Aceleração Digital em Portugal

14.09.2021

Escrito por: Ideias que Contam

Portugal está mais digital

A pandemia foi o motor que permitiu uma aceleração digital sem precedentes em Portugal e no mundo. Sem este acontecimento, a economia teria sido ainda mais afetada e a população mundial poderia ter visto as suas vidas ainda mais em suspenso.

A travagem a fundo a que a covid-19 forçou o mundo tal como o conhecíamos foi o ‘clique’ que faltava para acelerar a transformação digital, que vinha já a desenhar-se nos últimos anos. No entanto, esta aceleração provocou em poucos meses mudanças que, numa situação normal, teriam demorado pelo menos cinco anos. O trabalho remoto, o ensino à distância, as reuniões de trabalho em plataformas que, apesar de existirem, não eram usadas com tanta frequência quanto seria possível, as compras online e as teleconsultas tornaram-se normalidade em vez de exceção e revelaram uma enorme capacidade de adaptação por parte dos empresários e dos seus colaboradores. 

Aliás, como revela o Global CEO Survey, um estudo anual realizado pela consultora PwC, 94% dos CEO portugueses consideram aumentar o seu investimento de longo prazo para a transformação digital. Com a experiência da pandemia, os gestores e empresários tomaram consciência da importância do digital para os seus negócios e do aumento de competitividade que esta mudança lhes pode aportar, seja qual for o seu setor de atividade.

Quase um ano e meio depois do primeiro impacto, o que vemos de diferente nos vários setores que encontramos no nosso dia a dia? 

 

Banca 

As plataformas de homebanking e as apps financeiras são hoje muito mais utilizadas do que antes da pandemia. Novas funcionalidades e uma comunicação ainda mais próxima com os Gestores de Cliente contribuíram para facilitar a relação entre os bancos e os seus clientes. Hoje existe uma maior preocupação em melhorar a ‘experiência do cliente’ e em agilizar processos que anteriormente não faziam parte deste novo mundo digital, tais como a abertura de conta, a contratação de Crédito Habitação e a subscrição de fundos de investimento, entre outros.

A inteligência artificial (IA) entrou em força nestes processos, sendo mais visível através de chatbots e assistentes virtuais que dão apoio ao cliente. Por outro lado, a personalização do atendimento é também uma preocupação. Integrar estes assistentes com outras soluções tecnológicas permite desmaterializar processos, normalizar a assinatura digital de documentos e integrar tudo com os sistemas informáticos mais ‘tradicionais’. O resultado é uma maior eficiência interna, mas também uma celeridade na resolução dos problemas dos clientes, criando novas formas de proximidade, neste caso uma proximidade digital.

Ao nível dos pagamentos, a utilização de cartões contactless aumentou exponencialmente, inicialmente para evitar o toque nos terminais de pagamento. Hoje, consolidado o hábito, existe um nível de utilização muito elevado também pelo seu caráter mais prático, que evita a digitação do código em despesas inferiores a 50 euros.


Saúde

As teleconsultas, cuja tecnologia já existia antes da pandemia, não eram uma opção considerada pela maior parte dos utentes dos serviços de saúde. As restrições da pandemia aceleraram a sua utilização e procura e obrigaram os serviços a reforçar a sua oferta de sistemas digitais. Nos internamentos, e devido às restrições nas visitas, tornou-se ‘normal’ a utilização de tablets e smartphones para videochamadas entre pacientes e família e mesmo a marcação de consultas e de exames passou a ser possível - e facilitada - através das apps e plataformas lançadas pela maioria das unidades de saúde. 

O portal SNS 24 é atualmente, no setor público, uma ferramenta importante – e interessante –, que permite ao utente fazer a gestão de todo o seu processo clínico, armazenando num mesmo local toda a informação sobre vacinas, medicação, exames médicos e consultas. 


Educação

As aulas à distância impostas pelos confinamentos obrigaram as escolas a adaptar-se. Professores e alunos mudaram a forma de ensinar e de aprender em tempo recorde e tornaram possível a continuidade do ano letivo de 2019-2020 dentro da normalidade. Ferramentas como o Microsoft Teams, o Zoom e outras passaram a ser usadas no dia a dia e facilitaram a aprendizagem. As desigualdades entre alunos e a falta de equipamentos para o acesso às aulas transpareceram, mas o esforço de mitigá-las foi visível por parte das escolas, câmaras municipais e empresas, que procuraram fazer chegar tablets e PC a quem deles necessitava. Para o futuro fica a experiência na utilização reforçada do digital, que veio para ficar, mas agora como ferramenta complementar ao ensino tradicional. 


Estado e serviços públicos

Tratar de assuntos relacionados com Finanças, Segurança Social, registos e notariado, tribunais ou câmaras municipais tornou-se mais simples pela disponibilização de um conjunto renovado de ferramentas digitais. No entanto, e apesar de continuarem a existir situações em que a digitalização não está a funcionar a 100%, foi possível manter um funcionamento praticamente ‘normal’ no contacto entre o cidadão e os serviços públicos. O Cartão do Cidadão é disso exemplo, com a possibilidade de renovação automática para quem tenha mais de 25 anos e não tenha qualquer alteração a registar. Nestes casos, o cidadão recebe os códigos de acesso e referências para pagamento por correio, sendo enviado o cartão logo que o valor da renovação seja pago e confirmado. Em algumas câmaras municipais é agora possível pedir documentos, certidões, etc., sem sair de casa e os portais da Autoridade Tributária e da Segurança Social Direta contam com novas funcionalidades.


