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Rumo à neutralidade

05.09.2022

Escrito por: Ideias que Contam

Da eólica ao solar, Portugal tem apostado, nas últimas décadas, na transição energética para diminuir a dependência das energias fósseis. Hoje, a componente verde pesa cerca 60% na produção de eletricidade, mas o que reserva o futuro?

A soberania de uma nação está intimamente ligada à sua gestão energética, uma realidade que se tornou ainda mais presente com o conflito na Ucrânia e as ameaças de interrupção do abastecimento de energia pela Rússia à Europa. Mais do que nunca, a transição energética e a aposta no crescimento das energias renováveis reforçam a importância no velho continente. E, neste campo, Portugal está na linha da frente no que à incorporação da energia verde no seu mix de produção elétrica diz respeito – no primeiro semestre do ano, de acordo com a REN, o país gerou mais de 21 mil GWh de eletricidade no continente, dos quais 57% com origem nas renováveis. Ocupa, assim, o quarto lugar na Europa na primeira metade de 2022. 



Rumo à Neutralidade.



Ao nível da União Europeia (UE) e segundo dados da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, Portugal conquistou, em 2021, a quinta posição entre os Estados-membros com maior índice de incorporação de energias limpas na produção elétrica (63%). À frente ficaram países como a Noruega (100%), Áustria (82%), ou Dinamarca (73%). O caminho rumo à neutralidade carbónica – objetivo a atingir até 2050 – percorre-se com os olhos postos no crescimento destes números, com ganhos para a economia, para os cidadãos e para o ambiente. Aliás, de acordo com um estudo recente da Deloitte, os consumidores nacionais pouparam cerca de 6,1 mil milhões de euros na fatura da eletricidade devido à produção com origem verde, entre 2016 e 2020. 

Em declarações recentes à comunicação social, o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, considerou que “a Península Ibérica será a região europeia com maior potencial renovável elétrico”, mas também “para o hidrogénio verde”. Além disso, o responsável acredita que Portugal e Espanha podem competir com “preços mais baixos” pela sua “complementaridade entre vento, ar e sol”. 

 

Metas mais ambiciosas


Aprovado no final de 2020, o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) é um dos instrumentos que apoiam o esforço para a transição energética e para o cumprimento das metas ambientais definidas pela UE até ao final da década. Entre os principais objetivos, destaque para a redução de emissões de gases com efeito de estufa até 55% (em linha com o pacote comunitário FitFor55, de 2021), a diminuição do consumo de energia primária em 35% e o aumento para 47% do peso das energias renováveis no consumo final bruto de energia. Recentemente, o ministro do Ambiente e da Transição Climática, Duarte Cordeiro, defendeu ser possível atingir a meta nas renováveis até 2026, aumentando a ambição de chegar a 2030 com 80% de incorporação de fontes verdes. Para lá chegar contribuem medidas como o encerramento das centrais de produção elétrica a carvão, bem como a crescente aposta no hidrogénio verde, sector com mais de uma centena de projetos de exploração previstos no país. 

 

E porque o percurso depende não apenas de políticas públicas mas também do contributo de cidadãos e empresas, é importante sublinhar o compromisso dos portugueses em relação à sustentabilidade. Um inquérito desenvolvido pela Merck em 10 países europeus concluiu que nove em cada 10 jovens portugueses estão dispostos a alterar os seus hábitos de consumo em nome de um mundo mais verde. As gerações mais novas assumem mesmo as ameaças ambientais como um dos três principais desafios a endereçar, a par do cancro e das desigualdades de género. 

A preocupação crescente com o maior respeito pelo ambiente e pelo futuro que se pretende desenhar é ainda suportada, dentro de fronteiras, pelo Fundo Ambiental, do Ministério do Ambiente e da Ação Climática, cuja dotação orçamental duplicou entre 2021 e 2022 para 1.125 milhões de euros. Este é o mecanismo estatal que apoia, por exemplo, a compra de veículos de baixas emissões e que comparticipa obras e a instalação de equipamentos que visem aumentar a eficiência energética dos edifícios, nomeadamente através de painéis fotovoltaicos, janelas mais eficientes ou bombas de calor. 

 

Rumo à Neutralidade.

 

Empresas comprometidas com o futuro


O questionário da Merck confirma ainda uma tendência registada nos últimos anos junto das camadas mais jovens em relação à importância que atribuem às preocupações de sustentabilidade das empresas. Os dados apontam que 39% dos jovens portugueses olham para a promoção da igualdade, diversidade e inclusão nas empresas como um fator importante na altura de se candidatarem a ofertas de emprego. 

 

O compromisso dos negócios com os temas ESG – Environmental, Social and Governance é cada vez mais uma realidade em todo o mundo, incluindo em Portugal. Além dos consumidores serem hoje mais exigentes, também os investidores têm seguido a tendência e começam a planear os seus investimentos com base no cumprimento destes parâmetros de gestão, contribuindo ativamente para impulsionar o papel das empresas neste âmbito. 

As escolhas individuais e coletivas afetam, por isso, a direção seguida por marcas e governos, reforçando a importância de os cidadãos terem uma voz ativa nestes temas e de apostarem no aumento da sua literacia ambiental. Porque um mundo mais “verde” depende de todos.

 

 

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