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Finanças Pessoais - Fundo de Emergência

04.10.2024

Escrito por: Ideias que Contam

Gastos imprevistos? Dicas para começar já a constituir um fundo de emergência.

Fundo de maneio, reserva, almofada, pé-de-meia, poupanças. Existem vários nomes possíveis para a quantia que devemos guardar e ter sempre disponível para fazer face a situações e gastos inesperados, mas essenciais, garantindo estabilidade, segurança e bem-estar financeiros. Saiba porquê e como.

De uma avaria no automóvel a uma urgência médica ou a uma situação repentina de desemprego, as despesas ou uma quebra de rendimento súbitas podem desestabilizar as suas finanças pessoais. Sabemos que poupar não é fácil, no entanto, por diversos motivos, revela-se importante ter, pelo menos, um fundo para fazer face a gastos que surgem quando menos se espera. Verá como esta “almofada” financeira o vai ajudar, até a dormir melhor.

Sabia que mais de metade dos portugueses sente stresse, preocupação e tristeza devido à sua condição económica e que, apesar de 70% afirmar ter algumas poupanças, não tem as suficientes para cobrir despesas durante três meses em caso de perda de rendimentos? Além disso, um em cada três portugueses não conseguiria fazer face a uma despesa inesperada de 2 mil euros no mês seguinte, e 22% reportaram mesmo não ter, sequer, qualquer tipo de poupança. 

Estes e outros dados relevantes sobre a saúde financeira da população foram divulgados em maio no estudo “O Bem-estar Financeiro em Portugal: Uma Perspetiva Comportamental", desenvolvido pela fintech Doutor Finanças, em parceria com a consultora Laicos -Behavioural Change, a Associação para o Desenvolvimento da NOVA Information Management School e a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

A chave para conseguir algum fôlego na conta bancária de modo a fazer face a imprevistos está na poupança e é este o mote para este artigo.

 

Como criar e gerir a poupança

O custo de vida elevado tem vindo a pressionar o orçamento das famílias que experienciam dificuldades em cobrir as suas necessidades básicas e poupar para o futuro. No entanto, ter um fundo de emergência é uma medida que proporciona alguma segurança em tempos de incerteza económica, que lhe permitirá “respirar” numa situação de sufoco financeiro, prevenindo o sobre-endividamento ou o recurso a soluções de crédito com elevadas taxas de juro. 

 

Num contexto económico pessoal mais favorável, as decisões financeiras que venham a ter de ser tomadas sofrem menos pressão, pelo que não necessita de pedir empréstimos ou de vender ativos rapidamente, uma vez que a pessoa tem mais tempo e liberdade para pensar, evitando precipitações.

E porque não devemos “deixar para amanhã o que podemos fazer hoje” comece já a traçar um plano de poupança. Veja como:

Defina uma meta. Deve ser delineada em função das suas circunstâncias pessoais, dado que nem todas as pessoas têm as mesmas receitas e despesas. Calcule quanto necessita de poupar para cobrir, no mínimo, entre três e seis meses de despesas básicas. Depois, tendo em conta o salário que aufere, ou outras fontes de receita, avalie quanto pode reservar todos os meses para colocar no “mealheiro”. O valor não tem de ser fixo, mas sim constante. Reforce com subsídios de férias, Natal, eventuais prémios, reembolsos de IRS, entre outras fontes.

As pessoas sem rendimentos certos, como trabalhadores independentes e sazonais, também podem, e devem, ter reservas para aquelas alturas em que nada recebem. Nestes casos, é preciso fazer contas para encontrar o rendimento médio mensal e poder definir um montante a alocar ao fundo de emergência e traçar metas mais alargadas, trimestrais ou mesmo semestrais.
Em qualquer dos casos, não se esqueça de atualizar o fundo, quer as despesas e o rendimento aumentem ou diminuam quer tendo em conta a inflação, o que pode exigir esforços adicionais. Neste caso, sugere-se que acompanhe e se regule pela flutuação das taxas Euribor.

finanças pessoais

 

Defina também o conceito de “emergência”.

Estabeleça limites claros ao significado de emergência – um problema de saúde, a compra de um eletrodoméstico que avariou ou reparações/obras urgentes, desemprego, entre outras –, de modo a evitar gastar o fundo em coisas que não sejam urgentes nem essenciais, como aquelas férias com que sempre sonhou. Lembre-se de que qualquer gasto do fundo deve ser reposto. Por isso, continue a poupar.

 

Seja disciplinado e criterioso. A gestão do orçamento familiar exige disciplina, critério e coragem. Faça listas e elimine gastos desnecessários, revendo mensalmente todas as suas despesas regulares, sem esquecer as pequenas, e dê prioridade à poupança, mesmo que tenha de abdicar de pequenos prazeres pessoais.

Se tem família, assegure-se de que os seus membros estão conscientes da necessidade de constituir o fundo de emergência, para que o esforço de poupança seja repartido por todos. Provavelmente terá de reajustar o seu estilo de vida e hábitos de consumo à nova realidade.

Crie uma conta dedicada, sem cartões de débito ou crédito, nem cheques. Não misture as poupanças com o dinheiro disponível na conta à ordem para um melhor controlo de quanto está efetivamente a poupar e a gastar. Com isto, evita também cair em tentações de gastos supérfluos. Não estando o dinheiro na conta habitual, não o vê de imediato, o que acaba por servir de travão às compras por impulso.

Acompanhe a evolução do seu fundo de emergência com regularidade. Ver o dinheiro crescer aumenta a motivação.

Automatize a poupança. Configure, se possível, transferências mensais automáticas para uma conta-poupança. Assim nunca se pode desculpar que se esqueceu de fazer o depósito.

Mantenha o dinheiro acessível. Opte por uma conta-poupança flexível, que ofereça liquidez imediata, ou seja, que lhe permita mobilizar o dinheiro a qualquer momento, de modo a poder aceder ao mesmo facilmente em caso de emergência. Se optar por uma conta a prazo, garanta que têm capital garantido e que pode fazer reforços e mobilizações antecipadas.

Invista o “excedente”. Uma vez criado um fundo “de maneio” para os imprevistos, a melhor estratégia é continuar a poupar, aplicando esse dinheiro em investimentos de médio a longo prazo a realizar de acordo com o perfil de risco de cada um e que permitam gerar taxas de juros atrativas e, se possível, superiores à inflação. 

Como vimos, a criação e a gestão de um fundo de emergência é uma ferramenta essencial para garantir estabilidade financeira e, com isso, trazer tranquilidade à sua vida. Embora o ato de poupar exija disciplina e sacrifício, os benefícios a longo prazo são incontestáveis. Com um plano de poupança bem delineado, e cumprido, não compromete o seu bem-estar financeiro, enquanto lhe proporciona segurança e liberdade para o futuro.