A revolução da Telemedicina: Como a telemedicina está a revolucionar a saúde

A revolução da Telemedicina: Como a telemedicina está a revolucionar a saúde

07.12.2023

Escrito por: Ideias que Contam

Prestar serviços clínicos à distância, partilhar conhecimento, promovendo a literacia em saúde e agilizar a comunicação entre profissionais do sector são alguns dos pressupostos da telemedicina que, além disso, facilita o contacto com os doentes e a colaboração entre as unidades de saúde.
A utilização da tecnologia ao serviço da saúde não é de hoje, mas os últimos anos vieram reforçar a sua importância para gerar mais eficiência ao sistema, reduzir custos e, acima de tudo, prestar um melhor serviço aos utentes e salvar vidas. A telemedicina completou este ano o 25º aniversário em Portugal, com o primeiro serviço a que se pode dar este nome a ser disponibilizado em 1998 na unidade de cardiologia pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), pelas mãos do cardiologista Eduardo Castela, fundador e presidente da Associação Portuguesa de Telemedicina. 
Na época, o hospital contou com o apoio da Administração Regional de Saúde (ARS) e conseguiu garantir o acesso aos utentes de todos os hospitais da região, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes. Através de consultas realizadas por videochamada, médicos especialistas conhecem casos e pacientes que, desta forma, são mais rapidamente encaminhados para cirurgias a que teriam o acesso mais dificultado sem a ajuda da tecnologia. Ao longo das últimas duas décadas e meia, centenas de pessoas recuperaram a sua saúde com a ajuda desta iniciativa. Números recentes do CHUC apontam para uma redução de 80% na ida de doentes ao hospital para consultas de acompanhamento, e de 68% no internamento de pessoas com insuficiência cardíaca avançada, por exemplo. 
Mas a telemedicina vai muito além da teleconsulta. A tecnologia, hoje com um potencial muito maior do que há 25 anos, permite fazer telerrastreios para antecipar e prevenir doenças, teleformação de profissionais de saúde, contribuindo para a sua integração mais rápida em equipas, projetos e especialidades, ou para a telemonitorização, que permite acompanhar doentes crónicos à distância (diabetes, patologias cardíacas, respiratórias, etc.). 

Solução para escassez de talento e longevidade

Ao contribuir para uma mais rápida formação de profissionais de saúde, a telemedicina poderá igualmente afirmar-se como uma ferramenta para ajudar a combater a escassez de recursos nessa área. 
Portugal, por exemplo, debate-se com a fuga de médicos e de enfermeiros que procuram melhores condições de trabalho noutros países, e tem dificuldade em atrair recursos que deem resposta às necessidades clínicas do país. Adicionalmente, as universidades não conseguem formar novos profissionais com a rapidez necessária. Com a ajuda da tecnologia, esta escassez pode ser colmatada, uma vez que menos profissionais conseguem dar mais consultas e monitorizar à distância quem precisa. 
Esta situação não é, contudo, exclusiva de Portugal. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para uma escassez global de profissionais de saúde na ordem dos 14 milhões. Números preocupantes, a que se junta o crescente envelhecimento da população, especialmente na Europa. Por cá, previsões apontam para que o país tenha, em 2050, mais de 60% da população com idade superior a 65 anos, o que coloca pressão sobre o sistema de saúde e abre a porta a um conjunto de novos desafios sociais e económicos. 

A pandemia permitiu acelerar a implementação da telemedicina de forma mais transversal, e hoje são cada vez mais as iniciativas neste sentido. De acordo com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), entre 2019 e 2020, as teleconsultas aumentaram 214% em Portugal. Se a estes números se juntarem todas as consultas médicas por email ou por telefone, o crescimento foi de mais do dobro e chegou aos 465%. A ERS revela ainda que, segundo um estudo junto da população, 43% dos utentes mostra-se satisfeito com a telemedicina. 

O futuro que já existe

Robôs cuidadores, como os que existem no Japão, por exemplo, são uma das soluções que deixaram a esfera da ficção científica e já começam a chegar também a Portugal. Para já apenas em projetos-piloto como o teste realizado em 2019 num lar de Vila Real, fruto da parceria com a Universidade de Trás-os-Montes (UTAD). Ali, os robôs de telepresença facilitam a comunicação dos idosos com a família e podem ajudar a evitar o esquecimento na hora de tomar os medicamentos. Agora, com a inteligência artificial (IA) será possível criar robôs que sejam amigos e companheiros para evitar a solidão nos mais velhos.
 
Mas antes de atingirmos a normalização destes equipamentos, serviços como a triagem telefónica ou digital através do SNS24 ou de serviços semelhantes prestados através de hospitais privados, contribuem para a resolução de milhares de situações clínicas que, de outra forma, levariam as pessoas às urgências, sem necessidade. Também o acompanhamento de doentes crónicos, como os diabéticos, através de SMS diários com questões sobre o seu estado, evitam crises e idas às urgências. 
Além dos benefícios na prevenção e na eficiência no acompanhamento de doentes, a telemedicina representa também uma redução nos custos da saúde para o Estado. Apesar do investimento que exige em sistemas de informação, a diminuição da despesa com os doentes é imediata. A telemonitorização de doentes crónicos reduz a necessidade de internamento e representa, portanto, menos custos continuados com estes pacientes. De acordo com a ERS, pelo menos 50 mil doentes em Portugal poderiam desde já beneficiar com esta monitorização à distância. 
Em Portugal não falta inovação a este nível, nomeadamente através de soluções criadas por universidades ou por start-ups nacionais. A plataforma da Knok (teleconsultas), da Sword Health (teleterapia) ou da B2Quant e da C-mo Digital Solutions (telemonitorização) são alguns dos exemplos de que a telemedicina e a tecnologia estão a revolucionar a saúde.