O que é biológico?

O consumo de produtos “bio” disparou nos últimos anos no mundo ocidental. Saiba mais sobre o seu modo de produção e faça boas compras. Nós damos-lhe as ideias.

 

A tendência não é de agora. A perceção de uma melhor qualidade por parte da opinião pública e preocupações com a saúde e ambientais têm levado a uma cada vez maior procura de produtos biológicos na hora de encher o frigorífico e a despensa. Para responder à procura, o mercado reage e aumenta a oferta. A agricultura e a produção em modo biológico em Portugal continuam, por isso, a crescer. Segundo dados do mais recente recenseamento agrícola, publicado no ano passado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e referente a 2019, em 10 anos as explorações certificadas para a produção em modo biológico triplicaram. O documento compara dados com o recenseamento anterior, realizado em 2009, e refere que existem atualmente cerca de quatro mil explorações, concentradas, sobretudo, no interior do país, um número que corresponde a um aumento de 214% face à década anterior. São boas notícias, portanto, para o consumidor que já não quer abrir mão da palavra “bio” nos produtos que compra.
 

Como se diferencia?

Mas apesar desta preferência, um estudo de 2018 realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Católica-Lisbon, em parceria com a ANIPLA, a Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas, mostrava que a grande maioria dos portugueses ainda desconhecia o seu modo de produção.

O que diferencia, então, a agricultura biológica dos modos de produção tradicionais? De acordo com a Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, AGROBIO, a agricultura que recorre a métodos biológicos “é um sistema de produção agrícola (vegetal e animal) que procura a obtenção de alimentos de qualidade superior, recorrendo a técnicas que garantam a sua sustentabilidade, preservando o solo, o bem-estar animal, o ambiente e a biodiversidade, privilegiando a utilização dos recursos locais e evitando o recurso a produtos químicos de síntese e adubos facilmente solúveis”.
Algumas dessas técnicas, que também são úteis para prevenir pragas e doenças, são a rotação de culturas, a reciclagem de matéria orgânica (compostagem), opção por variedades de plantas e de raças animais mais resistentes, cultivo de plantas fixadoras de azoto e de outras culturas de cobertura para restabelecer a fertilidade do solo, prevenção da sobrelotação dos espaços para animais, de forma a manter a sua saúde e bem-estar, entre outras.
Está proibida a utilização de organismos geneticamente modificados, de radiação ionizante e de hormonas. O recurso a adubos, herbicidas e pesticidas artificiais é limitado e os antibióticos estão restringidos aos casos necessários para a saúde dos animais.
 

Atividade regulamentada

Por tudo isto, e a fim de garantir a segurança da cadeia alimentar, a qualidade e a homogeneidade de práticas em todos os Estados-membros da União e uma concorrência justa para os agricultores, evitando fraudes e mantendo a confiança do consumidor num sector em rápido crescimento, a atividade de produção biológica está sob vigilância regulatória. Em janeiro deste ano, entrou em vigor uma nova legislação europeia, o Regulamento (UE) 2018/848, que estabelece novos princípios da produção biológica e define as suas regras quanto à certificação que lhe está associada e à utilização de indicações referentes à rotulagem e à publicidade, bem como as regras sobre controlos suplementares.
 

Será que é mesmo “bio”? 

Segundo a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural há vários pontos a ter em atenção no momento da compra, dos quais destacamos:

- A palavra “biológico” ou “bio” só pode ser utilizada em produtos que cumpram as regras de produção biológica e que sejam controlados e certificados por um organismo de controlo reconhecido pelo Estado-membro especificamente para esse fim. 

- Os produtos a granel devem fazer constar, além da palavra “biológico” ou da sua abreviatura “bio”, o número de código da autoridade ou organismo de controlo. Em caso de dúvida, solicite prova documental que certifica o cumprimento das regras de produção biológica na cadeia desse produto.

- Procure o símbolo. O logótipo biológico da União Europeia tem de constar em todos os géneros alimentícios pré-embalados na União Europeia, o qual deve estar acompanhado de outras informações, como o local de origem e o número de código da autoridade ou organismo que controlou e certificou o produto. Este selo confere ao consumidor uma série de garantias quanto à conformidade do produto em relação às regras a que está sujeito.
 

ONDE IR ÀS COMPRAS

Agora que já sabe o essencial sobre agricultura biológica, chegou a hora de ir às compras. Não sabe onde se abastecer? A pensar nisso, criámos um pequeno roteiro. Alternativa: fazer a sua pequena horta biológica em casa e cultivar você mesmo os seus próprios alimentos. Se não sabe por onde começar, sugerimos a leitura do livro Manual de Agricultura Biológica. Aprenda a melhor forma de organizar e cuidar de uma horta biológica e tenha sazonalmente, à mão de semear, hortícolas saudáveis e amigos do ambiente. Enquanto isso, não deixe de descobrir um mercado biológico perto de si.

