processo de relaxamento da sua política monetária. Após o corte de -50 p.b. em dezembro de 2024, volta a realizar um corte de -25 p.b. em março. Não esperamos novos cortes para o resto do ano.

SUÉCIA (ontem): O Riksbank mantém taxas de juros em 2,25%.  O banco central da Suécia mantém a taxa de juro de referência em 2,25%, igual ao estimado e anterior. OPINIÃO: Cumpre o guião e mantém taxas de juros sem alterações após realizar descidas continuadamente nas últimas 6 reuniões, desde 4,00%. Além disso, realça que não é uma pausa, mas o fim do ciclo de descidas. As suas estimativas até 2028 apontam para níveis estáveis no nível atual. 

BCE (ontem): Crisitine Lagarde, na sua comparência perante o Comité de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, declarou que o BCE estima que o impacto económico da guerra comercial na UE (assumindo impostos alfandegários de 25% por parte dos EUA) implicaria um impacto de 0,3% no PIB da Zona Euro no primeiro ano depois da sua imposição, e de -0,5% (considerando o efeito adicional tanto das medidas de represália dos EUA como um euro mais fraco pelos impostos alfandegários). Além disso, neste mesmo cenário, o BCE considera que a inflação se elevaria +0,5% adicional. Com isto, Lagarde indicou que o BCE continuará com uma abordagem dependente dos dados (que irá analisar a cada reunião) e não se compromete com uma trajetória de taxas de juros particular. OPINIÃO: As mensagens de Lagarde (junto com as declarações de Muller e de Centeno, que foram no mesmo sentido), revelam a preocupação do BCE em relação ao impacto dos impostos alfandegários dos EUA no crescimento e inflação da Zona Europa e, portanto, faz pensar que serão especialmente cautelosos para os futuros movimentos de taxas de juros. 

SETOR PETRÓLEO (ontem): A OPEP+ publica um novo calendário, mediante o qual obriga 7 países a aumentar produção. A OPEP+ publicou um novo calendário, que afeta 7 países, entre eles o Cazaquistão (está a produzir acima da sua quota: 1,767Mbd vs. 1,570Mbs e.), Rússia e Iraque. Obriga-os a reduzir a sua produção para compensar o excesso existente no mercado. Os cortes oscilam entre 189.000bd e 435.000bd, cortes que se prolongarão até junho de 2026. Como referência, a OPEP já anunciou que, a partir de abril, aumentará produção por mês em +138.000bd, até introduzir +2,2Mbd, aproximadamente em julho de 2026. Link para o documento (em inglês). OPINIÃO: Impacto reduzido no mercado, porque a OPEP perde credibilidade. A realidade é que, num momento em que supostamente iria introduzir mais petróleo, anuncia cortes. Cortes que também são difíceis de serem aceites por países como Rússia e Cazaquistão. Na nossa opinião, o preço do petróleo moderar-se-á nos próximos anos devido à desaceleração económica, particularmente da China (primeiro importador do petróleo do mundo), excesso de produção mundial (principalmente procedente dos EUA), auge de energias alternativas e maior eficácia energética global. Tal como publicamos na nossa Estratégia Trimestral 2025, estimamos que o Brent se situará em 68 $ no fecho de 2025, e 65 $ no fecho de 2026.


Todas as nossas notas macro disponíveis em: https://www.bankinter.pt/analise

 

20/03/2025

Ontem: “A Fed tranquilizou o mercado.”

A Fed manteve as taxas de juros, como esperado, em 4,25%/4,50%. A única novidade foi o ritmo de redução do balanço. A partir de abril, será diminuído em -40.000M$/mês (vs. -60.000M$/ant.). Em relação ao quadro macro, movimento esperado: estimativa de crescimento em baixa e de inflação em alta (todos os detalhes na nossa nota da reunião – em espanhol). O diagrama de pontos (dot-plot) sem alterações: 2 descidas em 2025 (em linha com a nossa estimativa). Em relação ao tom de Powell, foi tranquilizador. Atribuiu uma probabilidade baixa a um cenário de recessão, além de esperar que a pressão nos preços devido aos impostos alfandegários seja transitória. Em suma, a reunião serviu de alívio para o mercado (Nova Iorque +1,1%, T-Note 4,25% -3 p.b.), mas não acresce uma mudança de racional. Resta esperar e ver até que o contexto se torne menos incerto. 

Na Europa, tanto os Salários (+4,1% vs. +4,3% ant.) como os Custos Laborais (+3,7% vs. +4,5%) desaceleraram de forma significativa, oferecendo margem de manobra ao BCE e acrescentando argumentos à nossa tese de que o BCE poderá fazer uma pausa na próxima reunião. Os resultados serviram de catalisador para as bolsas europeias (+0,4%) e obrigações (Bund -2 p.b.). O €/$ em 1,09 (-0,4%). 

 

Hoje: “Continua o carrossel de bancos centrais (SNB, Riksbank e BoE). Atenção aos dados adiantados nos EUA.”

Hoje a atenção está nas reuniões dos bancos centrais da Suíça (SNB; -25 p.b. até 0,25%) e Suécia (Riksbank; manter em 2,25%) às 08:30 h, e Reino Unido (BoE; manter em 4,50%) às 12:00 h. O mais importante será este último, onde os conselheiros poderão usar um tom bastante hawkish/duro. Principalmente após os resultados de inflação (+3,0%) e Salários (+5,8% vs. +5,9% esp. vs. +6,0% anterior). Neste contexto, esperamos que o BoE faça mais 2 descidas em 2025, para fechar o ano em 4,0%. 

Para o resto da sessão, especial atenção aos indicadores adiantados nos EUA, principalmente o índice de Atividade Industrial na Filadélfia (9,0 esp. vs. 18,1 ant.). São resultados de março, portanto já incluem o impacto dos impostos alfandegários da administração Trump. Tudo aponta que os dados serão fracos, em linha com a Confiança da Universidade de Michigan (57,9 vs. 64,7 ant.) da passada sexta-feira ou o Índice Industrial da Fed de Nova Iorque (-19,3 vs. -10,5). A conclusão que estes indicadores retiram é que o ciclo começa a deteriorar-se, que a incerteza é maior e que o impacto da guerra comercial não é neutro. Por isso mesmo, acreditamos que o mais razoável é assumir posições um pouco mais defensivas.

Em suma, não esperamos grandes novidades dos bancos centrais, embora caso ocorra alguma surpresa, seja negativa, principalmente no Reino Unido. Os indicadores adiantados tampouco apontam em boa direção, o que deverá traduzir-se num tom negativo para a sessão. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

CHINA (01:00 h): Taxas de juros sem alterações. O PBOC mantém as taxas de juros que os bancos aplicam nos empréstimos a 1 e 5 anos em 3,1% e 3,6%, respetivamente. OPINIÃO: Cumpre as expetativas ao manter taxas de juros sem alterações pelo quinto mês consecutivo, embora avise que poderá voltar a baixá-las para compensar o efeito dos impostos alfandegários de Trump. A nossa estimativa é que fará uma descida de -35 p.b. este ano, até 2,75% e 3,25%.

ALEMANHA (07:00 h): Preços Industriais (IPP) +0,7% em fevereiro vs. +1,0% estimado e +0,5% anterior. Em termos intermensais, -0,2% vs. +0,1% estimado e -0,1% anterior. OPINIÃO: Os Preços Industriais aumentam menos do que o esperado, mostrando ainda pressões inflacionistas débeis. Há que considerar que este dado é de fevereiro, portanto não inclui o impacto de impostos alfandegários. Poderá aumentar a partir de março/abril.

REINO UNIDO (07:00 h): Taxa de Desemprego de janeiro repete em 4,4%, em linha com o esperado (vs. 4,4% esperado e 4,4% anterior). Por outro lado, os Salários Semanais também saíram em linha com o esperado: +5,8% vs. +5,8% esp. e +6,1% ant. (revisto desde +6,0%). OPINIÃO: A Taxa de Desemprego repete e confirma o atual arrefecimento no mercado laboral. O nível atual de desemprego está em máximos desde agosto de 2021. As taxas de juros ainda elevadas no Reino Unido, em 4,5%, afetam o crescimento económico e o mercado laboral, e não é descartável que os atuais níveis de desemprego se possam manter nos próximos meses.

EUA (ontem): A Fed mantém as taxas de juros de referência (Fed Funds) sem alterações, em 4,25%/4,50%, como esperado. Decisão unânime. A única novidade é o abrandamento no ritmo de redução do balanço. A partir de abril, reduzirão -40.000 M$/mês (-5.000M$/mês obrigações do Tesouro e 35.000M$/mês em Agência/MBS/títulos hipotecários) vs. -60.000M$ anterior (-25.000M$/mês obrigações do Tesouro e -35.000M$/mês Agências/MBS/títulos hipotecários). Link para o comunicado (em inglês). O FOMC revê em baixa as previsões de crescimento e em alta as da inflação. Mudanças em linha com o esperado. PIB 2025 +1,7% vs. +2,1% ant.; 2026 +1,8% vs. +2,0%; 2027 +1,8% vs. +1,9%; Longo prazo +1,8 (sem alterações). PCE 2025 +2,7% vs. +2,5% ant.; 2026 +2,2% vs. +2,1%; 2027 +2,0% (sem alterações); Longo prazo +2,0% (sem alterações). PCE Subjacente 2025 +2,8% vs. +2,5% ant.; 2026 +2,2% (sem alterações); 2027 2,0% (sem alterações). O diagrama de pontos (dot-plot), sem alterações: 2025: 3,75%/4,00% (-50 p.b.), 2026: 3,25%/3,50% (-50 p.b.), 2027: 3,00%/3,25% (-25 p.b.). A longo prazo estimam 3,00%. Link para as Projeções Económicas (em inglês). OPINIÃO: Tanto a decisão do FOMC como as posteriores declarações de Powell são tranquilizadoras. A economia mantém um tom robusto e os preços acusam transitoriamente a pressão ou a antecipação dos impostos alfandegários, mas as expetativas de inflação a longo prazo permanecem bem fixas, apesar de algum dado isolado (em referência às expetativas de inflação do Indicador da Universidade de Michigan). A Fed está numa boa posição para esperar que haja mais detalhes sobre o impacto das políticas da nova Administração nas frentes comercial, de imigração, fiscal e regulatória. A decisão de moderar o ritmo de redução do balanço não implica nenhuma alteração de política monetária nem de objetivo de tamanho do balanço da Fed. Em suma, mensagem tranquilizadora sobre o estado da economia e o provável caráter transitório dos impostos alfandegários, embora o nível de incerteza seja muito elevado. O diagrama de pontos não mostra alterações face ao anterior, de dezembro, refletindo que os membros do FOMC continuam convencidos de que o processo deflacionista continua e permitirá uma redução gradual das taxas de juros. Link para o relatório (em espanhol).

