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Estratégia de Investimento Semanal (1 de Abril)

04.04.2022

Escrito por: Bankinter

A liquidez (artificial) e a super inflação continuam a favorecer as bolsas com riscos em alta. Cuidado.

 

Esta semana, o mais importante são as atas da Fed na quarta-feira. Vai começar já a reduzir o balanço? Qual será o ritmo? Isto é importante porque até agora as bolsas têm aguentado, e mesmo recuperado, por 3 motivos:
(i) A liquidez artificial, injetada pelos bancos centrais. A Fed terminou em março e já se vai notar agora em abril mas, se também reduzir o seu balanço (se começar a vender obrigações), vai notar-se ainda mais. E o BCE deixará de comprar em junho, pelo que é quase inevitável que o fluxo de liquidez tenha uma redução nos próximos meses. Isto vai afetar as bolsas.
(ii) Uma inflação muito elevada, que obriga a assumir maiores riscos (imprudentes, na nossa opinião) perante a ausência de alternativas rentáveis: as obrigações encontram-se em pleno processo de ajuste (yields mais altas e preços em queda), pelo que ainda não são opção, isto só deverá acontecer em 2023, ou antes. À procura de uma rentabilidade para tentar neutralizar a elevada inflação, o dinheiro ignora as obrigações e movimenta-se na direção do imobiliário e das ações. Mas, com as taxas de juro a subir e os lucros empresariais (EPS) que começam a ser revistos em baixa (devido ao impacto da inflação nas margens e pela fragilidade do ciclo económico), ambas as classes de ativos são vulneráveis. Talvez não imediatamente, mas são vulneráveis. A revisão em baixa dos EPS esperados já começou, mas será mais evidente a partir de meados de abril, quando começar a publicação e revisão dos objetivos/guidances das empresas americanas e, ainda de forma mais evidente, a partir do final de abril, quando começarem as empresas europeias, que serão as que apresentem revisões mais em baixa. Já começamos a ter alguma indicação com algumas empresas têxteis, que fecham o trimestre em fevereiro: a Inditex publicou resultados fracos a 16 de março, pelo que descemos a recomendação de Comprar para Neutro (cotação -7,3% desde esta data); na mesma linha, a 31 de março, a H&M (descemos de Comprar para Vender) e a PVH (-10,5% e -13,4% respetivamente). Desde meados/final de abril, as perspetivas dos EPS têm diminuído, embora mais na Europa do que nos EUA, e é inevitável que as bolsas vão perdendo atrativo aos poucos.
(iii) A liderança de Wall St. sobre bolsas continua a ser uma tendência. Isto protege as bolsas. Os EUA estão a ser menos afetados pela guerra, pelas subidas das taxas de juro, etc. do que a Europa e o resto do mundo, pelo que as bolsas vão demorar um pouco a perder impulso. A maior resistência da bolsa americana atrasará a perda de atrativo das bolsas, mas não conseguirá evitá-la. A própria evolução inercial dos acontecimentos arrefecerá as bolsas: a liquidez extra dos bancos centrais não só desaparecerá, como poderá reverter-se, caso a Fed reduza o seu balanço, e os lucros empresariais começarão a diminuir. E o spread a 2-10 anos americano, que já antecipou 6 das 7 últimas recessões, já nos está a avisar, tendo entrado em negativo (-6,7 p.b.). Este aviso nunca é imediato, mas é fiável.
Por agora, esta semana vamos concentrar-nos nas atas da Fed de quarta-feira, para ver se oferecem orientação sobre a redução do seu balanço. Os restantes indicadores terão uma influência média ou baixa. A situação macroeconómica também deverá piorar em abril/maio. Não será de forma imediata, mas vai acontecer, e as bolsas não vão poder continuar a ignorar esta questão, como têm feito até agora. Não podemos esquecer que o ZEW e o IFO alemães recentemente publicados foram péssimos. A mudança de contexto é inevitável, mas nunca acontece de um dia para o outro, acontece progressivamente.