1. PORTO

Cantinho das Aromáticas

Se é fã de chás, infusões e tisanas, neste “cantinho” encontrará todos os seus sabores preferidos. Empresa agrícola fundada em 2002, em plena cidade de Vila Nova de Gaia, dedica-se à produção de plantas aromáticas, medicinais e condimentares em modo biológico. Foi a primeira do género em Portugal… e uma das poucas em toda a Europa Ocidental. Muitos dos seus produtos já receberam várias nomeações e prémios. Se vive na região do Porto, pode deslocar-se à loja da rua do Meiral, mas a empresa tem loja online com distribuição em todo o país – cantinhodasaromaticas.pt

Feira de produtos biológicos do Porto

Decorre todos os sábados de manhã, no Parque da Cidade, há quase duas décadas. Nela participam mais de uma dezena de agricultores de diversas regiões nortenhas, do Minho às terras de Basto, todos certificados para a produção em modo biológico. Neste mercado, compra-se fruta, legumes, leguminosas, compotas ou pão diretamente aos produtores. É ao ar livre e a entrada faz-se pelo Beco das Carreiras.

Horta à Porta

Certificada em distribuição de produtos de agricultura biológica, esta empresa entrega, no Grande Porto, cabazes de fruta e hortícolas desde 2003 e, mais recentemente, de refeições. Os produtos são provenientes de produtores, também eles certificados, das zonas Norte e Centro como Trás-os-Montes, Celorico de Basto, Famalicão, Vagos, S. Pedro do Sul, Lourinhã e outros. Há cabazes de vários tamanhos e pode escolher os produtos que deseja receber e com que periodicidade – hortaaporta.com

2. COIMBRA

Mercadinho do Botânico

O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra recebe, todos os sábados, um mercado de produtos amigos do ambiente. A iniciativa surgiu, em 2004, de um encontro de vontades, entre produtores e consumidores, servindo de ponto de escoamento de produtos de agricultura sustentável, incentivando o desenvolvimento da agricultura biológica na região. Constitui, ainda, um espaço para conhecer projetos e práticas ecológicas e para a troca de ideias sobre o desenvolvimento sustentável e sobre formas de vida em equilíbrio com a Natureza.

 

3. LISBOA

Biomercado 

Fica na Duque de Ávila, bem perto do Saldanha. Aqui encontra uma grande variedade de produtos de origem natural, dos não perecíveis aos frescos que chegam diretamente do produtor. O peixe é pescado à linha e vem de Sesimbra, mas também há carne, vinhos e pão quente todos os dias. Tudo bio. Se não tem tempo para cozinhar, então experimente o restaurante no mesmo espaço, nem precisa de sair da porta. Faz entregas ao domicílio num raio de dez quilómetros da loja – biomercado.com.pt

Maria Granel

Esta mercearia faz-nos lembrar as de antigamente, onde tudo era vendido a granel, mas com um toque de modernidade. Junta dois conceitos, o biológico e o “zero waste” (desperdício zero), para fomentar uma alimentação saudável e um consumo responsável e consciente. Promove, com frequência, workshops temáticos presenciais para ajudar os interessados a serem mais sustentáveis. Na Maria Granel, plástico não entra. Encontramo-la em Alvalade e em Campo de Ourique, mas vende online, para todo o país – mariagranel.com

Mercados AGROBIO

Associação Portuguesa de Agricultura Biológica AGROBIO promove, supervisiona e efetua colheita de amostras aleatórias entre os diversos produtos existentes à venda nos seus mercados biológicos. A maioria são em Lisboa e arredores (Alameda, Campo Pequeno, Parque das Nações, Almada, Amadora, Cascais, Carcavelos, Loures, entre outros locais), mas também há um em Portimão (Algarve), aos sábados de manhã, no Jardim Visconde Bivar. Saiba mais sobre estes mercados no site da associação – agrobio.pt

 

4. ÉVORA

Souk

É numa casa caiada de branco, pois então, que está instalada a mercearia biológica Souk, palavra que nos remete para os mercados tradicionais das cidades do norte de África. Aqui, os eborenses, e os forasteiros que visitam a bonita cidade do templo de Diana, podem encontrar uma grande variedade de produtos ecológicos, incluindo os mais procurados “da época”, e, se quiser, tomar uma refeição frugal com os melhores sabores alentejanos. Está na rua de Viana.

5. ALMANCIL

Mercadinho Bio Natura

Às quintas-feiras, entre as 11h30 e as 15 horas, o Natura Garden Centre de Almancil abre as portas a um mercado biológico, onde é possível comprar variados produtos frescos, sobretudo ovos, fruta e legumes. Vá mais cedo e aproveite para desfrutar a natureza, já que o espaço onde o mercado se realiza é um bonito centro de jardinagem especializado, sobretudo, em plantas adaptadas ao clima algarvio.

6. MADEIRA

Mercado de Agricultura Biológica do Funchal

Na avenida Arriaga, no Funchal, é já hábito, todas as quartas-feiras desde 2007, encontrarmos uma mostra do melhor que a agricultura biológica madeirense tem para oferecer. Nesta feira, é possível estabelecer contacto direto com os produtores, conhecer os seus produtos e, até, colocar questões e esclarecer dúvidas. Uma mais-valia também para os turistas, que ficam a saber mais sobre a agricultura do destino que visitam.