UE (ontem): Os Custos Laborais moderam-se significativamente no 4T 2024: +3,7% a/a vs. +4,5% anterior (revisto desde +4,6%). OPINIÃO: Este dado, elaborado por Eurostat, inclui todas as divisões de custos para empresas e trabalhadores. A sua moderação é fundamental para que a inflação de serviços (+3,7% em fevereiro) enfraqueça. Em paralelo, o IPC final da UE de fevereiro foi revisto 1 décima em baixa, até +2,3% a/a desde +2,5% anterior (revisto desde +2,4%). A Taxa Subjacente é confirmada em +2,6%. Ambos os indicadores afirmam a confiança do BCE de que será alcançado o objetivo de inflação de 2% em inícios de 2026, se as tensões comerciais não causarem constrangimentos.

BRASIL (ontem): O Banco Central do Brasil aumentou a Taxa Selic em +100 p.b. até 14,25%. Movimento esperado pelo banco central, que acumula +375 p.b. desde que regressou ao ciclo de subidas de taxas de juros, em 2024. Na segunda reunião do novo Presidente do BCB, Gabriel Galípolo, manteve um tom um pouco menos hawkish (duro) do que nas ocasiões anteriores. Antecipam uma nova subida na próxima reunião, a 7 de maio, mas não confirmam detalhes, apenas que será inferior a 100 p.b. das últimas três reuniões. No comunicado, o banco central referiu pela primeira vez os riscos para a economia brasileira da incerteza global pela guerra comercial de Trump e política monetária da Fed. OPINIÃO: O BCB continua com o seu processo de endurecimento das condições de financiamento para travar o aumento da inflação (+5,1% fevereiro 2025 vs. +4,8% dezembro 2024 e +3,7% abril 2024), que está agora acima da metade (+3%) do objetivo do banco central (+1,5/+4,5%). Também preocupa a depreciação do real brasileiro (-27% em 2024 vs. dólar), já que estava a prejudicar o investimento no país, embora este ano esteja a conseguir reverter a tendência (+9% em 2025). O tom menos hawkish do comunicado, assim como as referências ao contexto incerto e ao atraso no efeito da política monetária, faz-nos pensar que está próximo de finalizar o seu ciclo de subida de taxas de juros. Baixamos as nossas estimativas sobre os próximos movimentos de taxas de juros e esperamos que o BCB continue a aumentar as taxas de juros até 15,25% no 2T 2025 (vs. 15,50% anterior). Isto implica duas subidas de +50 p.b. nas próximas duas reuniões de maio e junho. Este é o cenário central desde que a economia não se veja penalizada em excesso pelo efeito do endurecimento da política monetária ou pelo impacto dos possíveis impostos alfandegários por parte dos EUA (supõe o seu segundo sócio comercial após a China). Link para o comunicado (em inglês). 

SETOR AÇO (ontem): A Comissão Europeia reforça a cláusula de salvaguarda para o aço, a partir de 1 de abril. A CE reforçará, a partir de 1 de abril, as medidas de salvaguarda do aço para garantir a sua eficácia, em resposta aos impostos alfandegários dos EUA, a 12 de março (25% a todas as importações de aço e alumínio). A CE trabalha numa nova cláusula de salvaguarda a longo prazo, para manter uma “proteção altamente eficaz” para o setor, já que a atual vence a meados de 2026. Além disso, transfere a intenção de introduzir uma cláusula semelhante posteriormente para o alumínio. Reforçam-se contigentes e quotas alfandegárias; além disso, recupera-se o mecanismo de ajuste de carbono na fronteira (CBAM) o “imposto climático”, para o qual será feita uma proposta legislativa para finais de 2025. Link para o comunicado (em inglês). OPINIÃO: A CE já anunciou que tomaria contramedidas aos impostos alfandegários estabelecidos por Trump a 12 de março (em duas fases, previstas para 1 de abril e meados de abril). As medidas anunciadas ontem tratam de evitar que os impostos alfandegários americanos ao aço e alumínio (25% a todo o mundo) transfiram o excesso de produção para a Europa, um mercado que sofre há anos a debilidade da procura e já conta com um elevado volume de importações. Além disso, a CE assinala que uma indústria de aço e metais forte é fundamental para o Plano de Rearmar a Europa.

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19/03/2025

Ontem: “Bom tom na Europa, mas EUA fracos devido a macro.”

Sessão mista. Na Europa, nova subida nas bolsas (+0,7%), yields planas (Bund 2,81%) e eurodólar em níveis de 1,095 (+0,2%) devido à forte melhoria do ZEW alemão (março) até se situar próximo de níveis pré-guerra da Ucrânia (51,6 desde 26,0 ant.). A melhoria da confiança deve-se à maior despesa prevista pelo governo do futuro Chanceler Merz, que inclui um pacote de 500.000M€ em infraestruturas e a isenção do limite da dívida para todas as despesas em segurança, em sentido amplo, superiores a 1% do PIB. Ontem foi o primeiro passo, com a aprovação no Bundestag (Congresso alemão) graças ao apoio de CSU/CDU, SPD e Verdes com 2/3 assentos, mas o importante será na sexta-feira com a ratificação no Bundesrat (Senado). Bom para defesa (em espanhol). Nos EUA, tanto yield (T-Note 4,29% -2 p.b.) como bolsas em baixa (-1,1%), especialmente a tecnologia (-1,7%), apesar da maior compra na história de Alphabet (empresa de cibersegurança – em espanhol – Wiz por 32.000M$), após um conjunto de indicadores macro mistos: Prod. Industrial +0,7% m/m vs. +0,3% ant., Preços Importação +2,0% a/a vs. +1,8% ant. e Ind. Serviços Fed Nova Iorque (março) -19,3 vs. -10,5 ant. Por último, poucas novidades entre Trump e Putin. Acordaram um cessar-fogo dos ataques sobre infraestruturas energéticas ucranianas durante 30 dias e convocaram uma próxima reunião no Médio Oriente.

 

Hoje: “Fed. Atenção ao tom, diagrama de pontos e quadro macro.” 

Começa a intensidade na política monetária. À primeira hoje, o BoJ manteve a taxa diretora em 0,50%, como se esperava, e enviou uma mensagem cautelosa. Apesar de uma inflação em +4% em janeiro, o banco central prefere esperar para ver como evoluem as tensões alfandegárias e as negociações salariais nas pequenas e médias empresas. O prato forte do dia será a reunião da Fed (18 h). Não esperamos movimentos de taxas de juros, situadas no intervalo 4,25%/4,50%, mas será especialmente importante tanto a revisão do quadro macro e o diagrama de pontos como a mensagem de Powell. É a oportunidade que cada conselheiro tem para se posicionar sobre as expetativas de descidas de taxas de juros (-50 p.b. 2025, -50 p.b. 2026 e -25 p.b. 2027, previsto em dezembro de 2024), num momento de dúvidas sobre o impacto das primeiras ameaças de Trump sobre política alfandegária (China, Canadá, México e UE) na economia americana. A lógica faz pensar que a Fed poderá rever as suas estimativas de crescimento em baixa e as de inflação em alta (link para as estimativas anteriores – em inglês). Neste cenário, pensamos num tom do discurso de Powell semelhante ao da sua última intervenção há duas semanas: (i) não estão preocupados com a economia; (ii) Não têm pressa no ciclo de descidas de taxas de juros e (iii) contexto mais incerto. Isto poderá arrefecer um pouco as expetativas de cortes do mercado e faz-nos pensar numa sessão de bolsas cautelosas antes da reunião da Fed. Caso se cumpra o cenário central, o lógico seria uma sessão de retrocessos na bolsa. 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

JAPÃO (23:50 h): (i) O Banco do Japão mantém taxas de juros em 0,50%, em linha com as estimativas. Após subir +25 p.b. em janeiro, o Banco do Japão decidiu manter taxas de juros em +0,50%. Em março de 2024, o BoJ abandonou um longo período de mais de oito anos de taxas de juros negativas (desde janeiro de 2016). No comunicado sobre a política monetária, acrescentou à lista de riscos sobre as suas perspetivas a incerteza sobre as políticas alfandegárias. Link para o comunicado (em inglês). OPINIÃO: O Banco do Japão preferiu manter as taxas de juros em 0,50% e não continuar com a normalização da sua política até ter mais detalhes sobre o resultado das negociações salariais internas e sobre o impacto na economia das crescentes tensões comerciais a nível global. Esperamos que, à medida que se consolide na economia o círculo virtuoso salários-preços, o BoJ continue com as subidas de taxas de juros na segunda metade do ano. Na semana passada, a negociação com o principal sindicato (Rengo) terminou com uma subida de salários de +5,46%. Estimamos duas novas subidas de taxas de juros até 1,0% para final do ano. O yen mantém-se estável face ao euro após esta decisão (EURJPOY 163,2). (ii) Balança Comercial (fevereiro): 584.500 M¥ vs. 688.300M¥ vs. -2.737 M¥ (revisto desde -2.758 M¥). Exportações +11,4% vs. +12,6% esperado vs. +7,3% anterior. Importações -0,7% vs. +0,8% esperado vs. -16,5% anterior. OPINIÃO: As Exportações aceleram perante o adiantamento de compras em antecipação à possível imposição de impostos alfandegários e depreciação do yen (-4,3% em fevereiro vs. $), devolvendo o superavit à Balança Comercial. No entanto, o ritmo de aumento das Exportações não parece sustentável perante os possíveis constrangimentos no comércio global devido às tensões comerciais entre os EUA e o resto do mundo. É de ressaltar que as Exportações para os EUA aumentaram +10,5% em termos monetários, mas diminuíram -3,3% em termos de volume. O superavit comercial com este país alcançou 918.800 M¥, +29% a/a. 

