Imagen

Empoderamento feminino nas áreas STEM: Oportunidade para transformar a ciência e a sociedade

11.02.2025

Escrito por: Ideias que Contam

 

A transformação tecnológica e o progresso económico e social, incluindo o desenvolvimento da inteligência artificial, trazem desafios para o futuro em que ninguém pode ficar de fora. Celebrar o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência (11 de fevereiro) é uma oportunidade para refletir sobre este tema e reafirmar o compromisso de criar um ambiente mais inclusivo e igualitário para todas as mulheres interessadas em construir uma carreira nas áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Conheça alguns dos programas que nasceram para impulsionar a mudança.

A tecnologia e a ciência são motores do futuro, mas, durante muito tempo, foram territórios quase exclusivos dos homens. Hoje, felizmente, essa realidade começa a mudar, ainda que o caminho para que o equilíbrio de géneros seja longo e cheio de desafios. 

Mulheres na ciência
 

De acordo com o Boletim Estatístico 2024 da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), apesar de ao nível educativo haver mais mulheres diplomadas do que homens, eles são a maioria dos formados nas áreas STEM. No entanto, desde 2015 que a proporção de mulheres diplomadas em STEM em Portugal é superior à média dos 27 países de União Europeia. Por outro lado, se há sector onde elas estão sub-representadas é no das tecnologias de informação e comunicação, cada vez mais imprescindíveis em todos os sectores da economia: em dez pessoas diplomadas nestas áreas cerca de oito são homens e apenas cerca de duas são mulheres.

No último STEM Women Congress 2024 foi apresentado o primeiro relatório com dados sobre a desigualdade de género em Portugal, reforçando a urgência de ações que promovam, desde idades precoces, a inclusão e a valorização do talento feminino na ciência e tecnologia.

Neste contexto, e com o objetivo de melhorar a representação das mulheres em carreiras tecnológicas, especialmente em funções de liderança e investigação, importa investir em iniciativas que fomentem a equidade desde o ensino básico até à inserção profissional, fundamental para mitigar estereótipos e estimular o interesse das raparigas por estas áreas, além de ajudarem a superar desafios históricos num país onde faltam programas estruturados para incentivar a participação feminina nestes sectores.

E porque essa participação contribui para a diversidade e reforça a competitividade de Portugal no cenário global, sendo um fator estratégico para o crescimento económico, o Governo português anunciou, no final de 2024, a sua Estratégia Digital Nacional, com um horizonte de aplicação até 2030, que inclui o Programa Nacional das Raparigas nas STEM, para promover esta área e atrair talento feminino para as tecnologias de informação e comunicação através de uma intervenção abrangente e estruturada em diferentes fases do percurso educativo e profissional com três eixos de atuação: Educação (do pré-escolar ao 12.º ano), Ensino Superior e Mercado de Trabalho.

O papel dos programas estruturados

Este programa nacional vem complementar outros já existentes, como o Technovation Girls Portugal, o Women in Tech Portugal, o Engenheiras por um dia, ou, entre outros, o Inspiring Girls Portugal que estão a assumir um papel essencial nesta transformação, trabalhando para que mais raparigas e mulheres encontrem o seu lugar nas STEM. 

Uma das razões pelas quais há poucas mulheres na tecnologia começa logo na infância. Desde pequenas, muitas raparigas não são incentivadas a explorar áreas como a programação, a engenharia ou a ciência de dados. O interesse por estes temas não nasce do nada, é cultivado através de oportunidades, de desafios e, acima de tudo, de referências que mostrem que a tecnologia também é um espaço para elas.

É aqui que entra o Technovation Girls, um programa global que chegou a Portugal em 2018 e que desafia muitas jovens a resolver problemas reais através da tecnologia. A ideia é simples: criar uma aplicação móvel ou ferramentas de inteligência artificial que tenham impacto positivo na comunidade. Mas, mais do que apenas aprender a programar, as participantes passam por um processo de aprendizagem que envolve pensamento crítico, trabalho de equipa e empreendedorismo.

