O impacto da tecnologia na criação de um ensino 4.0

O Dia Internacional da Educação que hoje se assinala recorda que a educação é um direito que deve ser de todos. As ferramentas tecnológicas representam um contributo essencial para a concretização deste objetivo global.

Nos últimos anos, assistiu-se a um dos maiores desenvolvimentos tecnológicos da história da humanidade, com impactos transversais a todos os sectores da sociedade. O ensino não é exceção e, particularmente desde a pandemia, tem vindo a tornar-se mais digital. A 24 de janeiro celebra-se o Dia Internacional da Educação, um direito que deve ser de todos e que a tecnologia pode ajudar a garantir. 

As aulas online são possivelmente um dos melhores exemplos da utilização de tecnologia aplicada ao ensino. Da necessidade de manter as escolas a funcionar, surgiram diversas ferramentas que permitiam não só lecionar à distância com recurso a videoconferências mas também o acesso a recursos que potenciavam a colaboração entre alunos e professores, tais como o Microsoft Teams ou o Google Scholar. 

Embora a crise pandémica tenha terminado, muitas destas ferramentas continuaram a ser utilizadas, especialmente no ensino superior que mantém vários cursos a funcionar em regime híbrido ou até 100% online. 

 

De forma geral, a integração de tecnologia na educação resultou em diversas mudanças no ensino e na forma como os alunos lidam com a aprendizagem. Segundo o Relatório Global de Monitorização da Educação da UNESCO 2023 (GEM Report 2023), os conhecimentos básicos que se espera que os jovens aprendam na escola não só aumentou, como passou a incluir uma série de outras totalmente voltadas para o mundo digital. 

Além das alterações relativas às competências, os próprios conteúdos educacionais sofreram mudanças. Tornaram-se mais simples e interativos, com vários países a produzir versões digitais de livros escolares, e com a criação de repositórios online que disponibilizam aos alunos centenas de conteúdos, acessíveis a qualquer hora a partir da internet. 

Mas a implementação de tecnologia nas salas de aula, reais ou virtuais, não beneficia apenas alunos. Os docentes têm agora à sua disposição plataformas que permitem a escolha, modificação e gestão de materiais educativos, o que possibilita alguma personalização do ensino, mas também uma abordagem mais próxima e com mais apoio aos jovens. 

O outro lado do Ensino 4.0

Embora a UNESCO reconheça as aplicações positivas da tecnologia ao sector da educação e, inclusive, recomende a sua introdução, não deixa de alertar para as desigualdades que também provoca. Embora o digital se venha a revelar uma ferramenta poderosa, traz consigo impactos vastos e complexos, que se notaram claramente com a transição para o ensino online durante a pandemia.

 

De acordo com o GEM Report 2023, as aulas em formato remoto “evitaram o colapso” dos sistemas educativos, tendo alcançado mais de um bilião de estudantes. No entanto, pelo menos meio bilião de crianças e jovens ficaram de fora, por falta de oportunidades económicas e sociais para aceder à tecnologia necessária. 

 

Além disso, a organização também coloca em cima da mesa outro género de dificuldades provocadas pela utilização de tecnologia ao nível escolar, designadamente os impactos negativos no desempenho escolar dos alunos provocados por mais fontes de distração e mais probabilidades de fraude nas avaliações realizadas via online. 
Estes cenários verificaram-se, não apenas em países pouco desenvolvidos ou com elevados níveis de pobreza, mas também em Portugal. De facto, um estudo conduzido pela Universidade do Porto concluiu que mais de um terço dos estudantes admite que o seu desempenho escolar piorou com a transição para o ensino a distância e 8,1% dos jovens revelou ter dificuldades em aceder à internet. 

Efetivamente, o impacto da tecnologia na educação, e especialmente do ensino a distância, foi e continua a ser inegável, mesmo finda a pandemia. As possibilidades que abriu foram diversas, desde plataformas de colaboração, à maior personalização do ensino, passando pelo aumento das competências digitais dos jovens, conhecimentos essenciais para a sua vida futura. 

Embora ofereça diversas oportunidades e a sua utilização na educação deva continuar a ser incentivada, a UNESCO sublinha a necessidade de abordar as desigualdades de acesso e os impactos potencialmente negativos. Visando sempre o melhor interesse de todos os estudantes, o potencial das soluções tecnológicas tem de ser explorado, mas sem nunca abandonar a importante componente de interação humana no ensino.