ALEMANHA (ontem): (i) O inquérito ZEW de Sentimento Económico volta a aumentar em março. ZEW Expetativas: 51,6 vs. 48,3 esperado e 26,0 anterior. A componente Atual estabiliza-se em -87,6 vs. -88,5 em fevereiro e compara negativamente contra -80,5 esp. OPINIÃO: O Sentimento Económico volta a melhorar com força após o dado de fevereiro, que também foi positivo e gera otimismo. A melhoria reflete as expetativas de um aumento da despesa (e défice) pública em infraestruturas e defesa após as recentes eleições gerais, o acordo alcançado para adotar uma política orçamental mais laxa do que em anos anteriores e as duas descidas de taxas de juros que o BCE realizou em 2024 (Crédito -45 p.b. até 2,65%, Depósito -50 p.b. até 2,50%), medidas que contribuirão para impulsionar o PIB da Alemanha, que em 2024 se contraiu (-0,2% a/a) pelo segundo ano consecutivo. Esta semana, a OCDE reviu em baixa a sua estimativa de PIB para a Alemanha até um crescimento de +0,4% em 2025 desde +0,7%. Para 2026, espera que cresça +1,1%. Link para a nota (em espanhol). (ii) O Bundestag (Congresso alemão) aprova o pacote de estímulos para a economia. Como se esperava após ser anunciado, na sexta-feira, um acordo entre o CDU/CSU de Merz (candidato a Chanceler), SPD e Verdes, alcançando 2/3 dos votos da câmara. Implica um investimento de 500.000M€ em infraestruturas a 12 anos (dos quais 100.000M€ serão destinados aos governos dos 16 estados alemães, e outros 100.000M€ a políticas ambientais e de transformação energética) e a isenção do limite da dívida para todas as despesas em segurança, no sentido amplo, superiores a 1% do PIB. Além disso, os estados poderão endividar-se até 0,35% do PIB vs. 0% antes, o que implicaria uma capacidade de despesa extra de 16.000M€. OPINIÃO: Notícias positivas. Tanto CDU como SPD procuravam alcançar um acordo neste tema antes da constituição do novo parlamento, a 25 de março, já que com a nova composição fruto das eleições de 23 de fevereiro, não teriam apoios suficientes para poder aprovar estas medidas. Na sexta-feira, será a vez do Senado ratificar este pacote de estímulos, que também se espera que ocorra sem obstáculos graças ao facto de, na segunda-feira, o partido Bavarian Free Voters ter dado a sua aprovação. Caso avance, o plano de infraestruturas e a potencial maior despesa dos estados representam 1,3% do PIB alemão. Além disso, atualmente, Alemanha gasta em defesa ~2% do PIB, dos quais não são considerados no “limite da dívida” tudo o que supere 1% do PIB, liberando como mínimo outros 43.000M€ (assumindo que não aumentam a despesa atual de 2% do PIB). O impacto agregado potencial, sem assumir o efeito multiplicador que estas investigações/despesa podem ter na economia alemã a médio prazo, é de 2,3% do PIB.

EUA (ontem): (i) As Habitações Iniciadas recuperam em fevereiro e crescem mais do que o esperado, alcançando os níveis de dezembro (1.501k vs. 1.386k esp. e 1.366k ant.), um aumento de +11,2% m/m, mas caem -2,9% na taxa interanual. A construção esteve penalizada em janeiro por uma climatologia adversa que não se repetiu em fevereiro e por uma oferta de habitação nova que se estima que esteja em máximos desde 2007. (ii) As Autorizações de Construção retrocedem em linha com o esperado: 1.456k vs. 1.453k esperado e compara face aos 1.473k do mês anterior. No mês, retrocedem -1,2%, e em termos interanuais caem -11,0%. OPINIÃO: São dados que não impactarão no mercado. Apesar do aumento de vendas em fevereiro, a perda de tração é progressiva no mercado imobiliário dos EUA. Apesar desta debilidade e dado o contexto de inflação ainda elevada, continuamos a pensar que a Fed não voltará a baixar taxas de juros até à parte final de 2025. Link para a nota (em espanhol). (iii) A Produção Industrial volta a bater expetativas em fevereiro: +0,8% m/m vs. +0,2% estimado e +0,3% anterior (revisto em baixa desde +0,5%). (iv) A Produção Industrial também bate o esperado e aumenta até +0,9% m/m vs. +0,3% estimado e +0,1% anterior (revisto desde -0,1%), impulsionada especialmente pelo aumento na produção de carros, após o retrocesso de janeiro. Por setores, destaca positivamente os bens duráveis, particularmente carros e aeroespacial e o setor mineiro. Pela parte negativa, destaca o retrocesso das utilities. (v) A Capacidade Produtiva aumenta ligeiramente até 78,2% vs. 77,8% estimado e 77,7% anterior (revisto desde 77,8%). OPINIÃO: São dados moderadamente positivos que revelam a resiliência da economia americana (PIB t/t anualizado 4T 2024 +2,3%) que se beneficia por um contexto de taxas de juros em baixa após três descidas de taxas de juros por parte da Fed (-100 p.b. entre setembro e dezembro de 2024) e de um mercado laboral muito sólido (Taxa de Desemprego fevereiro 4,1%). Link para a nota (em espanhol).

 

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18/03/2025

Ontem: “Alívio após Vendas a Retalho “decentes” nos EUA.”

As bolsas recebem com alívio umas Vendas a Retalho nos EUA que apontam para um consumo resiliente. As vendas aumentam menos do que o esperado em fevereiro e o dado de janeiro é revisto em baixa (ver Contexto), mas o Grupo de Controlo, que é o dado usado pelo governo para o cálculo do PIB, aumenta +1% (vs. +0,4% esperado vs. -1% anterior). O dado reflete uma aparente solidez do consumo, mas há que considerar que o dado não reflete ainda a imposição de impostos alfandegários a partir de 4 de março que, desde então, elevou as expetativas de inflação e minou a confiança, como apontam os indicadores adiantados, como o Indicador de Michigan, na sexta-feira. O Empire Manufacturing, outro indicador adiantado, deteriora-se até -20,0 (vs. -1,9 esperado e uma média de 6,5 desde 2000). As exceções na subida das bolsas são as grandes tecnológicas que retrocedem –1,0%, prejudicadas principalmente por Tesla (-4,8%). As yields das obrigações a 10 anos relaxam, mais evidentemente na Europa (Bund -5,7 p.b. até 2,817%; T-Note -1,4 p.b. até 4,30%); as taxas a curto prazo quase não se movem perante a expetativa de que os bancos centrais não modifiquem as suas taxas de juros ao longo da semana. O €/$ mantém-se no seu intervalo alto de avaliação recente (1,092). 


Hoje: “Foco no Bundestag e na reunião Trump-Putin.”  

Fora do plano convencional, hoje a atenção estará no Congresso alemão (Bundestag), onde deverão ser aprovadas as medidas de estímulo propostas pelo futuro Chanceler, F. Merz (CDU), com o apoio de SPD e Verdes, que conjuntamente superam os 2/3 necessários para a aprovação. Na sexta-feira, o plano será ratificado no Senado (Bundesrat), onde o apoio do partido Bavarian Free Voters dará luz verde ao projeto. Em segundo lugar, Trump falará com Putin por chamada telefónica sobre um possível cessar-fogo na Ucrânia. Apesar do aparente otimismo norte-americano, as exigências prévias da Rússia parecem inaceitáveis e hoje o desenvolvimento (ou, melhor, não desenvolvimento) poderá implicar um jarro de água fria. Por isso, o plano de infraestruturas e defesa alemão chega num momento crítico para a economia e geoestratégia europeia, mas a sua implementação não será imediata. Resta recordar que a Alemanha representa 28% do PIB da UE. E essa esperança de que as coisas eventualmente irão melhorar após 2 anos de recessão refletir-se-á no ZEW alemão, que se espera que mostre uma melhoria considerável em março como primeiro dado após as eleições de 23 de fevereiro que dissiparam a incerteza política. Em suma, sessão provavelmente de duas vias: mais positiva na Europa do que nos EUA, mas sujeita ao resultado sobre a Ucrânia. 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

EUA: (i) Recuperação de Vendas a Retalho menor do que o esperado em fevereiro após a queda de janeiro. As Vendas a Retalho dececionaram em fevereiro: +0,2% m/m vs. +0,6% est. Além disso, o registo de janeiro é revisto para pior (-1,2% vs. -0,9% preliminar). Os dados de janeiro estão negativamente afetados por uma climatologia adversa e fracas vendas de carros. O adiantamento de compras perante a entrada em vigor de certos impostos alfandegários favorece o avanço de fevereiro. O Grupo de Controlo (com maior impacto no PIB) situa-se em +1,0% vs. +0,4% est. e -1,0% ant. (revisto desde -0,8%). A evolução dos próximos meses será mais moderada perante um menor crescimento na renda disponível e a deterioração na Confiança do Consumidor (Uni. Michigan 57,9 em março vs. 64,7 ant). Link para a nota (em espanhol). (ii) Forte retrocesso do Indicador de Atividade Industrial do Estado de Nova Iorque (Empire Manufacturing) em março. Situa-se em -20,0 vs. -1,9 est. e 5,7 ant., o que implica o nível mais baixo desde inícios de 2024. A Componente de Preços Pagos alcança 44,9, o nível mais alto em dois anos. A Componente de Novos Pedidos retrocede até -14,5 vs. 11,4 ant. A forte deterioração deste indicador em março é um reflexo de que a crescente incerteza está a cobrar não só os consumidores, mas também o setor industrial. 

