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Estratégia de investimento semanal (18 de Março)

21.03.2022

Escrito por: Bankinter

Bolsas: “Continuidade instável e pouco fiável. Mercado sujeito às informações da guerra. Sem estímulos evidentes."

 

As bolsas têm-se aguentado realmente bem, mas habituar-se a uma situação má não é necessariamente bom… e não é, sem dúvida, o mais acertado. O binómio risco/rentabilidade esperada tem-se deteriorado consideravelmente com a guerra, de forma que a correta gestão do risco continua a ser a prioridade. A convivência das bolsas com os shocks é cada vez mais cordial, mas isto não significa que os shocks não tenham consequências. A herança que este “shock de guerra” vai deixar não será irrelevante nem transitória, considerando “transitória” um período inferior a 6 meses: (i) Severa desaceleração da expansão económica. Vejamos os 2 exemplos mais representativos. A Fed reviu, na quarta-feira, o seu PIB de 2022 estimado para a economia americana - talvez a menos afetada - de +4,0% para +2,8% e nós estimamos que, no caso da UE, a redução pode ser +2,6% de +4,3% (estimativa própria anterior). Isto representa perdas de crescimento esperadas de 30% e 40% respetivamente. Não são para desvalorizar. (ii) Uma inflação ainda mais alta. A Fed estima para 2022 (Deflator do Consumo Privado) +4,3% vs +2,6% anterior (nós +4,8%, mas no IPC) e para a Zona Euro estimamos +6,0% vs 2,2% pré-guerra. Isto é, inflações 40% e 63% superiores. Também não são irrelevantes. (iii) Isto vai forçar uma revisão em baixa dos resultados empresariais estimados para 2022 (EPS)… esta revisão ainda não começou e é por isso que as ações ainda não descontam este fator. (iv) Taxas de juro mais altas (entre os principais, o BoE e a Fed já começaram). Já estava descontado, mas não num contexto de menor crescimento e maior inflação, no qual aumentar as taxas de juro é mais arriscado porque as consequências são menos previsíveis. E é possível que os bancos centrais estejam a confiar demasiado na margem de que dispõem para subir as taxas de juro sem prejudicar o crescimento e o emprego. Este risco de erro também passa a ser maior. (v) O prémio de risco implícito do mercado aumentou com a inclusão do “fator guerra”, embora mais na Europa do que nos EUA, devido à nossa maior exposição e proximidade ao conflito. (vi) Por último, é incontestável que menos crescimento, mais inflação, lucros mais baixos, taxas de juro mais altas e um prémio de risco superior não podem resultar em avaliações mais generosas, mas sim menos. Ou, no mínimo, numa maior incerteza sobre a fiabilidade das mesmas. As bolsas ainda não estão a descontar isto, mas as avaliações deverão ser atualizadas ao longo das próximas semanas…

:: Não é o fim do mundo, mas sim um mundo diferente, menos confortável.- Tudo passa. E esta guerra não será exceção. Contudo, até que isso aconteça, o tom deverá piorar progressivamente. Na situação macroeconómica e nos lucros. Não de forma repentina. Na sexta-feira passada talvez já tenhamos tido um pouco disto: as Vendas de Casas Usadas nos EUA foram de 6,02M vs 6,10M esperados, recuando -7,2%. Provavelmente ainda não tenha sido por influência da guerra, mas sim pelas taxas hipotecárias em valores máximos dos últimos 3 anos (4,16% na semana passada; superiores a 4% pela 1.ª vez desde maio de 2019) e pelos preços imobiliários generosos (+15% homólogo), resultado de um rally que reduziu para 1,7 meses o período médio para vender uma casa vs 6/7 meses considerado como saudável. Não se podem tirar conclusões de um único indicador, mas a sensação de que o ciclo se encontra frágil em algumas frentes, como a imobiliária ou as ações, começa a ganhar forma se tivermos em conta a herança que a guerra vai deixar. Isto não significa necessariamente que tenhamos de enfrentar correções graves, mas sim que parece provável uma estagnação próxima dos níveis atuais. Ou ligeiros recuos, pelo menos durante algum tempo. Quanto tempo? Isso dependerá da duração e do desfecho da guerra. Falaremos com mais detalhe sobre esta questão na Estratégia de Investimento 2T de 2022 que publicaremos nesta quinta-feira dia 24.

:: Esta semana temos bastante informação macro e é importante fazer um bom acompanhamento.- Para o caso de começar a mostrar essa fragilidade que receamos e que seria coerente com o das Vendas de Casas americanas da passada sexta-feira. Na quarta-feira termos a Confiança dos Consumidores europeus, já de março, e o recuo poderá ser grave. Os PMIs europeus e americano de quinta-feira começarão a ver-se afetados, porque também são de março. E ainda, o IFO alemão de sexta-feira, especialmente tendo em conta o ZEW da passada terça-feira: -39,3 de +54,3!!. A situação macroeconómica desta semana não deverá ajudar, porque a sua qualidade deverá diminuir. Temos de esperar para ver. É pouco provável que, num contexto de tanta incerteza, seja errado sobrepor a proteção à ambição. Pelo menos durante algum tempo. Mas, tão preocupante é a deterioração do contexto, como a falta de possíveis estímulos para as bolsas… salvo um imediato final da guerra que, infelizmente, parece pouco provável. E, mesmo nesse caso, a herança já mencionada (menor crescimento, maior inflação, taxas de juro mais altas, menos lucros, etc.) já será inevitável.