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Estratégia de Investimento Semanal (6 de Junho)

07.06.2022

Escrito por: Bankinter

"Indefinição e preocupação: o BCE poderá ser mais duro que o descontado. Semana sem alterações ou pior."
 

A semana passada deixou um saldo pior do que o esperado, porque o dia de sexta-feira foi inesperadamente mau, depois de uma jornada prévia (demasiado) excelente. O que vimos é o comportamento típico de não haver certeza do que está a acontecer. A inflação europeia foi realmente má, chegando aos +8,1% em maio, ao contrário da americana há alguns dias (+8,3% em abril, de +8,5%). Isto levou a uma subida das yields das obrigações europeias (Bund 1,275% vs 0,975% ao longo da semana) e a mais pressão para o BCE, não só para deixar de comprar obrigações a 30 de junho e subir as taxas de juro, mas também para continuar com as subidas até ao verão para conseguir controlar a inflação. A principal questão é como fazê-lo sem anular o crescimento económico. Isto na Europa seria a quadratura do círculo. O emprego americano publicado foi frágil (a Taxa de Desemprego não conseguiu descer para 3,5%, ficando em 3,6% pelo segundo mês consecutivo, contrariando as expetativas) e 3 nomes de 1.ª linha de influência mostraram preocupação relativamente ao ciclo económico e/ou tom hawkish/duro sobre as taxas de juro: (i) Dimon (CEO da JPMorgan) disse que a Fed deve enfrentar a inflação subindo as taxas de juro e reduzindo o balanço (QT), porque há muita liquidez, e assustou ao afirmar que a economia americana enfrenta um “furacão”. (ii) Musk (Tesla) disse ter um “super bad feeling” sobre a economia e que poderá reduzir em -10% o n.º de trabalhadores. (iii) Brainard (n.º 2 da Fed) não descartou continuar a subir +50 p.b. em set. se a inflação não diminuir. Por último, a Microsoft e a HP apresentaram resultados fracos e reviram em baixa os seus guidances. Por isso, tendo em conta isto tudo, as bolsas até aguentaram demasiado bem…

:: Esta semana será parecida ou ligeiramente pior que a passada.- Subida das taxas de juro na Austrália (terça-feira) e na Índia (quarta-feira), Lagarde poderá mostrar-se mais hawkish/dura na conferência de imprensa posterior à reunião do BCE na quinta-feira e a inflação poderá não descer na sexta-feira. Poderemos até assistir a um possível desacordo interno no BCE para subir mais e mais rápido as taxas de juro. E na frente empresarial, as expetativas para os lucros americanos do 2T continuam a ser revistas em baixa (o EPS do S&P500 esperado é de +3,9% vs +4% na semana anterior vs +6,7% a 22 de abril) e na semana passada a Microsoft e a HP publicaram importantes profit warnings. Com tudo isto cima da mesa, o mais lógico será ter baixas a contagotas, com recuperações pontuais pouco relevantes.

O mais difícil de aceitar é que estamos numa fase em que a macro americana boa é má para as bolsas, porque reforça a perspetiva de uma Fed mais dura com as taxas de juro, mas se for má, também é mau, porque reforça o receio de uma deterioração do ciclo económico. Alguns conselheiros da Fed (Waller, Bullard…) defendem um ritmo de subida de +50 p.b. até que a inflação ceda e isso assusta porque faz lembrar o Volcker Bear Market de 1982: a inflação estava nos 12%/14%, pelo que aumentaram as taxas de juro até 20%! em junho de 1981 e o S&P500 reagiu com uma queda de -25% desde essa altura e até agosto de 1982, quando bateu no fundo... para depois recuperar solidamente, mas só quando a inflação recuou para os +5%. Já passaram 40 anos e a escala das medidas anti-inflacionistas será diferente, mas devemos assumir que a Fed continua a fazer o que tem de ser quando é necessário, ignorando as consequências políticas e sobre o crescimento. A prioridade é a prioridade: a inflação. Estamos agora nessas semanas que decidem se entramos ou não num Bear Market, pelo que não devemos confiar, mas sim procurar proteger-nos. Acertar não é tão importante como proteger. Quando entraríamos no Bear Market? Teoricamente nos 3.835 do S&P500, cerca de 7% abaixo do seu nível atual e que seria -20% a partir do seu valor máximo em 2022, 4.800 a 3 de janeiro. Será melhor não perder de vista este dado.

O mais importante que pode acontecer esta semana é que o BCE seja mais duro na quinta-feira e que a inflação americana continue sem recuar na sexta-feira. A semana poderá complicar-se nesses últimos dias.