Com o apoio de mentoras e profissionais da área, as equipas desenvolvem um projecto desde a ideia inicial até à criação de um protótipo funcional. No final, participam numa competição internacional, onde podem apresentar os seus projetos e aprender com outras jovens de todo o mundo.

O impacto deste programa vai muito além do resultado. Para muitas raparigas, o Technovation Girls é a primeira experiência prática com a tecnologia, ajudando a quebrar mitos e barreiras que, muitas vezes, as afastam destes sectores. A partir daqui muitas raparigas decidem seguir carreiras na área, tornando-se futuras engenheiras, cientistas e programadoras de que o mundo tanto precisa.

Se o Technovation Girls é um primeiro passo para despertar vocações, o Women in Tech Portugal foca-se num desafio diferente: garantir que as mulheres que já estão no sector tecnológico conseguem crescer e prosperar nas suas carreiras.

Em muitas empresas de tecnologia, elas continuam a estar em minoria e, muitas vezes, enfrentam dificuldades acrescidas para subir na carreira. A falta de representatividade em cargos de liderança e desigualdade salarial são apenas alguns dos obstáculos que ainda persistem. O Women in Tech Portugal nasceu para combater estas desigualdades e criar um espaço de apoio, formação e networking para as mulheres da área que assenta em quatro pilares fundamentais: Educação, Negócios, Inclusão Digital e Advocacia. A grande força do Women in Tech Portugal está na sua comunidade. O sentimento de pertença e apoio mútuo faz com que cada vez mais mulheres sintam que têm espaço para crescer e conquistar o seu lugar na tecnologia.

O Engenheiras por um dia consiste numa iniciativa do Governo coordenado pela Comissão para a Igualdade de Género (CIG) e pelo INCoDe.2030, em articulação com a Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI), o Instituto Superior Técnico e a Ordem dos Engenheiros, que envolve uma rede de 186 entidades participantes (62 escolas/agrupamentos, 23 instituições de ensino superior e 101 entidades parceiras, entre empresas, associações e municípios). Desde a sua criação, em 2017, já chegou a milhares de jovens dos ensinos básico e secundário, através de diversas atividades, entre práticas laboratoriais, sessões de role model e mentoria. Este ano, arranca a 8.ª edição com a missão de sempre: promover, junto das estudantes de ensino não superior, a opção pelas engenharias e pelas tecnologias, desconstruindo a ideia de que estas são domínios masculinos. 

Outro projeto que pretende vencer os estereótipos de género que continuam a estar muito presentes na sociedade, que reduzem as aspirações das raparigas e limitam as suas opções profissionais desde cedo é o Inspiring Girls Portugal. Fundado em 2021, a sua principal missão consiste, como o nome indica, em inspirar raparigas a alcançarem as suas aspirações, colocando-as em contacto com mulheres profissionais que são referências de sucesso na sua área de atividade. Em 2023, o Inspiring Girls expandiu-se, com a organização de uma série de dinâmicas como speed-networking, workshops financeiros e formação em igualdade de género. Com o apoio de mais de 400 voluntários, o projeto já impactou positivamente mais de 2500 alunas.

A tecnologia está a mudar o mundo a uma velocidade incrível. Garantir que as mulheres fazem parte dessa mudança não é apenas uma questão de justiça, é uma oportunidade para construir um futuro melhor, mais inovador e mais equilibrado.

Refira-se que o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, celebrado a 11 de fevereiro, foi instituído pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 2015 para destacar, precisamente, o papel essencial das mulheres na ciência e na tecnologia. As comemorações do décimo aniversário desta data têm por tema "Explorar as carreiras de STEM: a voz dela na Ciência", porque a diversidade na investigação científica enriquece o conjunto de investigadores, trazendo novas perspetivas, talentos e criatividade, essenciais para enfrentar desafios globais e alcançar o desenvolvimento sustentável.