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Gastronomia Sustentável
16.06.2023
Escrito por: Ideias que Contam
A receita sustentável para alimentar o planeta
Consegue imaginar uma casa grande com quase dez mil milhões de bocas para alimentar? Este é o número que, segundo a Organização das Nações Unidas, a população mundial poderá atingir até 2050 constituindo um dos grandes desafios do século XXI ao nível da sustentabilidade do planeta. O que está ao alcance de cada um fazer para mitigar esta realidade? Recomendamos cinco passos essenciais a seguir.
Desde meados do século XX até agora, a população mundial mais do que triplicou. Se em 1950 havia cerca de 2,5 mil milhões de pessoas no mundo, no ano passado foi ultrapassado o marco dos oito mil milhões. A previsão é para continuar a crescer, pelo menos, até quase ao final deste século, altura em que deve estabilizar e mesmo começar a regredir.
Entretanto, e até lá, surge a dúvida. Terá a Terra capacidade de gerar recursos para alimentar tanta gente sem destruir o seu já frágil ecossistema? Há estudos que dizem que sim. Uma investigação recente do instituto alemão PIK (Potsdam Institute for Climate Impact Research) afirma que basta mudarmos a forma como produzimos os alimentos e como comemos para fazer a diferença na vida das pessoas, no ambiente e nas economias. A receita encontrada? Consumir apenas o que é preciso em termos de necessidades nutricionais, reduzir o desperdício de alimentos e seguir uma dieta mais equilibrada, com mais vegetais e menos produtos de origem animal.
CONSCIENCIALIZAR O MUNDO
Em 2016, a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o 18 de junho como o Dia da Gastronomia Sustentável com o objetivo de consciencializar o mundo para esta realidade e levá-lo a tomar medidas. E porquê? De acordo com a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, os sistemas de produção de alimentos e agricultura em todo o planeta estão a enfrentar desafios sem precedentes, derivados da maior procura por alimentos para uma população crescente; do aumento da fome e desnutrição; dos efeitos adversos das mudanças climáticas; da sobre-exploração de recursos naturais; da perda de biodiversidade; e da perda e desperdício de alimentos. Por isso, tem vindo a sugerir estratégias para inverter esta tendência, preconizando cinco princípios-chave para a sustentabilidade alimentar e agrícola. São eles: aumentar a produtividade, o emprego e a agregação de valor aos sistemas alimentares; proteger e valorizar os recursos naturais; melhorar os meios de subsistência e promover o crescimento económico inclusivo; aumentar a resiliência das pessoas, das comunidades e dos ecossistemas; e adaptar os modelos de governance a esses novos desafios.
RESPONSABILIDADE PARTILHADA
A transição para uma agricultura e uma alimentação sustentáveis requer, assim, ação imediata e envolve toda a sociedade no seu sentido mais lato. Implica mudanças profundas, não apenas ao nível governamental, como também organizacional e individual.
Em 2020, a Comissão Europeia apresentou a estratégia "Do prado ao prato" como uma das ações principais do Pacto Ecológico Europeu, com o objetivo acrescido de contribuir para alcançar a neutralidade climática até 2050. A estratégia visa, pois, a transição do atual sistema alimentar da União Europeia para um modelo sustentável e inclui uma série de diretrizes para todos os Estados-membros com o intuito de transformar o modo como os alimentos são produzidos e consumidos na Europa, a fim de reduzir a pegada ambiental dos sistemas alimentares, reforçar a resiliência contra as crises e continuar a assegurar bens alimentares saudáveis e a preços acessíveis também para as gerações futuras.
Pode acompanhar o que está a ser desenvolvido em Portugal ao abrigo desta estratégia europeia através do projeto de comunicação e divulgação Do prado ao prato, que vai aos locais onde os alimentos são produzidos para conhecer os agricultores e produtores, as culturas e os modos de produção, além de mostrar a cadeia de distribuição e logística que termina na cozinha, com a confeção dos alimentos.
O QUE PODEMOS FAZER?
Cada um de nós pode tomar medidas em benefício próprio, através de uma alimentação mais saudável, e em prol do planeta, através de um consumo sustentável. Veja como.
Privilegie a compra dos alimentos a produtores locais e da época. Com isto, não só adquire alimentos mais frescos como está a contribuir para a redução da pegada carbónica e para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas. Lembre-se de que um produto que venha do outro lado do Atlântico, por exemplo, pode demorar dias desde a produção à mesa, necessitando, por isso, de uma maior logística, incluindo ao nível do transporte. É importante lembrar que um alimento consumido fora da sua época pode não respeitar o ciclo natural dos alimentos. Prefira produtos oriundos do comércio justo, que têm em atenção não só a qualidade desses produtos como as condições como são produzidos, considerando quer o bem-estar das pessoas como dos animais.
Adote os princípios da dieta mediterrânica. Ao contrário de muitos outros povos, os portugueses têm, por tradição, apetência para seguir um padrão alimentar de acordo com os princípios da chamada dieta mediterrânica. Adotada desde tempos ancestrais pelas populações da zona do Mediterrâneo, esta alimentação é rica em produtos hortícolas, fruta, cereais, frutos secos oleaginosos e leguminosas e assenta num consumo preferencial de carnes brancas em detrimento das vermelhas, num consumo moderado de peixe e de laticínios, num baixo consumo de açúcares e tem o azeite como fonte principal de gordura. Há que dar continuidade a este tipo de dieta, evitando as tentações da “fast-food” e dos alimentos processados.
Reduza o desperdício na preparação, confeção e consumo dos alimentos. Calcula-se que um terço de todos os alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado. Por isso, não hesite em reaproveitar as sobras de outras refeições e o que não conseguir mesmo consumir, doe. Prefira alimentos da época, que têm uma durabilidade maior, e tenha em atenção os prazos de validade dos produtos, escolhendo os de prazo mais alargado se não forem para consumir num curto espaço de tempo. Além disso, planeie as refeições e não vá às compras sem uma lista das necessidades, assim não compra por impulso o que não lhe faz falta.
Prefira embalagens familiares em vez das individuais. Para uma casa de família minimize a compra de produtos embalados, recomendando-se, no caso do plástico, que opte pelas embalagens reutilizáveis e não pelas de uso único. Quando chegar a hora de as deitar fora, não se esqueça de as separar por material e de as encaminhar para o ecoponto respetivo: amarelo para as latas, plásticos e pacotes de bebidas; verde para as garrafas, frascos e boiões de vidro; e azul para o papel e cartão. Prefira, em qualquer dos casos, embalagens ecológicas e recicláveis. Conheça os seus símbolos.
Adira à compostagem. Sabia que cerca de 40% dos resíduos produzidos em Portugal podem ser compostados? Para os resíduos orgânicos, a compostagem doméstica é o método sustentável de reciclagem que está atualmente na agenda dos municípios, que até ao final de 2023 deverão operacionalizar a recolha seletiva de biorresíduos. Para incentivar esta prática, a ZERO lançou o website dedicado à compostagem solo-a-solo.pt. Aqui, é divulgada informação sobre o tema à população em geral, disponibilizando concretamente aos municípios portugueses uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento de projetos municipais de compostagem doméstica. Um método que esta associação considera ser “um dos melhores caminhos para a redução e aproveitamento dos resíduos, para a redução das emissões e para atingirmos a sustentabilidade”. Faça também parte deste movimento!
Agora que já sabe (quase) tudo sobre alimentação sustentável, e se ainda não o fez, está na altura de repensar o que come e a forma como come. Qualquer mudança para um bem maior no coletivo começa muitas vezes nas nossas escolhas individuais.