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Impacto da inflação na economia mundial

29.08.2022

Escrito por: Bankinter

A inflação é um dos principais indicadores económicos do mundo e, tal como a tensão arterial, passa relativamente despercebida quando está em níveis normais, mas torna-se num problema se sai dos níveis aceitáveis. Atualmente, está descontrolada e no nível mais alto dos últimos quase 50 anos. Neste artigo, explicamos-lhe como a inflação já está a afetar a economia real mundial.

A subida da inflação está a criar vários desequilíbrios a nível económico em todo o mundo. A McKinsey Global Publishing, publicação da prestigiada consultora Mckinsey, apresenta em 7 gráficos a situação atual e os vários pontos de principal impacto

 

1) A inflação em alta supera previsões e destrói pressupostos
As previsões do Índice de Preços de Consumo (IPC) de praticamente todos os países foram ultrapassadas relativamente ao que era esperado há uns meses. De facto, as taxas reais duplicaram as projeções em muitos países, especialmente os europeus.

Esta situação desestabilizou os cálculos e previsões orçamentais realizados pelos países, empresas e famílias.

O gráfico seguinte mostra a inflação no final do primeiro semestre em vários países e assinala com um círculo a previsão que existia em dezembro relativamente a cada país, segundo a OCDE. Em todos, a inflação está descontrolada. No caso de Portugal, a previsão rondava os 2% e no final do primeiro semestre a inflação superou os 6%.

 

2) Os bancos centrais estão a subir as taxas de juro em todo o mundo
O principal trabalho dos bancos centrais é controlar a inflação. Esta tarefa foi desvalorizada nos últimos anos, já que se tratava de um indicador que não dava demasiados problemas. Contudo, com a inflação a disparar, os bancos centrais tiveram de atuar de forma agressiva.

Em poucos meses passou-se de taxas de juros historicamente baixas – incluindo negativas – para subidas significativas dos juros, com o objetivo de regressar a níveis normais, que refreiem o consumo e consequentemente os IPC mundiais. Ainda assim, o nível atual das taxas de juro não igualou o ritmo da inflação.

No gráfico seguinte podem observar-se as subidas registadas até ao final do primeiro semestre deste ano. Posteriormente, na Europa registou-se a primeira subida de taxas de juro, tendo o Banco Central Europeu alertado que não será a única subida. 

 

3) Os preços da habitação também se descontrolaram em muitos países

A subida da inflação teve um impacto importante na habitação. O preço das casas vinha subindo nos últimos anos em muitas zonas do planeta e a subida da inflação acelerou esse processo que tinha sido motivado pelo ajustamento imobiliário que muitas famílias efetuaram por causa da pandemia.

Em países como a Turquia, a Nova Zelândia ou a República Checa, a subida anual foi superior a 20%, mas grandes potências como os Estados Unidos também registaram aumentos muito significativos. Em Portugal, o preço da habitação subiu de forma significativa, representando praticamente o quadruplo do inicialmente previsto.

 

4) Multiplicação do preço das matérias-primas
Os preços das matérias-primas são frequentemente um dos epicentros da inflação e neste período também o foram. Além disso, a invasão russa na Ucrânia provocou alterações numa das zonas com maior produção de matérias-primas do mundo, afetando a oferta e consequentemente os preços, numa altura em que a procura estava em recuperação, fruto da evolução da pandemia.

Neste sentido, e tal como indicam os gráficos, registaram-se aumentos nos preços dos fertilizantes, do gás natural, do petróleo e praticamente de todas as matérias-primas, estendendo o impacto a quase todos os produtos.

 

5) Aumento preocupante do preço dos alimentos

Segundo a consultora McKinsey, a subida do preço dos fertilizantes, juntamente com o impacto da guerra na Ucrânia, agravou fortemente o preço dos bens alimentares essenciais. De facto, desde 2021, os preços dos alimentos subiram ao nível mais alto deste que a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação iniciou o registo. 

Os obstáculos na cadeia de abastecimento, as secas e outros fatores que influenciam o custo dos alimentos, provocaram uma subida recorde de preços e tornaram-se num problema para muitas famílias em diferentes partes do mundo. De facto, a consultora McKinsey fala num possível “início de crise alimentar”.

O gráfico seguinte mostra a evolução do preço real dos alimentos segundo o Food Price Index (FFPI) da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. O referido indicador mede a variação mensal nos preços internacionais de alimentos e está descontrolado, sendo uma ameaça para os meios de subsistência e de qualidade em muitas partes do planeta.

 

6) Erosão do poder de compra das famílias
O aumento da inflação provocou uma queda do poder de compra dos trabalhadores e das famílias, que com o mesmo dinheiro, constatam que conseguem comprar menos bens do que há uns anos. As subidas salariais não acompanham o índice de preços de consumo e isso traduz-se, neste momento, numa perda de poder de compra dos trabalhadores.

Através do gráfico seguinte, pode observar a variação (em percentagem %) do salário real dos trabalhadores por hora trabalhada em diferentes países desenvolvidos. O mesmo gráfico mostra a evolução dos salários, partindo de uma conjuntura estável nos trimestres anteriores, que se veio a alterar devido à pandemia, beneficiando os trabalhadores.  Desde que a inflação começou a subir, o salário real tem registado quedas para níveis negativos em quase todos os países, ou seja, os trabalhadores sofrem um declínio no seu poder de compra que poderá ser preocupante se a situação se prolongar.

 

7) Perspetivas sombrías para o crescimento económico

Se analisarmos o futuro, a curto e a médio-prazo, ainda não se vislumbram melhorias. Isto reflete-se nas previsões de crescimento económico das principais economias dos países ocidentais… que antecipam uma desaceleração. 

O aumento da inflação e todas as suas derivadas que foram analisados neste artigo indicam que a recuperação que a economia estava a registar poderia ter os dias contados. Com exceção dos países com elevada produção de matérias-primas (como a Arábia Saudita) ou elevado crescimento (como a Índia e a China), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) será muito modesto em 2022 e 2023 e, por enquanto, o abrandamento económico será a tendência geral.

Os últimos dados do IPC dos EUA divulgados em meados de agosto, que mostraram o seu primeiro declínio significativo em meses, é um vislumbre de esperança que ainda deve ser tomado com cautela quanto ao facto de ser ou não o início do fim deste ciclo de inflação ascendente. Os economistas esperam que o ritmo do IPC seja moderado nos próximos meses, mas ainda há demasiadas incertezas no horizonte (guerra na Ucrânia, oferta e procura de energia no Outono e Inverno, cadeias de abastecimento, o impacto do aumento das taxas de juro, lucros das empresas, tendências de emprego, etc.) para poder dizer com certeza.