As smart cities portuguesas que estão a antecipar o futuro

As smart cities portuguesas que estão a antecipar o futuro

15.04.2024

Escrito por: Ideias que Contam

Portugal não tem de ser reconhecido apenas pela sua história, gastronomia, praias e paisagens deslumbrantes. Tem também cidades “inteligentes”, onde a tecnologia está a revolucionar a vida dos munícipes. 
As cidades inteligentes portuguesas são polos de desenvolvimento e de experimentação de soluções urbanas inovadoras. Conheça os living labs que estão a redefinir a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos e que mais se têm distinguido em todo o país.

Águeda: o melhor município do mundo para viver

Águeda é apontada como uma das primeiras smart cities portuguesas, tendo sido igualmente uma das primeiras a assinar o “Pacto de Autarcas”. A adesão, em 2008, a este projeto da Comissão Europeia, destinado a autarquias locais e regionais que voluntariamente se empenham no aumento da eficiência energética e na utilização de fontes de energias renováveis nos respetivos territórios, foi mais um passo do município do distrito de Aveiro para promover o desenvolvimento sustentável do concelho. Em 2012, estava a ser reconhecida como um exemplo de cidade inteligente após o desenvolvimento de um projeto-piloto de partilha de bicicletas elétricas, que aliou a tradição à inovação, dando novo destaque ao sector das duas rodas, indissociável da sua história. Lembremos que Águeda é conhecida pela capital da bicicleta por ser uma região com grande cultura industrial de produção destes veículos de mobilidade suave, com várias empresas a atuar neste sector.

 

Atualmente, a cidade, que deve a sua fundação aos celtas, túrdulos (povo indígena da Ibéria) e gregos, remontando ao ano de 370 a.C. faz jus ao título “smart”. Além de ser uma urbe em franco desenvolvimento económico e social e uma das mais industrializadas do país, disponibiliza à sua população uma série de projetos e de ferramentas digitais que vão desde serviços online passando pela cultura, ambiente, saúde, educação, entre outros. 

Assume-se ainda como um laboratório urbano (Águeda Sm@rt City Lab), que se traduz num ambiente aberto de inovação, onde a autarquia, os cidadãos, as empresas e as escolas colaboram no desenvolvimento, implementação, validação e teste de novas tecnologias, serviços e respetivas aplicações. O objetivo é alterar hábitos de consumo e de utilização dos espaços públicos e privados e assim contribuir para a obtenção de ganhos significativos na eficiência energética e ambiental nos edifícios, nos espaços públicos, nos serviços urbanos e nos transportes. 

Em 2023, Águeda foi a Valeta (em Malta) receber a distinção máxima (ouro) dos LivCom Awards como Melhor Município do Mundo para Viver (categoria entre 20 mil e 75 mil habitantes), e a menção prata para o projeto Águeda Sm@rt City Lab, na área da sustentabilidade.
Aplicação de interação com os cidadãos: Águeda Cityfy

Barreiro: de cidade industrial a pioneira tecnológica

O Barreiro, localizado na “outra banda” da cidade de Lisboa, tem uma história milenar que remonta ao Neolítico. A avaliar pelos vestígios expostos no Espaço Memória, na Quimiparque, e no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, ali, a população já se dedicaria, há mais de cinco mil anos, à olaria.  Durante a expansão portuguesa, o Barreiro desempenhou um papel relevante na logística dos Descobrimentos e no século XVIII a povoação era palco de indústrias primitivas, de carácter artesanal, que podem ser descritas como indústrias manufatureiras, de que são exemplo inúmeros moinhos de maré e de vento que ainda se observam na região. Mas foi em 1861, com a abertura do primeiro troço ferroviário ao sul do Tejo, entre o Barreiro e Vendas Novas, que teve início o grande desenvolvimento industrial no concelho, nomeadamente na cortiça, que viria, já na alvorada do século XX, a ser substituída pelas indústrias químicas que tão bem caracterizaram a região e que se enraizaram na sua cultura também ao nível da inovação.

 

O Barreiro é hoje uma cidade moderna, pioneira na monitorização de mobilidade através do 5G (tecnologia que tira maior partido, em rapidez, segurança e fiabilidade da internet), direcionada para dois sectores importantes: a gestão de resíduos e os fluxos pedonal e rodoviário. Também a comunicação com os munícipes foi reforçada com a aplicação gratuita “Aqui Barreiro”, um canal para reportar ocorrências, receber informação variada acerca dos serviços do município, entre eles, Balcão Único do Cidadão, transportes coletivos, recolha de monos, turismo e equipamentos, entre outros.
A região está a preparar-se para o futuro, tendo aberto as portas à StartUp Barreiro, uma incubadora de negócios focada nas áreas da cultura, criatividade e sustentabilidade.
Aplicação de interação com os cidadãos: Aqui Barreiro

Guimarães: culta, inteligente e neutra

Guimarães está historicamente associada à fundação de Portugal, sendo por isso conhecida como cidade-berço. Aqui nasceu, em 1109, o primeiro rei português, Afonso Henriques, filho de pai francês, D. Henrique, e de mãe espanhola, D. Teresa, governantes do então Condado Portucalense.
Com o passar dos séculos, Guimarães viria a ser palco do desenvolvimento de algumas indústrias, de que são exemplo a cutelaria, a fiação e tecelagem de linho, a curtimenta das peles e a ourivesaria. 