Lazer

Enquanto duraram as restrições mais apertadas, vida social e entretenimento só foram possíveis com a ajuda das ferramentas digitais. Para passar o tempo, as plataformas digitais de streaming – Netflix, HBO, Amazon Prime, entre outras – foram uma opção escolhida por milhares de portugueses e reforçaram as suas quotas de mercado, que já vinham a crescer nos últimos anos. As redes sociais foram também uma ajuda para passar o tempo, com um conjunto de espetáculos de música, dança ou teatro a serem transmitidos por esta via. Em especial durante os períodos de confinamento, a criatividade e a imaginação ditaram os limites da ‘programação’ do entretenimento digital.


Restauração

Um dos setores que foi obrigado a dar um salto enorme a nível tecnológico e a digitalizar o seu negócio foi o da restauração. Com as portas fechadas, muitos espaços viram no sistema de take-away e de entregas a salvação, ou pelo menos a possibilidade de manutenção do negócio e dos postos de trabalho. Com o ‘empurrão’ dado pelas plataformas de entregas de comida, como a Uber ou a Glovo, muitos restaurantes criaram verdadeiras linhas de montagem entre a cozinha e a casa do cliente. Para uma grande percentagem de espaços esta foi a primeira grande incursão no mundo digital.

Além dos estabelecimentos de restauração que aderiram às plataformas de entrega ou que criaram as suas próprias redes de encomendas e de distribuição, outros nasceram exclusivamente no digital. Pela primeira vez tivemos (e temos) em Portugal restaurantes que não existem no mundo físico – além de uma cozinha localizada algures –, mas que já conquistaram clientes através das ferramentas digitais.


Indústria 

Sendo a indústria um setor mais ‘tradicional’, o processo de aceleração digital tem vindo a decorrer, ao longo dos últimos anos, com grandes disparidades. Se nuns casos temos indústrias ainda muito artesanais, noutros temos fábricas equipadas com a tecnologia mais inovadora e verdadeiramente imersas naquilo que se chama Indústria 4.0. Ao longo da pandemia, a transformação digital também acelerou bastante neste setor, com muitas empresas obrigadas a alterar os seus processos de fabrico e logística para chegarem diretamente, e mais rápido, aos seus clientes, mas também outras que mudaram por completo o produto, os processos de produção e as formas de comercialização para dar resposta às necessidades do mercado. Neste último segmento temos casos, por exemplo, na indústria têxtil que deixaram de produzir roupa para produzir máscaras de proteção ou fatos de proteção para o setor da saúde ou destilarias que trocaram o gin pelo fabrico de álcool-gel. Também aqui, não fosse a necessidade a aguçar o engenho – com o apoio da tecnologia –, muitas organizações teriam ficado pelo caminho. 

 

As transformações verificadas nestes e noutros setores são o reflexo do poder da digitalização, impulsionada pela pandemia. Mesmo as empresas que, no início, não equacionavam investir no desenvolvimento de uma proximidade digital com os seus Clientes, sabem que hoje esta é a palavra-chave. O digital veio para ficar e está claramente a abrir caminho a novas oportunidades, novos processos e novos canais de venda, para instituições e empresas de muitos setores.


Números a reter

48% dos CEO dizem que a rapidez das alterações tecnológicas se converteu numa das suas principais ameaças.

40% dos gestores referiram ter intensificado o ritmo de digitalização nas suas empresas, de acordo com o Global Digital Trust Insights 2021, da PwC.

18% estão a entrar em novos mercados e/ou setores de atividade.

78% dos gestores afirmam ter tido um progresso acelerado na criação de uma experiência digital melhor para o cliente, segundo um estudo da KPMG.

 


 

Compras Online (Portugal)

 

57% dos utilizadores de internet fizeram compras online em 2020.

60% das empresas têm presença online. Fonte: Unicre

 


 


 

Entretetimento

Fonte: Observatório Europeu do Audiovisual (OEA) + Marktest

 

22% dos lares nacionais têm acesso a pelo menos uma plataforma de streaming (média europeia é de 18%).

 

2,3 milhões de subscritores de streaming durante o confinamento em 2021.

3,6 milhões utilizam estas plataformas com regularidade.

 


 

Educação

Fonte: YouGov Teacher da Microsoft

83% dos professores sentem que a aprendizagem não está limitada por uma hora e local específicos.

71% dos professores acreditam que a tecnologia ajudou a capacitá-los em formas que melhoram o ensino e as suas capacidades.

82% consideram que o último ano acelerou o ritmo no qual a tecnologia impulsionou a inovação no ensino e na aprendizagem.

 


 

Saúde

Fonte: Closing the Digital Gap: Shaping the future of European Healthcare da Deloite

60% dos profissionais de saúde acreditam que em cinco anos os sistemas de saúde estarão totalmente digitalizados.

44% dizem que falta formação tecnológica aos profissionais de saúde.

84% dos profissionais de saúde em Portugal acreditam que as suas organizações estão preparadas para adotar tecnologias digitais.

 


 

Indústria

Fonte: MIT + Global CEO Outlook da KPMG

85% Aumento de produtividade na indústria quando existe colaboração entre robôs e humanos.

15% será o aumento dos postos de trabalho em Portugal até 2030 com a utilização da IA (Inteligência Artifical) na indústria.

10 minutos é tempo em que um sistema inteligente faz o orçamento para um projeto de construção integrado, que um humano demoraria cinco meses.

 


 

Restauração

Fonte: The Fork

74% dos consumidores acreditam que a utilização dos serviços de entregas continuará a aumentar no pós-covid.