Estratégia de Investimento Semanal (20 de outubro)

Estratégia de Investimento Semanal (20 de outubro)

23.10.2023

Escrito por: Bankinter

 

Bolsas: “Bloqueadas até yields das obrigações baixarem, e isso não acontecerá até dentro de 2 semanas, pelo menos.”

Na semana passada parecia que as yields das obrigações se estabilizariam, mas não foi assim. O encarecimento do petróleo (Brent 93,5$/b.), a valorização do ouro (1.982$/oz.) e o aumento da volatilidade (VIX aproximadamente 21%) colocaram as coisas francamente difíceis. Na quinta-feira, finalmente saiu uma macro americana fraca (Índice Atividade Fed Filadélfia -9,0 vs -7,0 esperado; Indicador Adiantado -0,7% vs -0,4%; Vendas Casas Usadas -2% vs -0,7% anterior), o qual predispôs as obrigações a estreitar as suas yields, visto que isso reduziria a probabilidade de outra subida de taxas de juros por parte da Fed… mas Powell (Governador da própria Fed) entrou imediatamente em ação com umas declarações de abordagem hawkish/duras, embora confusas, e isso frustrou tanto a redução das yields, como, por extensão, qualquer recuperação das bolsas. Dessa forma, a semana ficava sentenciada à baixa. No entanto, após ligeiras subidas nas 2 anteriores (S&P500 +0,5% em cada uma de elas), aguenta especialmente bem, incluindo o ataque a Israel, na semana anterior. Convém considerar isto: a solidez das bolsas, apesar de tudo. As bolsas resistem bem, mas não conseguem avançar porque ainda desconhecem o alcance final da guerra contra Israel, porque não termina de consolidar-se a expetativa de que já não haverá mais subidas de taxas de juros, porque os resultados corporativos do 3T estão a cumprir em vez de bater expetativas e porque os conselheiros dos bancos centrais aprenderam a empregar uma dialética hawkish/dura gratuita para manter as yields de mercado altas e, assim, conseguir o mesmo efeito de retração sobre as bolsas e economia de subir taxas de juros, mas sem as subir. Por isso é que é gratuito. E conseguem-no. Não é provável que a situação mude até dentro de, pelo menos, 2 semanas. Esse é o prazo necessário para conhecer as consequências das medidas militares de Israel em Gaza e deixar para trás as seguintes reuniões do BCE (26 outubro, esta quinta-feira), da Fed (1 nov.) e do BoE (2 de nov.).

Esta semana, quinta-feira de conteúdo decisivo: BCE e PIB do 3T americano. Na quinta-feira, decide-se o importante: o quão agressiva (ou não) será a mensagem de Lagarde, porque é altamente improvável que o BCE suba taxas de juros (agora em 4,00%/4,50% Depósito/Crédito), e quão potente será o PIB do 3T americano, que se estima que poderá superar +4%, quando o do 2T foi de +2,1%. Isso suporia duplicar o ritmo de crescimento e reabriria a possibilidade da Fed subir um pouco as taxas de juros. Por isso, de segunda a quarta-feira, as bolsas não terão referências firmes e tenderão a lateralizar ou retroceder um pouco. Agora, os fatores diretores são 3: Israel, yield obrigações/Inflação e Resultados Corporativos do 3T. E são necessárias mais 2 semanas para dispor de informação fiável suficiente sobre os 3. Em relação a Israel, porque esse é o prazo mínimo razoável necessário para formarmos opinião sobre o alcance e consequências das medidas militares que aplica em Gaza contra Hamas.

Em relação à yield das obrigações, porque saberemos o sucedido nas seguintes reuniões do BCE (26 de outubro, esta quinta-feira), Fed (1 de novembro) e BoE (2 de novembro). As mensagens dos conselheiros são quase tão importantes quanto as decisões sobre taxas de juros. Empregam uma dialética hawkish/dura gratuita para manter as yields de mercado altas e, assim, conseguir o mesmo efeito de retração sobre as bolsas e economia que sobe as taxas de juros, mas sem as subir. E em relação aos Resultados Corporativos do 3T porque, até agora, limitaram-se a cumprir expetativas em vez de batê-las e, dentro de 2 semanas, já teremos um saldo suficiente para termos uma opinião mais fiável. Em condições normais estaríamos a viver um flight to quality ou voo para a qualidade, com quedas de bolsas e subidas de obrigações (redução de yield). Mas, como agora a liquidez remunera-se pela primeira vez em, aproximadamente, 12 anos, vivemos um flight to liquidity ou voo para a liquidez, que retira fluxos de bolsas e obrigações, fazendo cair ambos os tipos de ativos. A entrada em cena de uma segunda guerra (Israel) forçou a que se desse 2023 por terminado, antes do tempo. Por isso, antes de 2 semanas, é difícil que a situação melhore, embora estimemos que, até aos finais de novembro/princípios de dezembro, com mais informação e provavelmente não má, reconstruir-se-ão posições para 2024. De momento, resta esperar pelo menos 2 semanas.

As obrigações tratam de encontrar equilíbrio num contexto de volatilidade. A realidade é que a subida da yield facilita o trabalho à Fed. E foi assim que o demonstrou Powell. Isto implica um endurecimento das condições de financiamento e pressiona as suas próximas reuniões, num contexto onde a macro não enfraquece. Se a macro continua a mostrar força, com o PIB americano (quinta-feira) no foco, é difícil que a yield das obrigações se relaxe, pelo menos até conhecer as mensagens e perspetivas do BCE e da Fed. Neste sentido, entramos numas semanas de carrossel de bancos centrais. Esta semana teremos Canadá (quarta-feira) e BCE (quinta-feira). Seguirão um padrão comum: manter taxas de juros e reforçar o mantra de “taxas de juros mais altas durante mais tempo”. Portanto, a atenção estará na macro. Quando mais fraca, melhor para as obrigações. Intervalo (semanal) estimado T-Note: 4,90%/5,05%. Intervalo (semanal) estimado da yield do Bund: 2,85%/3,00%. Link para o vídeo (em espanhol).

Moeda: “Força do dólar apoiada por vários fatores.”

EuroDólar (€/USD)

As expetativas do BCE manter as suas taxas de juros de referência sem alterações e um dado de crescimento do PIB preliminar do 3T de 2023 americano forte deverão manter um tom de valorização no dólar vs Euro. Além disso, a incerteza geopolítica também deve manter o seu valor como moeda-refúgio. Int. est. (semana): 1,050/1,065


EuroLibra (€/GBP)

Uma queda mais forte do que o esperado nas Vendas a Retalho, em setembro, reforça a expetativa de que o BoE não subirá mais as taxas de juros. Um contexto de incerteza diminui o atrativo da libra. Int. est. (semana): 0,866/0,875.


Eurosuizo (€/CHF)

Se o BCE cumprir o guião e manter as taxas de juros, o mais provável é que o franco suíço continue valorizado, em níveis máximos históricos, atuando como ativo-refúgio perante maiores tensões geopolíticas no Oriente Próximo. Int. est. (semana): 0,940/0,960.


EuroYen (€/JPY)

Para o câmbio, a referência principal da semana será a decisão de taxas de juros do BCE. Se o banco central confirma a pausa no ciclo, o yen deverá sair beneficiado. Ligeira valorização do yen. Int. est. (semana): 156,6/158,6.


EuroYuan(€/CNH)

Semana praticamente sem referências macro relevantes na China. Portanto, todo o impacto que ocorra na taxa de câmbio virá do euro. Se o BCE manter taxas de juros (como se espera), deverá ser uma semana relativamente lateral. Int. est. (semana): 7,70/7,79.