 

Já no início deste milénio, o seu centro histórico bem preservado foi inscrito na lista de bens Património Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) pelo seu significado universal.

Capital Europeia da Cultura em 2012, Guimarães avançou em 2017 com o sonho de se tornar uma capital da tecnologia, fazendo parte da iniciativa DREAM Smart Cities for All, que incluía seis outras cidades europeias na senda de um futuro mais sustentável e inovador.

Nos últimos anos são muitas as iniciativas que o município tem desenvolvido, incluindo a criação de uma divisão na Câmara Municipal dedicada ao desenvolvimento de sistemas inteligentes (DDSI), além de ter sido escolhida para integrar o clube restrito da missão das 100 cidades inteligentes e neutras em termos de clima até 2030, a chamada “Missão Cidades” da União Europeia, e do  Pilot Cities Programme do NetZeroCities, uma ação que tem como missão testar localmente, durante dois anos, novas e inovadoras formas de descarbonização. 

Entretanto, o ano passado, o município vimaranense foi distinguido, entre 50 candidaturas, com o Prémio Nacional Portugal Smart Cities Summit – António Almeida Henriques, que avalia projetos de ecossistemas de inovação e práticas inteligentes em comunidades intermunicipais, municípios e juntas de freguesia.
Aplicação de interação com os cidadãos: CityFy

Leiria: na liderança de uma rede de cidades e regiões mais seguras

Faz fronteira entre o Norte e o Sul, foi feudo da rainha Santa Isabel e do seu enorme pinhal, expandido pelo rei D. Dinis, saiu a madeira que alimentou as naus que desbravaram caminho “por mares nunca dantes navegados” durante a epopeia dos Descobrimentos. A sua localização estratégica no território nacional favoreceu o desenvolvimento de várias indústrias diversas, permitindo não só o desenvolvimento da cidade como de toda a região circundante.

 

Sem nunca querer parar no tempo, Leiria é outro dos municípios que está cada vez mais digital e tem sido palco de múltiplos projetos inovadores que visam modernizar esta e outras cidades europeias. É o caso do UrbSecurity, um projeto europeu no âmbito do Programa URBACT, cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, que objetiva formas de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, implementando abordagens inovadoras à segurança em ambientes urbanos. A rede, liderada pelo município de Leiria, incluía outras cidades/regiões de Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda, Grécia, Eslováquia e Hungria.

As unidades de investigação do seu Instituto Politécnico têm estado associadas a projetos de vanguarda, como o Smart Farm CoLAB – Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura, que visa criar soluções inovadoras e automatizadas para a gestão eficiente de recursos, e para maximizar o valor acrescentado dos produtos nacionais de horticultura, fruticultura e viticultura, o GAMELabsNet, que tem como objetivo promover a indústria em Portugal, apoiando a transformação digital de empresas dos sectores dos moldes, agroindústria, saúde e turismo, e o U-Bike, que nasceu para alterar os comportamentos de mobilidade, em detrimento do uso do transporte individual motorizado, contribuindo para uma mobilidade mais sustentável nos campus universitários e nos territórios em que estão instalados, através da disponibilização de bicicletas elétricas.

A aposta em tecnologia e suporte à indústria são também o core do centro TECNEA, um espaço de inovação que promove o desenvolvimento de soluções disruptivas resultantes da estreita colaboração entre empresas que operam neste sector.
Aplicação de interação com os cidadãos: Município de Leiria

Lisboa: na vanguarda da inovação e da sustentabilidade ambiental

No ano passado, Lisboa posicionou-se, ranking de 141 cidades tecnologicamente inteligentes em todo o mundo, no 99.º lugar. O índice, elaborado pelo instituto suíço IMD, avalia 15 aspetos da vivência quotidiana, desde o acesso à habitação, espaços verdes, corrupção ou trânsito. Apesar de a capital portuguesa ter vindo a perder algum fôlego neste ranking relativamente a anos anteriores, Lisboa continua a trilhar o seu caminho em direção a um futuro mais digital e próspero. Prova disso é ter vencido, em 2023, o prémio da Comissão Europeia de Capital Europeia da Inovação (iCapital), que reconhece o papel das cidades na definição do ecossistema local de inovação e na promoção de inovações revolucionárias.
Uma dessas inovações viria a ser apresentada em meados de 2017 e amplamente distinguida com vários galardões, o último uma Menção Honrosa do Prémio Transformação Digital 2023, atribuído pela APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação. Trata-se da PGIL, a plataforma inteligente da cidade de Lisboa de acesso reservado aos utilizadores internos do município, que integra diversos sistemas de informação dos serviços municipais e de entidades externas, capaz de receber, apresentar e tratar um grande volume de dados em tempo real. Um ano antes, a Câmara Municipal anunciava o lançamento do Lisboa Aberta, um portal de dados abertos sobre a cidade, onde cidadãos, empresas, investigadores e programadores podem encontrar um variado conjunto de dados.

