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Novas tendências de consumo

27.07.2021

Escrito por: Ideias que Contam

Consumidores mais exigentes

Uma experiência positiva e personalizada, preocupações com a sustentabilidade, e a adoção generalizada das compras online são tendências que a pandemia criou e que irão manter-se quando a circulação de pessoas regressar a níveis semelhantes aos de 2019.

 

 

Da corrida ao papel higiénico e aos enlatados, passando pela procura de máscaras e de álcool gel, à explosão das compras online, muito se alterou quando, há um ano e meio, a pandemia da Covid-19 atingiu o mundo. Portugal não foi exceção e, em poucas semanas, comerciantes e consumidores revelaram uma enorme capacidade de adaptação à nova realidade. 

Do lado de quem vende, a aposta no digital, nas vendas online e nas entregas em casa, depressa aumentaram a oferta, enquanto do lado de quem compra, a facilidade, a comodidade e, acima de tudo, a segurança falaram mais alto na hora de encher a despensa. No entanto, a forma de consumir foi-se alterando ao longo dos meses da pandemia. Como explica a professora Ana Margarida Barreto, inicialmente e durante o primeiro confinamento, as compras foram essencialmente racionais, “à exceção do açambarcamento do papel higiénico que foi claramente uma compra motivada pelo pânico”. A incerteza sobre o futuro e, em muitos casos, a quebra de rendimentos, conduziu à escolha dos bens essenciais como aquisições prioritárias, a par com outros produtos relacionados com a saúde e o bem-estar, revela a especialista em comportamento do consumidor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.

Do outro lado do Atlântico, Frank Feather, especialista canadiano em marcas e tendências de mercado, apresenta conclusões semelhantes.

 

“A saúde e a conveniência foram as prioridades dos consumidores durante os confinamentos, tendo procurado mais o comércio online”.

 

O CEO e fundador da AI Future, Inc, acredita, contudo, que as compras online irão manter-se a um nível mais elevado do que antes da pandemia, apesar de alguma quebra à medida que as sociedades vão abrindo. “Pelo menos 50% dos novos consumidores online irão manter-se, especialmente entre as faixas etárias mais jovens e com maior apetência tecnológica”. 

 

 

Por cá, o comércio eletrónico cresceu quase 60% em 2020, ultrapassando os 110 milhões de euros em transações, segundo dados revelados pela ACEPI (Associação da Economia Digital) em parceria com a IDC (International Data Corporation). Com este dinamismo das transações online, Portugal conseguiu subir dois lugares no índice de comércio eletrónico da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento; relatório de fevereiro) para a 40ª posição, apresentando uma percentagem de 51% da população a fazer compras através da internet.  

Com a abertura das lojas físicas, quer em 2020, quer já em 2021 após o confinamento ocorrido nos primeiros meses do ano, os consumidores regressaram aos ‘velhos hábitos’ mantendo, no entanto, uma maior racionalidade nas compras e uma preocupação crescente com a sustentabilidade, a par com uma exigência adicional na escolha dos produtos, mas também da experiência personalizada. Estas tendências estão a empurrar muitos consumidores para o comércio local e tradicional, onde a expectativa é encontrar produtos mais ‘naturais’, com mais qualidade, e mais saudáveis. “O consumidor ganhou consciência da sua vulnerabilidade física e financeira, tornando-se mais responsável no consumo”, explica Ana Margarida Barreto. 

 

 “O consumidor ganhou consciência da sua vulnerabilidade física e financeira, tornando-se mais responsável no consumo”

 

Frank Feather subscreve esta opinião, recordando que segurança, conveniência e orçamento foram as preocupações que perduraram, ao longo de mais de uma década, depois da Grande Depressão que aconteceu nos anos 30 do século passado. A tendência agora, no pós-pandemia, será, na opinião do especialista, muito similar. “Muitos consumidores não estão a gastar mais, seja online ou em compras físicas, porque a crise tende a tornar-nos mais frugais”. Independentemente de terem conseguido acumular poupanças durante os períodos de confinamento, “muitos consumidores perceberam que há coisas que não são essenciais para satisfazer as suas necessidades”, reforça. 

 

“Muitos consumidores perceberam que há coisas que não são essenciais para satisfazer as suas necessidades”


Ainda assim, o fenómeno de ‘revenge spending’, ou seja, gastar o que não teve oportunidade de gastar poderá verificar-se em algumas franjas da sociedade, graças às poupanças dos portugueses, que atingiram um valor recorde em março deste ano. Segundo dados do Banco de Portugal foram amealhados em território nacional mais de 164,6 mil milhões de euros, um valor que não se verificava desde a década de 80.

 

 

Independentemente dos novos hábitos que possam permanecer, Ana Margarida Barreto acredita que, gradualmente, a tendência é para desvalorizar o que aconteceu e para retomar comportamentos anteriores. Ainda assim, Frank Feather defende que não haverá um retorno ao ‘antigo normal’. A exigência e o conhecimento dos consumidores não irá, na sua opinião, voltar atrás, o que obrigará os retalhistas a manter a sua alternativa online. “Quem ficar agarrado ao passado não sobreviverá e o grande desafio é ser digital”, conclui. 

O consumidor de hoje é outro? Que novos padrões de consumo podemos identificar e como vão evoluir? Os velhos hábitos vão voltar ou as lojas físicas irão, tendencialmente, desaparecer? Será que a pandemia mudou para sempre a nossa forma de consumir? Ainda não temos uma resposta concreta. Resta-nos esperar para saber até quando estas tendências se vão verificar.