Os cursos que moldarão a tecnologia do futuro não serão apenas tecnológicos

07.10.2022

Escrito por: Bankinter

A inovação não deriva apenas da tecnologia: organizar a formação académica agrupando várias disciplinas é a fórmula ideal para que novas ideias surjam.
A tecnologia do futuro é o resultado de várias disciplinas que reúnem inúmeros temas. Os cursos de inovação tecnológica deixaram de ser a engenharia clássica, que durante vários séculos foi o motor do progresso tecnológico. Agora ao STEM (acrónimo inglês para Science, Technology, Engeneering and Maths) junta-se o “A” de Art e passa a STEAM. 
À medida que novas disciplinas são adicionadas à equação, o próprio conceito de "inovação" ou "progresso" é redefinido. É por isso que os cursos que agrupam várias áreas diferentes têm maior potencial de inovação. Só uma compreensão holística e aberta da realidade fará surgir ideias que transformem a nossa realidade para melhor. Só conversando entre profissões é que é possível inovar.

 
Cursos de inovação tecnológica


Ofuscados por um século passado caracterizado pelo desenvolvimento industrial e um grau de inovação nunca antes visto, resultado da implementação tecnológica, tendemos muitas vezes a confundir inovação com tecnologia, quando na verdade é possível inovar sem tecnologia, ou desenhar tecnologia sem inovação. Apesar de geralmente andarem de mãos dadas e haver uma tendência para se apresentarem juntas, são independentes. 
Existem no mínimo dez tipos de inovação e, embora os que têm mais peso sejam aqueles que têm a ver com repensar a estrutura de um processo ou relações com o ambiente em que estão inseridos, o foco está muitas vezes nos produtos tecnológicos. É compreensível porque estes são vetores de inovação futura. Pensemos por exemplo, na inovação que advém da descoberta da eletricidade ou da internet. 


Adeus aos cursos estanques e isolados 


No passado, a inovação era relativamente simples por muitas razões, sendo que uma das mais importantes era a necessidade de melhorar as condições de vida. O engenheiro inovava em engenharia, o professor na educação, o médico em medicina. No entanto, cada inovação acrescenta complexidade à lei da produtividade marginal decrescente: fazer algo novo e valioso está a tornar-se cada vez mais difícil. 
Durante alguns séculos, o ritmo natural do crescimento populacional, acrescentando mais mentes à equação, permitiu inovar de forma continuada. Posteriormente surgiram as equipas de trabalho multidisciplinares, que conseguiram manter o nível de inovação constante graças à troca de conceitos. Hoje é preciso algo mais: uma formação que reúna várias disciplinas de base. 
Exemplo disso é a licenciatura em engenharia biomédica, uma disciplina que inclui sob um único chapéu a síntese do conhecimento de engenharia e a da medicina. Obviamente não na sua totalidade, mas em pontos que estejam interligados. 
E o mesmo se aplica à licenciatura em ciência dos dados, uma profissão em que os formados dizem saber mais sobre estatística do que qualquer programador e, ao mesmo tempo, sabem mais sobre programação do que qualquer estatístico. É neste ambiente de partilha que podem surgir inovações. 
Os cursos e as formações profissionais são cada vez menos puristas no que diz respeito ao corpus de conhecimentos e competências que o aluno deve aprender. De facto, há muito que não se trata apenas de estudos mistos, mas de uma mistura de estudos. Os estudantes de ciências são muitas vezes encorajados a inscreverem-se em disciplinas de humanidades, e vice-versa. 
Isto é muito comum em ramos relativamente novos de conhecimento. Nos estudos sobre inteligência artificial, é fundamental compreender o desenvolvimento histórico ou o impacto social desta tecnologia. E o mesmo se aplica às inovações tecnológicas relacionadas com a produção de energia elétrica, em que as disciplinas ambientais desempenham um papel crucial. 


Disciplinas ecléticas e profissionais multidisciplinares


Quando o objetivo é inovar para uma melhor qualidade de vida, precisamos de disciplinas ecléticas e de profissionais multidisciplinares: 
As disciplinas ecléticas são aquelas que envolvem e impactam sistemas diversos. O urbanismo, por exemplo, toca em ramos da arquitetura, equidade social, sustentabilidade económica ou estabilidade orçamental, entre outros. O trabalho social é outro exemplo à volta do qual orbita a psicologia, a integração social, a complexidade profissional ou o direito. 
Os profissionais multidisciplinares são aqueles que cultivam mais do que um campo de conhecimento. Pessoas inquietas que, por um lado, não conseguem permanecer estáticas numa única matéria e, por outro, são capazes de encontrar ligações e pontos de contacto entre diferentes campos. O biólogo que procura biomarcadores em planetas fora do nosso sistema solar usando a ótica de um telescópio é um exemplo. 
Nestes três últimos exemplos de profissões, grande parte da inovação decorre de uma melhor metodologia, embora a inovação tecnológica também ajude. Não há dúvida de que a tecnologia facilita a inovação em todas as disciplinas. Afinal, a tecnologia é um facilitador. 
A maioria das profissões já se conjugam com os temas de "outras" disciplinas. A medicina requer elementos de engenharia, que por sua vez se projeta para minimizar os danos que a medicina, ao tratar, possa causar. Ambos dependem da física e da química que se alimentam e usam uma matemática que hoje passa pela computação, disciplina que requer uma ética, tornando-se a filosofia cada vez mais necessária.