GLOBAL: A OCDE revê em baixa as estimativas de crescimento global, e em alta as de inflação para 2025 e 2026. A estimativa de crescimento global para 2025 situa-se agora em +3,1% desde 3,3% ant., e para 2026 em +3,0% desde +3,3% ant. Canadá e México são as economias mais negativamente afetadas devido ao impacto das crescentes tensões alfandegárias. Nos EUA, o crescimento seria agora de +2,2% para 2025 (+2,4% ant.) e de +1,6% para 2026 (2,1% ant.). Para Espanha, revê-se em alta até +2,6% para 2025 (2,3% ant.) e +2,1% para 2026 (2,0% ant.). Em relação às estimativas de inflação, destaca o aumento esperado para os EUA: +2,8% para 2025 desde +2,1% ant., e para 2026: +2,6% desde +2,0% ant. Na UE, a inflação seria de 2,2% em 2025 (2,1% ant.) e manter-se-ia sem alterações para 2026, em 2,0%  Link para o relatório OCDE (em inglês). 

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14/03/2025

Ontem: “Bolsas em baixa, porque intensifica-se a guerra comercial e Putin coloca condições para um cessar-fogo.”

A escalada na tensão comercial volta a cobrar as bolsas, que registaram quedas entre -0,6% (Europa), -1,3% (EUA) e -1,9% na tecnologia americana. O presidente Trump ameaçou, ontem, impor impostos alfandegários de até 200% a bebidas alcoólicas da UE, daí a queda em Pernod Ricard (-4,0%). Serão os automóveis os próximos? No plano geopolítico, Rússia exigiu negociar certas condições antes de aceitar o cessar-fogo proposto pelos EUA e previamente aceite por Ucrânia. Como se não bastasse, no debate de Bundestag alemão, o plano para aumentar o investimento em defesa e infraestruturas (500.000 M€) recebeu duras críticas dos verdes, que são necessários para elevar o limite da dívida. Resta acordar que o plano de investimentos é fundamental para impulsionar a 1.ª economia da UE. A contrapartida é um aumento do défice e custo de financiamento. Por este motivo, a yield do Bund alemão a 10 anos dirige-se para 3,0% (2,85% ontem vs. 2,50% em fevereiro) e também tem consequências para os restantes países (a obrigação italiana já está em 4,0%).

 

Hoje: “É difícil que o mercado se recomponha sem que o fluxo de notícias da frente empresarial-geopolítica melhore.”

A Confiança do Consumidor da Univ. de Michigan de março nos EUA (14 h) é a referência-chave da sessão, porque é um indicador adiantado de como o consumo pode evoluir. Espera-se uma queda até 63 pontos (vs. 64,7), que é o que acontece quando há incerteza. Neste caso, explica-se pela guerra comercial e impostos alfandegários em vigor (4 de março). A política comercial americana e a reação do Canadá, China ou da EU entraram numa espiral perigosa para o ciclo macro. Os impostos alfandegários prejudicam o comércio, geram inflação e deterioram a confiança e o sentimento do mercado. isto é o que explica a correção das bolsas, o aumento dos diferenciais de crédito americanos e a procura de ativos-refúgio como o ouro. Neste contexto, é difícil que o mercado se recomponha sem que o fluxo de notícias na frente comercial-geoestratégica melhore. É uma opção impossível de prever, tendo em conta a forma de agir de Trump. Os futuros vêm com subidas porque os democratas e republicanos chegaram a um acordo para evitar o fecho da Administração americana, mas não podemos confiar, porque será uma subida de forma testemunhal (+0,2%+0,4%?). 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

ESPANHA (08:00 h): O IPC final de fevereiro confirma +3,0% a/a preliminar (desde +2,9% a/a ant), enquanto a Taxa Subjacente aumenta até +2,2% a/a desde +2,1% preliminar (desde +2,4% a/a ant.). Em termos intermensais, ocorre um aumento da Taxa Geral de +0,4% m/m em fevereiro, em linha com o esperado e +0,3%m/m na Subjacente. OPINIÃO: Apesar de um ligeiro aumento, a Taxa Subjacente (para 2,2% a/a) regressa a níveis de dezembro de 2021; antes do início da guerra da Ucrânia. A evolução da Taxa Geral coincide com o esperado. Resta recordar que compara com baixos preços da eletricidade nos primeiros meses do ano anterior. As nossas projeções apontam para +2,3% dezembro de 2025 e dezembro de 2026.

FRANÇA (07:45 h): O IPC final de fevereiro confirma +0,8% a/a preliminar (desde +1,7% a/a ant). Em termos intermensais, também confirma +0,0% a/a preliminar (desde +0,2% a/a ant.). OPINIÃO: Dados positivos, porque refletem uma moderação dos preços, o que é relevante num contexto que estará pressionado por maior pressão inflacionista derivada dos impostos alfandegários. 

REINO UNIDO (07:00 h): (i) O PIB (m/m) de janeiro situa-se em -0,1% vs. +0,1% estimado e +0,4% anterior. Em termos intertrimestrais, situa-se em +0,2%, igual ao estimado, e +0,1% anterior. (ii) A Produção Industrial (a/a) situa-se em -1,5% vs. -0,6% estimado e -1,9% anterior. Em termos intermensais, -0,9% vs. -0,1% estimado e +0,5% anterior. (iii) A Produção de Fabrico (a/a) situa-se -1,5% vs. -0,5% estimado e -1,4% anterior. Em termos intermensais, -1,1% vs. 0,0% estimado e +0,7% anterior. (iv) O Índice de Serviços (m/m) situa-se em +0,1%, igual ao estimado e +0,4% anterior. Em termos intertrimestrais, +0,4% vs. +0,3% estimado e +0,2% anterior. OPINIÃO: O conjunto de dados é negativo. O PIB, que neste caso é um indicador interessante porque é mensal, sai consideravelmente pior do que o dado anterior. É relevante porque proporciona informação num momento de elevada incerteza como o atual. Também a Produção Industrial sai fraca, em linha com o PMI Industrial de S&P (46,9 em fevereiro) e num contexto de perda de confiança. 

ALEMANHA (07:00 h): (i) IPC (final) (a/a) de fevereiro confirma +2,3% preliminar e anterior. Em termos intermensais, confirma +0,4% preliminar e -0,2% anterior. (ii) Os Preços Grossistas (a/a) de fevereiro situam-se em +1,6% vs. +0,9% anterior. Em termos intermensais, +0,6% vs. +0,9% anterior. OPINIÃO: A inflação repete em +2,3% e não surpreende. Não obstante, destaca-se o aumento dos Preços Grossistas, o que é uma má notícia, porque introduz tensões inflacionistas. O facto do nível de preços se ter mantido acima dos +2,0%, objetivo do BCE, e o aumento dos Preços Grossistas acrescem argumentos adicionais ao banco central para que faça uma pausa em abril no seu processo de descidas de taxas de juros, como se espera que acontecerá.

PORTUGAL (ontem): Convoca eleições antecipadas para 18 de maio. Depois da rejeição da moção de confiança, na terça-feira, que resultou na queda do governo, o Presidente da República convoca eleições antecipadas para 18 de maio. OPINIÃO: Apesar da instabilidade política, consideramos positivo que as eleições antecipadas sejam realizadas em apenas 2 meses. Desta forma, evita-se que a campanha e a incerteza se prolonguem. A parte negativa é que não se esperam grandes mudanças, tendo em conta as últimas sondagens que mostram um empate técnico, e a impossibilidade de os 3 partidos principais criarem uma aliança (PS, PSD e Chega).

EUA (ontem) -  Os Preços Industriais (fevereiro) saem abaixo do esperado (+3,2% a/a vs. +3,3% esp. e vs. +3,5% ant). No registo intermensal, 0,0% vs. +0,3% esp. e vs. +0,6% ant. (revisto desde +0,4%). Na taxa subjacente, também ocorre desaceleração: +3,3% (a/a) vs. +3,4% esp. e vs. +3,4% ant. OPINIÃO: Bons resultados de Preços Industriais. Os dados encontram-se na mesma linha do ligeiro corte que vimos no IPC de ontem (+2,8% vs. +2,9% esp. e +3,0% ant.). Em qualquer caso, há que ter em conta que os resultados publicados são anteriores à entrada em vigor dos impostos alfandegários e, portanto, não refletem nenhum impacto nos preços dos mesmos.

UE (ontem): A Produção Industrial da UE de janeiro surpreende positivamente e sai do terreno negativo: 0,0% a/a vs. -0,9% esperado e -1,5% anterior (revisto desde -2,0%). Em termos intermensais, também sai melhor do que o esperado: +0,8% vs. +0,6% esperado e -0,4% anterior (revisto desde -1,1%). OPINIÃO: O resultado surpreende positivamente, principalmente porque é o primeiro dado que não está em terreno negativo em quase 2 anos. A categoria que mais positivamente impacta no indicador é Bens de Consumo, os não Duráveis (+6,7% a/a) e os Duráveis (+0,9% a/a).

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13/03/2025

Ontem: “Subida tímida. O IPC dos EUA desacelera mais do que o esperado. Europa e Canadá impõem impostos alfandegários aos EUA.”

Sessão de mais a menos nas bolsas, em que a Europa subiu +0,9% perante o acordo inicial de cessar-fogo de 30 dias entre os EUA e a Ucrânia, mas pesando na sessão americana (+0,5%) novamente por ruído alfandegário. Europa e Canadá respondem aos EUA, impondo impostos alfandegários a produtos como aço, alumínio, informáticos ou material desportivo, entre outro. Na frente macro, o IPC dos EUA deixou um sabor agridoce. Moderou-se mais do que o estimado, até +2,8% em fevereiro (a/a) vs. +2,9% esperado e +3,0% anterior, o que poderá favorecer descidas de taxas de juros por parte da Fed, embora crie dúvidas sobre o ciclo económico. Especialmente destacável foi a desaceleração dos preços nos serviços vinculados ao turismo, como por exemplo os preços dos voos (-0,7% a/a vs. +7,1% anterior). Neste sentido, pronunciaram-se também alguns bancos centrais: (i) Bank of Canada baixou taxas de juros em -25 p.b. até 2,75% (em linha com o esperado), mas avisou sobre o impacto da guerra comercial, sobre economia (a desacelerar) e inflação (a aumentar); (ii) Lagarde (BCE) mostrou-se preocupada perante o impacto das tensões comerciais sobre crescimento e inflação.

