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Estratégia de investimento semanal (4 de Março)

07.03.2022

Escrito por: Bankinter

Voltamos a reduzir exposição, de forma firme, perante a deterioração da situação. A prioridade é proteger.
 


 

A situação Rússia/Ucrânia e Powell (Fed) dirigiram o mercado na semana passada, como estava previsto, mas a primeira com muita mais influência. Teria sido melhor que isso não tivesse acontecido, uma vez que os recuos foram importantes, especialmente a partir de quinta-feira, quando Macron disse, depois de falar com Putin, que “o pior está para vir”, e da Rússia ter incendiado, na Ucrânia, a maior central nuclear da Europa. Não é improvável que a intenção final deste ataque fosse utilizar indiretamente uma arma nuclear (pelas suas consequências) sem que formalmente se possa acusar a Rússia de tê-lo feito. A heroica e inesperada resistência ucraniana, em conjunto com o firme e coeso apoio do resto do mundo, têm transformado a suposta invasão relâmpago num sério problema de direção e fazem com que a Rússia esteja a perder a guerra da opinião pública mundial, o que equivale a uma grave derrota moral.

Foi a partir desta semana que a invasão da Ucrânia pela Rússia se tornou muito mais preocupante pelas suas consequências e se mostrou muito mais prolongada nos seus prazos. Por isso, a comparência semestral de Powell (Fed) perante o Congresso e o Senado para explicar a economia e a política monetária passou completamente para segundo plano. A sua firmeza ao reafirmar a aplicação da estratégia de saída da Fed (fim do QE e subidas das taxas de juro a partir de março, assim como a redução do balanço) foi recebida de forma positiva pelas bolsas, mas o seu impulso foi efémero perante a importância da geoestratégia. O mesmo aconteceu com os excelentes dados do emprego americano na sexta-feira ao meio-dia. Assim, quinta e sexta-feira foram dias particularmente maus para as bolsas, tendo deixado uma herança preocupante para as próximas semanas.

Chegados a este ponto, qualquer desfecho na situação da Rússia/Ucrânia será mau, com impacto na geoestratégia e nos mercados durante algum tempo, pelo que reduzimos a exposição de forma mais firme. Na segunda-feira da semana passada tínhamos reduzido a exposição às bolsas -10% linear em todos os perfis de risco, seguindo o senso comum e como resposta ao aumento do risco do mercado. Foi uma medida preventiva que dissemos que poderíamos ou não aprofundar mais à frente, dependendo do desenvolvimento dos acontecimentos. O que aconteceu nesta última semana deixa as coisas mais difíceis. A Rússia não vai aceitar nada que não seja uma vitória, uma vez que o seu plano inicial de uma invasão rápida foi frustrado e perdeu a guerra da opinião pública global por se ter desautorizado moralmente com os seus próprios atos. As ações militares russas serão cada vez mais arriscadas e acreditamos que, infelizmente, também mais cruéis. A guerra deverá prolongar-se no tempo, passando para uma guerra de guerrilha que, hipoteticamente, por um lado, pode levar a Rússia a adotar ações militares completamente desproporcionadas para um fim mais rápido e que, por outro lado, e no plano estritamente económico, provocará uma inflação global verdadeiramente alta, que os bancos centrais não vão conseguir reduzir através da política monetária por tratar-se de uma inflação da oferta e não da procura.

Assim como revisões em baixa do crescimento económico em todo o mundo, mas principalmente na Europa. Tudo isto coloca as bolsas numa situação extremamente vulnerável, com riscos seriamente em alta, e isto torna inevitável da nossa parte continuar a reduzir a exposição recomendada em todos os perfis de risco, desta vez de forma mais firme do que na segunda-feira passada. Daremos prioridade à proteção do património. A partir de agora, os nossos níveis de exposição recomendados são os seguintes: 40% (-30%) Agressivo / 25% Dinâmico (-30%) / 15% Moderado (-25%) / 0% Conservador (-25%) / 0% Defensivo (-15%). Vamos aplicar já hoje estas alterações a todas as nossas carteiras modelo, cujos detalhes se encontram na página 3 deste relatório. Acreditamos que não devem acontecer mais alterações a curto prazo, salvo em caso de uma deterioração grave da situação… ou, alternativamente (e oxalá!), uma resolução inesperada do conflito. Nesse caso, aumentaríamos imediatamente a exposição para aproveitar a recuperação. Mas, por agora, e tendo em conta a deterioração dos acontecimentos, a prioridade deve ser a proteção do património e não tentar acertar antecipando o mercado. Insistimos: a exposição às bolsas deve limitar-se às matérias-primas, infraestruturas, cibersegurança e defesa.