Tecnologia: Tendências e Desafios 2024

Tecnologia: Tendências e Desafios 2024

13.03.2024

Escrito por: Ideias que Contam

Inteligência artificial generativa, super apps, tecnologia sustentável, realidade estendida, gestão de riscos e vulnerabilidades. Nenhum destes temas é uma novidade absoluta, mas estão em evolução constante e, por isso, na agenda dos próximos anos.

A inteligência artificial (IA) está a dominar o firmamento da tecnologia onde, como um sol, tudo gira à sua volta. Entre as principais tendências para este ano e seguintes apontadas pela consultora Gartner, especializada em tecnologias de informação, algumas estão focadas neste novo paradigma que está a mudar a forma como os humanos se relacionam com as máquinas. No entanto, o cosmos desta indústria é muito mais vasto. Vejamos o que está a dar que falar.

IA generativa cada vez mais democratizada. Com o lançamento, em finais de 2022, do ChatGPT, um admirável mundo novo se abria às massas. E esse foi um dos primeiros objetivos da OpenAI, o laboratório norte-americano de inteligência artificial que o criou. Não era a primeira vez que os humanos conversavam com máquinas, mas nunca naquela dimensão tão aprofundada do conhecimento. Com a IA generativa (GenAI) surgia assim uma nova era no surpreendente universo da tecnologia conversacional, popularizada já este milénio por assistentes virtuais como a Siri (Apple) ou a Alexa (Amazon) e outros chatbots.

Estava dado o tiro de partida. Os gigantes Microsoft e Google apressaram-se a entrar na corrida e a lançar os seus próprios modelos de linguagem natural baseada em deep learning, ou aprendizagem profunda, que tenta imitar o cérebro humano para a produção de conteúdo criativo e informativo. Fevereiro de 2023 veria nascer o Chat Bing AI (agora Copilot) pela mão da empresa fundada por Bill Gates, enquanto o Bard (agora Gemini) era o projeto em desenvolvimento da Google AI que viu a luz do dia um mês depois. 

Embora inteligentes, estas ferramentas ainda são limitadas, mas a sua evolução é constante e estão a chegar a cada vez mais utilizadores, uma vez que têm versões básicas gratuitas de acesso universal, enquanto as versões pagas têm mais funcionalidades.

Apesar de ser um recurso em crescendo também na digitalização das empresas, a Gartner prevê um impacto gradual nos investimentos em AI ao longo deste ano, que é visto como um período de exploração e de preparação para o uso da GenAI nos negócios num futuro nada longínquo. Segundo a consultora, até 2025, a IA generativa será incorporada em 80% das ofertas de IA conversacional, acima dos 20% em 2023. 

Aplicações cada vez mais inteligentes e eficientes. Foi há pouco tempo que se começou a ouvir falar das superaplicações ou superapps. Pois elas aí estão cada vez mais poderosas, uma mudança, claro, que vem à boleia da universalização da IA. A colaboração entre humanos e máquinas inteligentes vai-se tornando mais e mais frequente e se considerarmos que a tecnologia evolui à velocidade da luz, prevêem-se transformações significativas no desenvolvimento de software orientado por IA, quer na criação de novas ferramentas como no aprimoramento das já existentes, como é o caso do popular e “velhinho” Excel. Melhorar a eficiência, automatizar processos, otimizar o desempenho e, consequentemente, a experiência dos utilizadores, é um dos objetivos. 

Segundo o site Statista, em 2023 foram descarregadas cerca de 257 mil milhões de aplicações só para dispositivos móveis.

AI TRiSM: para usar a IA com confiança. A IA generativa tem vindo a despertar grande interesse, mas as organizações muitas vezes não consideram os seus riscos até ao momento em que os modelos ou aplicações de IA já estejam em pleno uso. Um programa abrangente de gestão de confiança, risco e segurança (TRiSM, na sigla em inglês) de IA ajuda a integrar a governança com a antecedência necessária e garantir proativamente que os sistemas “inteligentes” sejam compatíveis, justos, confiáveis e protejam a privacidade dos dados.