 

Hoje: “Bolsas em baixa, prejudicadas novamente por tensões comerciais.” 

As bolsas continuarão prejudicadas por maiores tensões comerciais. Trump não recua perante as respostas da Europa e do Canadá, mas ameaça impor novos impostos alfandegários, sem especificar as medidas possíveis. Por outro lado, hoje, na Alemanha, inicia-se o debate sobre o limite da dívida. Está em jogo um aumento da despesa em defesa e um plano de infraestruturas que poderá alcançar 500.000M€ para os próximos 10 anos. Irá gerar ruído, embora nada definitivo até à votação: 17 de março no Congresso (Bundestag) e a 21 de março no Senado (Bundesrat). Isto será o mais importante, já que a macro e os resultados empresariais não terão capacidade de mudar o tom da sessão. A macro acrescentará poucas novidades, com Produção Industrial na Zona Euro ainda débil e Preços Industriais nos EUA a desacelerarem 2 décimas em fevereiro, em linha com o IPC que conhecemos ontem. Na frente empresarial, a temporada de resultados está a terminar. Ontem, após o fecho das bolsas nos EUA, publicaram Adobe e Sentinelone, bastante fracos (caem no aftermarket -4% e -12%), e na Europa publicará Enel, com uma queda esperada de EPS de -10% no 4T 2024 (a/a).

Em suma, hoje as bolsas poderão cair ligeiramente (-0,5%?) perante o receio de novos impostos alfandegários, que provavelmente terminarão por penalizar o ciclo económico global. Não vemos motivos para que o tom do mercado mude a curto prazo. Por isso, mantemos a cautela e esperamos, de momento, para assumir posições.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

BCE (ontem): A presidente do BCE, Cristine Lagarde, num evento em Frankfurt, ontem, assinalou que a fragmentação comercial e uma maior despesa em defesa num setor com capacidade limitada poderiam, em princípio, impulsionar a inflação. Segundo Lagarde, independentemente dos choques, “devemos definir a nossa política adequadamente, para que a inflação volte sempre para 2% a médio prazo. Mas no contexto em que nos encontramos, manter a inflação em 2% a todo o momento é impossível”. Neste contexto, a presidente do banco central anunciou que, no segundo semestre de 2025, o BCE revelará os resultados de uma revisão da sua estratégia de política monetária que permita ser mais ágil na hora de reagir adequadamente aos choques de mercado. OPINIÃO: As mensagens de Lagarde mostram o contexto de incerteza (em relação a inflação e crescimento) que os bancos centrais enfrentam atualmente na sua tomada de decisões. As declarações confirmam a preocupação do BCE pelo impacto da guerra comercial na economia e parecem deixar a porta aberta a que ocorra uma pausa no processo de descidas de taxas de juros na Europa (de facto, o mercado desconta uma pausa na reunião de abril e uma nova descida na reunião de junho).

PETRÓLEO (ontem): A OPEP informa o aumento de produção em fevereiro, pelo impulso de Cazaquistão. No seu relatório mensal (em inglês), expõe que o aumento foi de +363.000bp, até uma produção total de 41,01Mbd. O aumento mais que duplica em alta a produção total prevista pela OPEP para abril: +138.000bp. O Cazaquistão está a aumentar a sua produção graças à jazida de Tangiz, explorada por Chevron. Nomeadamente, produz 1,767Mbd, nível que compara com 1,570Mbd de janeiro e 1,468Mbd de quota permitida. Outros países também estariam a produzir acima das suas quotas, como os Emirados Árabes Unidos, Nigéria e Gabão. No seu relatório mensal, a OPEP mantém a estimativa da procura global: estima um aumento de 1,45mbd em 2025 e 1,46mbd em 2026. Este nível é superior à previsão da Agência Internacional da Energia: 1,1mbd em 2025. OPINIÃO: A maior produção do Cazaquistão é um dos motivos que levou a OPEP a decidir elevar produção a partir de abril, aumentando, nomeadamente, a produção a cada mês em +138.000bd, até introduzir aproximadamente +2,2Mbd em julho de 2026. Este aumento acima da quota da Cazaquistão introduziu novos conflitos internos na OPEP, entre outros produtores que também querem produzir acima das suas quotas. Esta notícia reforça a nossa opinião de Vender no setor. Na nossa opinião, o preço do petróleo moderar-se-á nos próximos anos pela desaceleração económica, particularmente da China (primeiro importador de petróleo do mundo), por sobreprodução mundial (principalmente procedente dos EUA), auge de energias alternativas e maior eficácia energética global. Tal como publicamos na nossa Estratégia Trimestral 2025, estimamos que o Brent situar-se-á em 68$ no fecho de 2025 e 65$ no fecho de 2026. 

EUA (ontem): A inflação modera-se mais do que o previsto em fevereiro.- IPC: +2,8% a/a vs. +2,9% esperado e +3,0% anterior. Em termos intermensais (m/m); +0,2% vs. +0,3% esp. e +0,5% ant. A Taxa Subjacente: +3,1% a/a vs. +3,2% esp. e +3,3% ant. Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO:  Boas notícias. As pressões inflacionistas surpreendem ao moderarem-se mais do que o mercado descontava, o que permite animar um pouco as opções de que a Fed retome o relaxamento da política monetária antes do previsto. Contudo, nós pensamos que não moverão as taxas de juros na sua reunião de 19 de março perante a evolução da economia e as perspetivas de inflação em alta após as primeiras medidas tomadas por Trump na política comercial (impostos alfandegários).

CANADÁ (ontem): (i) O Bank of Canada (BoC) baixa a Taxa Diretora em -25 p.b. como se esperava, até a situar em 2,75%. Sétimo corte consecutivo que implica um corte acumulado de -225 p.b. desde abril de 2024. Apesar do bom comportamento da economia no 4T 2024 (+2,6% a/a), o banco central avisa uma desaceleração da atividade económica, assi como um estancamento na recuperação do mercado laboral e um aumento das pressões inflacionistas a curto prazo (+2,5% esp. em março vs. +1,9% janeiro) perante “o aumento das tensões comerciais e dos impostos alfandegários” com os EUA. Não se pronuncia sobre futuros movimentos, mas mantém a sua abordagem dependente dos dados num contexto tão incerto como o atual. Link para o comunicado (em inglês). (ii) Anuncia a entrada em vigor hoje de impostos alfandegários aos EUA por 29.800M $CAD. 12.600M $CAD será por produtos de aço, 3.000M $CAD por produtos de alumínio e 14.200M $CAD por outros bens norte-americanos. Esta medida responde aos impostos alfandegários aplicados desde ontem de 25% dos EUA sobre importações de aço, alumínio e produtos derivados do mesmo. Cabe destacar que o Canadá é o principal fornecedor estrangeiro de alumínio e aço dos EUA. OPINIÃO: Notícia negativa. Nova escalada das tensões comerciais entre ambos os países, que poderá afetar os próximos movimentos do banco central do Canadá.

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12/03/2025

Ontem: “Sessão de ida e volta com novas quedas nas bolsas e obrigações motivadas pela incerteza sobre os impostos alfandegários.”

Ontem, a bolsa na Europa abriu em alta, mas a alegria durou pouco e entrou em perdas ao conhecerem-se as ameaças de Trump de duplicar os impostos alfandegários ao aço e alumínio ao Canadá até 50% e impor um novo imposto alfandegário aos componentes de automação se o Canadá não eliminar o imposto alfandegário de 25% às suas exportações de eletricidade. A UE impõe (1 de abril) impostos alfandegários que afetam 26.000M € de importações dos EUA. O acordo entre os EUA e a Ucrânia para um cessar-fogo de 30 dias, anunciado com Nova Iorque aberta, não influenciou a sessão. A Rússia deve pronunciar-se. As Vagas de Emprego Disponíveis nos EUA (JOLTs) de janeiro surpreenderam para melhor (7.740k vs. 7.600k est.); confirmam a boa forma do seu mercado laboral e apontam para uma Fred prudente. 

A bolsa europeia fechou a cair -1,4%, Nova Iorque esteve toda a sessão em negativo, caiu -0,7% e a Tecnologia EUA -0,4%. A volatilidade (VIX) retrocede ligeiramente até 27 desde 28, recentemente estava a 15. Nas obrigações, sessão igualmente negativa com subida nas yields: Bund 2,87% (+4 p.b.), T-Note 4,28% (+6 p.b.); 10A Espanha 3,52% (+4 p.b.). Em divisas, queda do dólar que fechou vs. euro a 1,092 (+0,8%), há dois meses avaliava a 1,02 euros. 

 

Hoje: “IPC americano, volatilidade em alta num mercado que continua a estar confuso perante as incertezas.”

O mais relevante hoje é a publicação do IPC americano de fevereiro (12:30 h), que se espera que enfraqueça uma décima na taxa geral (até +2,9% a/a) e na subjacente (+3,2%). Além disso, o banco central do Canadá baixará taxas de juros (13:45 h) em -25 p.b. até 2,75%, será o sétimo corte desde junho de 2024. Em Portugal, cai o governo de centro-direita ao não superar uma moção de confiança. O partido socialista lidera as sondagens para as próximas eleições gerais, a 11 ou 18 de maio (?). Na Gronelândia, vitória eleitoral dos independentistas moderados, uma nova mudança na geopolítica.

À primeira hora, Inditex publicou resultados melhores do que o esperado, mas as guias dececionam. Os resultados de Rheinmetall crescem menos do que o esperado e as guias também nos parecem dececionantes. 