 

De recordar que, em 2020, a cidade das sete colinas ─ que se reergueu das ruínas do terramoto de 1755 ─ foi também Capital Verde Europeia, uma distinção que resulta da avaliação de um conjunto de especialistas internacionais sobre 12 indicadores de sustentabilidade, tendo sido a primeira vez que uma capital do Sul da Europa conquistou esta distinção. O júri valorizou especialmente os esforços para a construção de uma cidade mais amiga das pessoas, com destaque para a pedonalização de amplas zonas da cidade, e o forte crescimento das áreas verdes, bem como os avanços em áreas como a eficiência energética, a mobilidade urbana e a boa gestão da água.
Na altura, foi assinado o “Compromisso Lisboa Capital Verde Europeia 2020 – Ação Climática Lisboa 2030”, de que o Bankinter é signatário, assumindo a implementação de medidas/projetos, até ao final desta década, que contribuam para alcançar os objetivos, nas várias áreas de intervenção como a mobilidade, a eficiência energética e hídrica, as compras públicas ecológicas e a economia circular.
Aplicação de interação com os cidadãos: App Lisboa.24

Valongo: entre o desporto ao ar livre e o crescimento “verde”

Com quase 190 anos de história enquanto concelho, esta cidade do distrito do Porto é atualmente conhecida pela Capital do Desporto Outdoor. Com quilómetros de pistas e de trilhos para percorrer a pé, de bicicleta ou a cavalo pela cidade ou na natureza, locais de escalada e até um circuito de contemplação por belas paisagens serranas, o município tem na qualidade de vida das suas populações e ambiental um dos seus baluartes. Uma aposta que tem dado frutos e reconhecimento, nomeadamente com o European Green Leaf Award (EGLA) atribuído em 2022. O Prémio Europeu Folha Verde é uma iniciativa da Comissão Europeia que reconhece o compromisso com melhores resultados ambientais, destacando os esforços que geram crescimento verde e novos empregos. O envolvimento dos cidadãos em processos participativos, os projetos municipais de eficiência energética, a implementação de hortas biológicas urbanas, o sistema de recolha de resíduos porta a porta e a criação das associações intermunicipais Parque das Serras do Porto e Corredor do Rio Leça foram alguns dos pontos tidos em consideração pelo júri para atribuir este importante galardão ao município de Valongo.
Aplicação de interação com os cidadãos: Valongo

 

Viseu:  a cidade-jardim que se destaca pela maior qualidade de vida

Uma multiplicidade de flores, parques e espaços verdes embelezam Viseu ao ponto de ser considerada uma cidade-jardim desde 1935. Acreditam alguns que aqui possa ter nascido, por volta de 180 a.C., Viriato, o herói lusitano que enfrentou com valentia exércitos invasores que lutavam pela expansão romana na Hispânia. Mesmo sem certezas, a cidade dedicou-lhe um monumento que é um dos seus ex-líbris.

 

Em 2021, e repetindo a proeza de 2012, a Deco PROTeste volta a destacá-la como a Cidade com Mais Qualidade de Vida, nomeadamente em custo de vida, segurança e criminalidade, e limpeza e gestão de resíduos. Mas a ambição do município e sede de distrito é maior: Viseu quer ser também a melhor cidade para trabalhar, estudar, visitar e investir, e para isso tem vindo a inovar. Na mobilidade inteligente, por exemplo, foi Viseu que apresentou, em 2018, o primeiro transporte público elétrico não tripulado em Portugal, designado “Viriato”, integrado no Projeto de Mobilidade de Viseu – MUV. A ideia era substituir o funicular, mas, entretanto, acabou por nunca sair do papel.

Atualmente, o modelo de mobilidade viseense está construído baseado na reestruturação dos transportes públicos, na integração dos modos suaves e na renovação da política de estacionamento público, assente em seis componentes: o bus, o stop bus ou transporte sem paragens definidas (operado com veículo elétrico no centro histórico), além do funicular, que em determinadas épocas do ano liga a zona ribeirinha ao centro histórico, do bike, do park, o sistema de parques da cidade, e do telebus, ou transporte a pedido para as seis freguesias de baixa densidade. 
Aplicação de serviços de mobilidade para os cidadãos: MUV Viseu

Estes exemplos destacam o esforço e o compromisso de diversas cidades portuguesas relativamente à transformação digital e à transição energética em prol de um futuro mais sustentável e centrado nas necessidades das pessoas e do planeta. Cada município está a fazer a sua trajetória, levando a cabo iniciativas inovadoras que permitam enfrentar os grandes desafios urbanos contemporâneos. Importa ressaltar que estas não são as únicas cidades em Portugal a liderar este caminho, pois há outras, como Aveiro, Braga, Cascais, Porto, e muitas mais, que, com os seus projetos “inteligentes”, também estão a contribuir significativamente para uma mudança de paradigma positiva.