É preciso não esquecer que a GenAI pode potencialmente transformar a forma como as empresas competem e trabalham, mas também injeta novos riscos que não podem ser abordados com controlos convencionais. Por isso, os modelos e aplicações de IA exigem monitorização constante através de processos especializados de gestão de riscos que devem ser integrados às operações (ModelOps) para manter a IA compatível, justa e ética.

Até 2026, os modelos de IA de organizações que operacionalizam a transparência, a confiança e a segurança da IA alcançarão uma melhoria de 50% em termos de adoção, objetivos de negócios e aceitação dos utilizadores.
A Lei de IA da União Europeia e outros quadros regulatórios na América do Norte, China e Índia já estão a estabelecer regulamentos para gerir os riscos das aplicações de IA.

 

Outros Paradigmas Relevantes

Gestão contínua da exposição a ameaças (CTEM na sigla em inglês). Com o espaço online cada vez mais aberto e com as lacunas na segurança cibernética de muitas empresas, é por isso fundamental para as organizações adotarem medidas proativas para identificar, avaliar e mitigar as eventuais vulnerabilidades que apresentem. A CTEM é uma abordagem importante, a realizar de forma sistematizada e numa lógica de melhoria contínua, para lidar com esses desafios de segurança no ambiente digital em constante evolução. 
Até 2026, a Gartner prevê que as organizações que priorizem os seus investimentos em segurança com base em processos CTEM perceberão uma redução na ordem dos dois terços das infrações.

Tecnologia sustentável. A Gartner define a tecnologia sustentável como uma estrutura de soluções digitais que permitem resultados ambientais, sociais e de governança (ESG) para a empresa e para os seus clientes.

À medida que as preocupações ambientais assumem uma posição central na agenda global, a consultora destaca a importância de práticas sustentáveis neste âmbito, uma vez que o lixo eletrónico é dos resíduos que mais crescem e menos de metade é reciclado. Um comunicado da Associação de Gestão de Resíduos Electrão, de outubro do ano passado, a apelar precisamente à correta reciclagem deste tipo de material, dá um exemplo, referindo que os 950 milhões de quilos de cabos descartados em 2022, um pouco por todo o mundo, dariam para contornar o planeta 107 vezes e que, de acordo com as Nações Unidas, em 2023 terão sido gerados oito quilos de resíduos de equipamentos elétricos por pessoa, ao nível global, o que significará um total de 61,3 milhões de toneladas. As projeções apontam que em 2030 a geração de e-waste ronde as 74,7 milhões de toneladas. Neste contexto, espera-se que a indústria adote abordagens ecologicamente corretas, incluindo data centers com eficiência energética, gestão responsável de lixo eletrónico e desenvolvimento de tecnologias verdes. Uma tecnologia sustentável não apenas alinha com a responsabilidade social corporativa, como também com o foco global na sustentabilidade ambiental. 

Integração de Realidade Estendida (XR). A Realidade Estendida, que engloba realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e realidade mista (MR), está pronta para se tornar mais mainstream em 2024. A Gartner prevê uma maior integração das tecnologias imersivas que combinam o mundo real com o digital em vários sectores, desde saúde, educação e turismo, até à indústria e retalho. Espera-se que as empresas aproveitem a XR para melhorar as experiências do utilizador, facilitar a colaboração remota e agilizar processos complexos.

Computação quântica. Apesar de não constar no top 10 da Gartner para 2024, a consultora prevê, até ao final da década, constatar-se o seu real impacto, uma vez que a computação quântica promete revolucionar áreas como finanças, saúde e ciência dos materiais. Este ano, a investigação e o desenvolvimento nesse campo avançarão significativamente, até porque o hardware já está disponível, abrindo caminho para inovações futuras disruptivas.

Empresas como a IBM estão na linha da frente desta tecnologia emergente que utiliza as leis da mecânica quântica para resolver, através de algoritmos quânticos e espaços multidimensionais, problemas demasiado complexos para os computadores tradicionais. 

O futuro da tecnologia é promissor, mas exige um olhar atento pelos desafios que acarreta, pela responsabilidade e a ética. A implementação de boas práticas será essencial para garantir que a tecnologia beneficia toda a sociedade de forma justa e equitativa.