As bolsas asiáticas caem hoje e os futuros apontam em alta na Europa (+1,1%) e nos EUA (+0,3%). Embora provavelmente as bolsas hoje subam, cuidado com as subidas, o contexto é muito volátil e não vemos motivos para que o tom melhore. O mercado continua a estar preocupado com a geoestratégica e consequências negativas da política alfandegária sobre crescimento, inflação e lucros empresariais. 

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

UE (01:00 h): A Comissão Europeia anuncia a imposição de impostos alfandegários como resposta aos EUA. Isto responde à entrada em vigor, esta madrugada, dos impostos alfandegários de 25% dos EUA sobre as importações de aço, alumínio e produtos derivados do mesmo que terá impacto de 26.000M € sobre as exportações da UE. O plano da UE conta com duas fases: (1) a 1 de abril cancelará a suspensão das contramedidas aplicadas durante a primeira guerra comercial contra Trump em 2018 e 2020. Estes impostos alfandegários serão para uma série de produtos norte-americanos variados (barcos, produtos têxteis, motas, whiskey, alimentos) no valor de 8.000M€. (ii) A 13 de abril entrarão em vigor novos impostos alfandegários às exportações dos EUA, consulta prévia com os Estados-Membros e partes interessadas sobre em quais produtos aplicá-los, no valor de 18.000M€. Link para o documento (em inglês). OPINIÃO: Notícia negativa. A UE responde às medidas anunciadas por Trump a 10 de fevereiro e aumenta o risco de uma escalada das tensões comerciais a nível global. Cabe destacar que os EUA estão menos afetados pelo comércio exterior do que a UE.

JAPÃO (23:50 h – terça-feira): Os Preços Industriais mostram certa moderação em fevereiro: +4,0% a/a vs. +4,0% esperado e +4,2% anterior. Em termos intermensais (m/m); +0,0% vs. -0,1% esp. e +0,3%. OPINIÃO: Registo positivo, embora ainda se situe em níveis muito elevados e mantenha a pressão sobre o BoJ para que continue com as subidas de taxas de juros.

PORTUGAL (ontem): Cai o governo após o parlamento rejeitar a moção de confiança. Apesar das tentativas do governo durante o debate de ontem para evitar a sua queda, a maioria parlamentar votou contra a moção de confiança. Espera-se que o Presidente da República convoque eleições antecipadas. OPINIÃO: Más notícias. Mantém-se a incerteza política em Portugal e não há perspetivas de governo estável, o que poderá gerar atrasos na aplicação da política fiscal. O mais provável é que as eleições antecipadas voltem a resultar num governo minoritário. Os dois partidos principais não conseguem alcançar a maioria absoluta e rejeitam qualquer coligação com o partido CHEGA. 

ESPANHA (ontem): (i) O Banco de Espanha revê as suas previsões de PIB para 2025 para 2,7% a/a (+0,2pp); e sem alterações: +1,9% 2026 e +1,7% 2027. Revê em alta as projeções de inflação para 2025 para 2,5% (+0,4pp) devido à subida de preços da energia e mantém as de 2026 e 2027 em 1,7% e 2,4%, respetivamente. Projetam uma Taxa de Desemprego em 10,5% (-0,3pp) 2025; 10% (-0,4pp) 2026 e sem alterações em 9,5% para 2027. O Défice estimado para 2024 é de 3,4% “pelas despesas extraordinárias da DANA e sentenças desfavoráveis para a Administração” e que se moderará para 2,8% em 2025 e 2,6% em 2026 e 2027. Link para o documento (em espanhol). OPINIÃO: As projeções não incorporam o aumento de impostos alfandegários nem a possibilidade do aumento de despesa pública em defesa na UE. A revisão em alta do crescimento de 2025 baseia-se fundamentalmente no efeito positivo de um final de ano mais forte do que o antecipado e expetativas de crescimento do Consumo dos Lares. O Banco de Espanha assinala a “extraordinária incerteza” do contexto internacional e que as tensões geopolíticas e comerciais foram experienciando “aumentos muito significativos” nos últimos meses. A evolução do 4T 2024 (+0,8% t/t) superior ao esperado gera um efeito positivo sobre as nossas projeções para 2025 que contemplavam um crescimento do PIB de +2,2% a/a cenário central (2,7% cenário otimista). Para 2026, projetemos uma moderação do crescimento para +1,9% a/a. Do nosso ponto de vista, a resistência do crescimento do Consumo Privado e a reativação do Investimento são fundamentais para o crescimento, os níveis de incerteza sobre o contexto alfandegário são muito elevados. (ii) O Ministério de Transição Ecológica anuncia um “Plano de Ação 2025-2029 para a gestão sustentável das matérias-primas minerais”. Hoje inicia-se a audiência pública da proposta. Prevê a elaboração de planos quinquenais com 4 objetivos estratégicos: (1) eficácia e economia circular; (2) Gestão sustentável; (3) Segurança de fornecimento; (4) Fomentar a indústria de minerais estratégicos para a transição energética e digital. O valor económico das matérias-primas fundamentais – cobre, fluorina, feldspato, estrôncio, tungsténio, tântalo – supera os 850 milhões. Já estão a ser destinados 400M € em subvenções do PRTR a atuações ambientais, para a restauração de áreas afetadas pela mineração. O plano contempla um Programa Nacional de Exploração Mineira 2025-2029 e será aprovada uma nova Lei de Minas. O plano não contempla a exploração de urânio, proibido com a Lei de Mudança Climática. Link para o comunicado (em espanhol).

GRONELÂNDIA (ontem): Surpresa nas eleições após a vitória de Demokraatit. Obtém 29,9% dos votos face a 24,5% de Naleraq, 20% de Inuit Ataqatigiit e 15% de Siumut. Estes dois últimos eram os que governavam em coligação até ao momento. OPINIÃO: Tanto o partido Demokraatit, que terá de procurar um sócio para poder governar, como Inuit e Siumut são a favor de uma independência mais moderada da Dinamarca. Enfatizam um horizonte temporal mais a médio/longo prazo do que a “independência express” que Naleraq procura. Estas eleições ganharam importância após o interesse mostrado por Trump de anexar os EUA a este território, sob o controlo da Dinamarca desde 1953, mas com um regime de autogoverno após o Estatuto de Autonomia de 2009. Este contempla o direito à autodeterminação, se existir uma maioria no Parlamento para começar este processo. Contudo, a ilha continua a depender economicamente da Dinamarca, já que metade do orçamento da Gronelândia procede de uma subvenção anual de, aproximadamente, 500M € do país nórdico. 

EUA (ontem): As Vagas de Emprego Disponíveis (JOLTs) surpreenderam para melhor em janeiro: 7.740k vs. 7.600k estimado. A parte negativa foi a revisão para pior do dado anterior (7.508k desde 7.600k). O rácio Vagas/Desempregados melhorou ligeiramente até 1,13x desde 1,09x em dezembro. OPINIÃO: Dado melhor do que o estimado que confirma que o mercado laboral americano continua em boa forma e aponta para uma Fed prudente antes de baixar taxas de juros.

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11/03/2025

Ontem: “Sessão de quedas gerais nas bolsas perante o contexto atual de incerteza.”

Ontem, as bolsas caíram com força, tanto na Europa como nos EUA (-1,5% e -2,7%, respetivamente), dando sinais da elevada incerteza resultante do atual contexto geoestratégico (e após Trump não descartar uma possível recessão numa entrevista durante o fim de semana, na FOX). Na Alemanha, os Verdes anunciaram que irão rejeitar o plano sobre financiamento da despesa em defesa, o que revela a complexidade de alcançar o aumento do limite da dívida no país. Por último, tampouco ajudaram as declarações de Kevin Hassett (assessor económico da Casa Branca), assinalando que “há muitas razões para ser extremamente otimista sobre o futuro da economia, mas, sem dúvida, neste trimestre há alguns obstáculos nos dados”.

Na macro, a referência do dia foi o Índice Sentix de Confiança do Investidor na Europa, que saiu surpreendentemente forte, tendo em conta o atual contexto de mercado (-2,9 vs. -9,3 esp. e -12,7 ant).

Na renda fixa, tivemos uma sessão relativamente plana na Europa, com o Bund a fechar em +2,831% (-0,2 p.b.) enquanto nos EUA a yield do T-Note fechou caindo até +4,213% (-8,8 p.b. em relação à sessão anterior).

 

Hoje: “Mercado muito errático a curto prazo, afetado pelas dúvidas sobre o crescimento global.” 

O mercado continua imerso num contexto de alta volatilidade a curto prazo e não parece que existam muitos motivos a curto prazo para que o tom mude para positivo. A sessão de hoje tem poucas referências macro relevantes. Apenas conheceremos, nos EUA, as Vagas de Emprego (Jolts) onde se espera que repitam em 7.600K do mês anterior. A referência principal da semana será amanhã, com os dados do IPC nos EUA, onde se espera um corte de uma décima na Taxa Geral e na Subjacente.

Hoje, futuros com subidas: +0,60% na Europa e +0,23% nos EUA, portanto a abertura poderá ser em alta, embora o mais provável é que vivamos uma nova sessão de forte volatilidade.
Tal como apontávamos ontem, é provável que o mercado continue a manter-se muito errático a curto prazo, marcado pela preocupação sobre a situação geoestratégica (e o efeito da política alfandegária nos resultados futuros do crescimento, inflação e, eventualmente, nos lucros empresariais).

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

JAPÃO (23:50 h – segunda-feira): O PIB 4T 2024 (final) situou-se (intertrimestral, anualizado) em +2,2% vs. +2,8% preliminar e +1,4% anterior.- O Consumo Privado situa-se em 0% vs +0,1% estimado e +0,7% anterior. A Despesa Empresarial +0,6% vs. +0,4% preliminar e -0,1% anterior. O Setor Exterior +0,7%, igual ao preliminar, vs. -0,1% anterior. OPINIÃO: O dado melhora consideravelmente face ao trimestre anterior, embora dececione em relação aos dados preliminares. A revisão em baixa explica-se pela queda de inventários de petróleo, que costumam ser muito voláteis. Destaca negativamente a debilidade do Consumo Privado, embora ocorra um avanço no Investimento Empresarial e na contribuição do Setor Exterior. Em qualquer caso, são dados positivos, que refletem uma melhoria importante face ao trimestre anterior. 

UE (ontem): A Confiança do Investidor Sentix melhorou mais do que o esperado em março. Situou-se em -2,9 vs. -9,3 esperado e -12,7 anterior. OPINIÃO: Este aumento explicou-se principalmente pela Componente de Expetativas, que subiu desde +1,0 em fevereiro até +18,0, o seu nível mais alto desde julho de 2021. Este indicador reflete o sentimento económico a seis meses. Também a Componente de Situação Atual registou uma melhoria, desde -25,5 até -21,8. O otimismo dos investidores viu-se impulsionado pelos recentes anúncios da UE sobre defesa e infraestrutura, especialmente na Alemanha.

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07/03/2025

Ontem: “O BCE endurece o tom. Atraso de impostos alfandegários.”

O BCE baixou taxas de juros (-25 p.b.) até 2,50%/2,65% (Depósito/Crédito). Contudo, o mais relevante foi o endurecimento do seu tom: as condições financeiras são “significativamente menos restritivas”. Com isso, poderá pausar a sua política monetária e não baixar taxas de juros em abril (ver contexto). Em paralelo, os EUA anunciaram que o atraso de um mês dos impostos alfandegários sobre o setor automóvel do México e Canadá estende-se aos produtos dentro do seu tratado de livre comércio. Com isso, as bolsas europeias anteciparam uma abordagem mais suave na frente alfandegária.

WS viveu uma sessão marcada pelos retrocessos, novamente afetada por: (1) a tecnologia; Marvell apresentou resultados e o mercado esperava uma maior procura de IA. (2) Dados de Balança Comercial com o maior défice comercial da sua história (Exportações +4%, Importações +23%). 

O mercado de obrigações voltou a destacar-se negativamente: ocorreu um aumento generalizado na yield das obrigações, mais um dia. A UE aprova o Plano de Investimento de 800.000M€ em Defesa e exclui flexibilidade das regras fiscais. O Euro voltou a apreciar-se devido a menores descidas de taxas de juros previstas pelo BCE.


Hoje: “Broadcom e emprego americano.”

Iniciamos a sessão com os resultados de Broadcom (sobe +13% em aftermarket), após bater expetativas e melhorar guias. Com praticamente a temporada já terminada, o EPS médio nos EUA: +14,2% vs. +7,5% est. 

A chave da sessão são os dados de Emprego nos EUA (13:30 h). Espera-se algo melhor do que o dado anterior: 160K vs. 143K anterior, embora em linha com a criação média em 2024: 166K. Isso apesar do dado talvez estar distorcido pelos incêndios na Califórnia. Não obstante, o realmente importante será o aumento dos salários. No registo de janeiro, repetiu em +4,1%. Tudo isso tem repercussão nas futuras decisões da política monetária da Fed. Por último, celebram-se comparências de vários membros dos bancos centrais. Powell será o mais relevante (amanhã começa o blackout da Fed, reúne-se a 19 de março).

Com tudo isso, provavelmente a tecnologia recupera com força devido aos resultados de Broadcom e permite uma ligeira subida nos EUA. Contudo, a Europa sofrerá devido às quedas americanas de ontem e pela forte subida desta semana.

 

CONTEXTO ECONÓMICO. –

ESPANHA/HABITAÇÃO (08:00 h): Os Preços da Habitação sobem +11,3% em 2024 (a/a).- O Índice de Preços da Habitação, elaborado pelo INE, aponta para uma subida de preços de +11,3% no 4T 2024 (a/a), vs. +8,1% anterior. Em termos intertrimestrais: +1,8% vs. +2,8% anterior. OPINIÃO: Os preços da habitação surpreendem positivamente e superarão a nossa previsão de +8% para 2024. Veem-se apoiados por um mercado laboral forte, escassez de oferta e descidas de taxas de juros. Prevemos novas subidas de preços em 2025 (+5%) e 2026 (+3%). Os fundamentos são bons e não vemos indícios de bolha. Link para o relatório do setor imobiliário (em espanhol).

ALEMANHA (07:00 h): A atividade industrial continua a deteriorar-se na Alemanha, à espera de possíveis estímulos. Os Pedidos à Fábrica caem -2,6% em janeiro (a/a) vs. +2,6% estimado e -6,9% anterior (revisto desde -6,3%). OPINIÃO: Más notícias para as bolsas. A economia alemã continua fraca, prejudicada pela atividade industrial. O mais provável é que continue em contração no 1T 2025 (-0,3% a/a?) e nos próximos trimestres veremos se o governo alemão é capaz de eliminar o limite de despesa e aprovar medidas de apoio ao setor.

CHINA (03:01 h): A balança comercial bate estimativas, por umas importações muito fracas. Balança Comercial 170.500M$ até ao momento do ano (janeiro e fevereiro) vs. 147.500M$ estimado. As Exportações aumentam +2,3% a/a (vs. +5,9% estimado) e as Importações caem -8,4% a/a vs. +1,0% estimado. OPINIÃO: Más notícias. Embora a Balança Comercial bata estimativas, fá-lo apoiada numa forte queda das Importações, o que mostra uma procura interna muito fraca. Embora as Exportações cresçam, fazem-no em menor medida do que o esperado. Como consequência, a bolsa chinesa cai hoje cerca de -0,5%.

EUA (ontem): (i) Atrasa os impostos alfandegários ao México e Canadá até abril, mas apenas a produtos sujeitos a acordos comerciais. Trump atrasa até 2 de abril a entrada em vigor de impostos alfandegários de 25% a alguns produtos do México e Canadá, sujeitos ao North American Trade Agreement (Acordo Comercial da América do Norte). OPINIÃO: São boas notícias que Trump oferece na sua política de impostos alfandegários. Contudo, a isenção é temporária e afeta apenas alguns produtos. A própria administração Trump estima que metade das importações do México e 62% das do Canadá continuarão sujeitas a impostos alfandegários, e avisa que não haverá mais atrasos. Portanto, o impacto deste anúncio deverá ser muito moderado nas bolsas. (ii) A Balança Comercial cai mais do que o esperado e o Défice Comercial aumenta +34% em janeiro.- Situa-se em -131.400M$ vs. -128.800M$ esperado e -98.100M$ anterior (revisto desde 98.400M$). As importações aumentam +23,1% (a/a) e as exportações +4,1%. Por países, o Défice com China aumenta até -31.700M$ (+27,1% m/m), com a União Europeia até -23.300M$ (+6,3%) e com o México cai até -13.700M$ (-5,9%). OPINIÃO: Resultados piores do que o esperado que refletem o impacto da guerra comercial derivada dos impostos alfandegários anunciados pela administração Trump. Os resultados refletem um aumento do défice comercial de +34%, que implica o nível mais alto na história dos EUA. O facto de adiantar as importações terá um impacto negativo nas exportações líquidas do 1T 2025, prejudicando o PIB 1T 2025. Como referência, o GDPNow da Fed de Atlanta estima uma contração de -2,4% (t/t anualizado). Na nossa opinião, o impacto será transitório e pontual, mas revela o risco que a guerra comercial dos EUA implica.

UE/BCE (ontem): (i) O BCE baixa taxas de juros em -25 p.b., como se esperava, mas endurece o tom. Situam-se em 2,50% a de Depósito, 2,65% a de Crédito e 2,90% a Marginal. Por outro lado, volta a rever em baixa o crescimento, como já o fez em setembro e dezembro de 2024, enquanto revê em alta a inflação geral para 2025 e baixa a subjacente para esse ano. PIB: 2025 +0,9% (vs. +1,1%), 2026 +1,2% (vs. +1,4%), 2027 +1,3% (vs. +1,3%). IPC geral (médio): 2025 +2,3% (vs. +2,1%), 2026 +1,9% (vs. +1,9%), 2027 +2,0% (vs. +2,1%). Taxa Subjacente: 2025 +2,2% (vs. +2,3%), 2026 +2,0% (vs. +1,9%), 2027 +1,9% (vs. +1,9%). Link para o relatório (em espanhol). OPINIÃO: O BCE afirma que as condições financeiras são “significativamente” menos restritivas após o corte de -150 p.b. efetuado desde junho de 2024, e como mostram o custo dos novos empréstimos e a gradual reativação do crédito. O nível de incerteza é extremo e o BCE não se compromete com nenhum roteiro preconcebido. Mais do que nunca, continuarão dependentes dos dados e tomarão as decisões a cada reunião. Os recentes projetos de investimentos em infraestruturas e defesa por parte da Comissão Europeia e Alemanha são “obra em curso” que não incluíram nas suas projeções, mas caso sejam implementadas seriam um impulso para a economia e produtividade via inovação. Neste contexto, reiteramos a nossa expetativa de que o BCE baixará mais uma vez as suas taxas de juros este ano, mas acreditamos que optará por fazer uma pausa em abril (face a um corte de -25 p.b. que antecipávamos antes) até que se clarifique o impacto em preços de todas as políticas e medidas executadas nas frentes comercial e fiscal. A falta de confiança e incerteza que prejudica o consumo e investimento não seriam resolvidas com uma nova flexibilização monetária e acreditamos que o BCE preferirá guardar margem de manobra para atuar quando tiver mais confiança e visibilidade. (ii) As Vendas a Retalho situaram-se abaixo do esperado em janeiro, embora o dado de dezembro tenha sido revisto em alta: +1,5% (a/a) vs. +1,9% esperado e +2,2% anterior (revisto desde +1,9%). Em termos intermensais -0,3% vs. +0,1% esp. e +0,0% anterior (revisto desde -0,2%). OPINIÃO: Leitura do indicador bastante negativa. Contudo, o mercado laboral mantém-se forte com a Taxa de Desemprego em mínimos históricos, e os Salários sobem >4%, o que deverá apoiar o consumo a curto prazo.

Todas as nossas notas macro disponíveis em: https://www.bankinter.pt/analise

 

06/03/2025

Ontem: “Alemanha prepara importantes estímulos fiscais.”

Forte aumento nas rentabilidades das obrigações na Europa. A Alemanha prepara-se para elevar o atual limite constitucional do endividamento (0,35% do PIB) e a Comissão Europeia propõe mobilizar 800.000M€ para rearmar a Europa, levando a um claro aumento das taxas de juros a longo prazo. Perante a perspetiva da maior e mais rápida mudança de política fiscal na Alemanha, a yield do Bund aumenta +30 p.b. (2,78%), o diferencial 2 a 10 anos amplia-se (+9 p.b. até +54 p.b.) e o spread dos periféricos estreita-se (-2 p.b. Itália e Espanha). Nos EUA, a yield do T-Note aumenta +4 p.b. (4,28%) com a preocupação pela subida da componente de Preços Pagos do ISM de Serviços.

Bolsas em positivo na Europa (+1,9%), lideradas por Alemanha (+3,4%). Os estímulos fiscais da Alemanha incluirão um plano de investimento de 500.000M€. Bancos, infraestruturas e defesa são os setores mais beneficiados. Utilities e imobiliárias retrocedem. Nos EUA, as bolsas terminaram com subidas (+1,1%) animadas pelo anúncio de Trump de atrasar em um mês os impostos alfandegários sobre o setor automobilístico ao México e Canadá.   

Apreciação do euro com o anúncio dos estímulos fiscais na UE (EURUSD 1,079, +1,5%). O petróleo (-3%) alcança mínimos de 3 anos (66$/brr).          


Hoje: “Foco no BCE e em Broadcom. Melhoria do tom nas bolsas perante os atrasos em alguns impostos alfandegários.” 

Na frente macro, o protagonismo da sessão estará no BCE. Num contexto de debilidade económica e com uma inflação que se aproxima do seu objetivo, o BCE baixará taxas de juros novamente (-25 p.b) até 2,50%/2,65% (Depósito/Crédito). O PIB da UE avançou apenas +0,1%(t/t) no 4T 2024 e o IPC Subjacente (2,6%) situa-se no nível mais baixo desde a invasão da Ucrânia. Mas após cortar -150 p.b. desde junho de 2024, abrem-se discrepância dentro do BCE em relação a movimentos futuros. A inflação de serviços (3,7%) é elevada, o mercado laboral mantém-se forte e aproximam-se importantes estímulos fiscais, o que poderá aconselhar um repensar do ritmo de relaxamento da política monetária. Portanto, o foco da reunião estará na atualização do quadro macro e no tom da mensagem.

No lado micro, o interesse estará nos resultados de Broadcom (EPS +37%), que se conhecerão com o mercado americano já fechado e que permitirão obter pistas sobre a procura de chips de IA.

Em relação aos mercados, o receio dos efeitos de uma guerra comercial e uma maior incerteza geopolítica estão a bloquear as bolsas. A imposição de impostos alfandegários poderá gerar novas pressões inflacionistas, retrair a procura, afetar o crescimento global e prejudicar os lucros empresariais. Hoje poderemos ver uma ligeira melhoria do tom. O BCE manter-se-á prudente e, embora com menos consenso, não esperamos que abandone totalmente o tom dovish da sua mensagem. A Comissão Europeia reúne-se hoje e permitirá a flexibilização das normais fiscais para investir em defesa. Além disso, a aprovação do atraso de um mês aos impostos alfandegários sobre o setor automóvel do México e Canadá e a possibilidade de isenções em certos produtos agrícolas também deverão ajudar na sessão. Veremos. 


CONTEXTO ECONÓMICO. –

EUA (ontem): (i) Impostos Alfandegários: os EUA atrasam em um mês a implementação de impostos alfandegários ao setor automóvel e componentes do México e Canadá. Estes entrarão em vigor a 2 de abril para os fabricantes que cumpram as normas de livre comércio do tratado USMCA. A medida, após conversações com os principais fabricantes de carros nos EUA, procura dar tempo a estes para reorganizarem as suas cadeias de fornecimento e planificarem mais investimentos e produção nos EUA. Além disso, o Secretário da Agricultura afirmou que estão a considerar a isenção de impostos alfandegários a produtos agrícolas destes países. OPINIÃO: Os EUA suavizam um pouco a sua postura na frente comercial perante o risco de que os impostos alfandegários causem uma subida de preços dos carros, especialmente prejudicial para as classes média e baixa. Em 2024, o défice comercial de bens (excluindo serviços) com o México ascendeu a 171.000 M$, e com o Canadá 63.000M$ (embora se excluam produtos energéticos, os EUA têm superavit com este país). Mas as exportações de produtos finais a estes países são elevadas (~350.000 M$ e ~355.000 M$, respetivamente), portanto as represálias poderão ser prejudiciais para os EUA, e elevar preços num variado leque de produtos. De facto, o Canadá já anunciou impostos alfandegários de 25% sobre produtos norte-americanos no valor de 30.000 M$ e está a considerar uma segunda ronda de medidas, como a restrição à exportação de certos minerais. Uma guerra comercial com estes países seria prejudicial para o crescimento e para os preços, e afetaria especialmente setores como automóveis, alimentação e matérias-primas; por regiões, penalizaria mais as zonas do sudoeste e centro-oeste do país. (ii) O Inquérito de Emprego Privado ADP dececionou em fevereiro.  Nomeadamente, foram criados 77k postos vs. 140k estimado, embora o dado anterior tenha sido revisto para melhor 186k (desde 183k). OPINIÃO: Dado fraco que deverá favorecer uma posição mais suave por parte da Fed. O clima de incerteza pesa sobre o setor privado, que atrasa contratações, especialmente nos setores mais ligados ao comércio. (iii) O ISM de Serviços foi melhor do que o estimado em fevereiro, 53,5 vs. 52,5 estimado e 52,8 anterior. Melhorou tanto a componente de Pedidos Novos (52,2 vs. 51,5 est. e 51,3 ant.) como a de Emprego (53,9 vs. 51,6 est. e 52,3 ant). A parte negativa veio pelos Preços Pagos (62,6 desde 60,4 est. e ant). OPINIÃO: Bom dado pelo lado da atividade. O indicador entrou em terreno de expansão e moderou as dúvidas sobre o mercado laboral que o Inquérito de Emprego Privado ADP levantava. Por sua vez, os preços aceleraram e levam a pensar numa inflação persistente. No conjunto, o indicador oferece motivos à Fed para ser prudente e não se apressar a baixar taxas de juros. (iv) Os Pedidos à Fábrica avançaram, em linha com o estimado, até +1,7% m/m desde -0,6% anterior (revisto desde -0,9%). (v) O dado final de Pedidos de Bens Duráveis avançou +3,2% em janeiro vs. +3,1% preliminar e -1,8% anterior. OPINIÃO: Dados sem surpresas que mostraram alguma vontade de inércia no setor industrial. (vi) O Livro Bege refere uma atividade económica que melhora ligeiramente desde meados de janeiro. A parte negativa é que a despesa dos consumidores moderou-se e parece ter aumentado a sensibilidade às subidas de preços em bens não essenciais. Contudo, uma climatologia adversa explica parte dessa diminuição, principalmente no setor serviços. O emprego continua a mostrar sinais de solidez e os Salários crescem a taxas moderadas, embora com uma ligeira tendência de desaceleração. Contudo, os preços continuam a crescer a taxas moderadas e a maioria dos distritos adverte futuras subidas de preços como reação a possíveis impostos alfandegários. De facto, já se observam algumas subidas como modo de prevenção. OPINIÃO: O Livro Bege não acresce grandes novidades. A economia continua a mostrar sinais de força e a inflação continua a ser persistente. A imposição de impostos alfandegários implica um risco adicional para o futuro dos preços e, além disso, os Salários continuam a crescer moderadamente. Neste contexto, a Fed não terá urgência em baixar a taxa diretora. As nossas estimativas apontam para duas descidas este ano, em setembro e dezembro, até 3,75%/4,00%. 

UE (ontem): (i) Os Preços Industriais surpreenderam em alta em janeiro, +1,8% a/a vs. +1,3% estimado e +0,1% anterior (revisto em alta desde 0,0%). (ii) O PMI de Serviços final de fevereiro ficou em 50,6 vs. 50,7 preliminar e 51,3 em janeiro. OPINIÃO: Os Preços Industriais são um mau avanço para a inflação. Contudo, trata-se de um dado atrasado e, por isso, com pouco impacto. Correspondem a janeiro e já foi publicado o IPC de fevereiro da UE (moderou-se até +2,4% desde +2,5% em janeiro).

PORTUGAL (ontem): O governo minoritário de Portugal apresenta uma moção de confiança.- Após duas semanas de turbulências na política portuguesa, desencadeadas por supostas vinculações financeiras com a empresa familiar do Primeiro-Ministro, Luís Montenegro anunciou ontem a sua intenção de adiantar as eleições legislativas, perante o anúncio dos restantes partidos (71,98%) que votarão contra a moção de confiança e que conduziria, muito provavelmente, à convocatória de eleições por parte do Presidente da República. Esta decisão surge após a rejeição de duas moções de censura, que não prosperaram devido à abstenção do principal partido da oposição, o Partido Socialista. O Primeiro-Ministro justificou a necessidade de eleições antecipadas como um “mal necessário” face à alternativa de vários meses de instabilidade política. OPINIÃO: Más notícias para a economia portuguesa. A instabilidade política gera incerteza e compromete a implementação de reformas essenciais para o desenvolvimento e crescimento económico. As perspetivas positivas para a economia, apoiadas pela aprovação do Orçamento do Estado para 2025, poderão ver-se deterioradas num cenário de eleições sucessivas. Num período de apenas nove meses, o país poderá enfrentar três processos eleitorais: legislativas antecipadas entre maio e junho, municipais em setembro/outubro e presidenciais em janeiro de 2026. Esta sucessão de eventos eleitorais aumentam a incerteza política e pode gerar atrasos na execução da política fiscal.

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