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Incerteza pode gerar oportunidades

02.03.2023

Escrito por: Ideias que contam

As perspetivas para este ano estão a preocupar os gestores, a nível global, pela dificuldade que o contexto está a impor na tomada de decisões. Os planos de longo prazo parecem difíceis de elaborar e, mesmo a curto e médio prazo, a imprevisibilidade está a causar muita apreensão. No entanto, o país dispõe de algumas mais-valias que, bem aproveitadas, trazem novas oportunidades para muitas empresas.

Dizem os manuais de economia que é nas crises que se devem procurar as oportunidades e preparar a retoma. No atual contexto, que combina guerra, inflação, crise energética, e que faz vislumbrar um ano de 2023 com algum potencial de recessão global, as empresas anteveem tempos difíceis, mas as mais atentas já procuram soluções para fazer vingar os seus negócios.

Enquanto país, Portugal pode beneficiar da sua posição geoestratégica para desenvolver projetos industriais, agora que a Europa quer apostar numa reindustrialização para cortar com a dependência da China. O país pode igualmente ser um cluster tecnológico, fornecedor para a Europa e para o mundo, tirando partido do know-how especializado dos seus profissionais e empresas. Na vertente energética, Portugal tem a possibilidade de ter um papel importante enquanto fornecedor de energias renováveis e de gás, nesta última recorrendo aos portos nacionais como porta de entrada dos combustíveis na Europa e reduzindo a dependência da Rússia. Um conjunto de oportunidades que apenas podem ser concretizadas com o alinhamento entre políticas públicas e investimentos privados, num cenário em que as empresas e os empresários marcarão a diferença.  

Entre a iniciativa privada e as oportunidades proporcionadas pelos programas europeus de apoio ao investimento, as organizações podem tirar partido deste contexto e contribuir para transformar a incerteza em crescimento e competitividade. 

INDÚSTRIA
O preço da energia e o custo crescente das matérias-primas são grandes desafios para a indústria que transitaram de 2022 para 2023. No entanto, no novo ano, algumas das indústrias nacionais estão em posição de ultrapassar estes obstáculos, nomeadamente através do encurtamento das cadeias de abastecimento, o que lhes permitirá reduzir custos de produção e, em simultâneo, criar uma operação mais sustentável. Recorrer a matéria-prima produzida no país ou noutros estados-membros da Europa beneficiará todo o setor. 

Outro desafio passa pela digitalização da indústria que procura automatizar processos e cadeias de abastecimento. A Indústria 4.0 é cada vez mais uma realidade, com algumas indústrias e dar os primeiros passos em conceitos de produção ainda mais imersivos (Indústria 5.0) capazes, por si só, de contribuir para dar resposta a grande parte dos desafios do sector. 

Por último, o desafio dos recursos humanos e da qualificação. O ano de 2023 será determinante na requalificação da mão-de-obra que falta em vários setores, mas que é também um problema na indústria. Com a crescente digitalização, é urgente que as equipas estejam capacitadas para tirar partido da tecnologia e para que a indústria possa ser mais competitiva a nível global. A este nível, o Plano de Recuperação e de Resiliência (PRR) pode ajudar as empresas a reforçar a capacitação dos seus colaboradores (LINK PARA ARTIGO DO PRR RESILIÊNCIA – qualificações são chave para o futuro), contribuindo para a sua modernização e para a valorização dos recursos humanos a nível nacional. 

TECNOLOGIA
O reconhecido know-how tecnológico nacional está a levar alguns talentos para fora do país, mas está igualmente a atrair centros de competência de multinacionais para solo luso. As empresas e o país podem agora tirar partido deste reconhecimento, procurando atrair mais multinacionais e projetos inovadores através da naturalização do trabalho remoto. Podem igualmente colocar os seus talentos ao serviço de organizações com sede noutros países ou, por outro lado, captar talentos internacionais para a prestação de serviços no mesmo modelo. 

É também através da tecnologia que todos os setores, de forma transversal, podem tornar-se mais eficientes, sustentáveis e produtivos, contribuindo para um tecido empresarial mais bem preparado para enfrentar os desafios globais.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
Sendo um dos maiores desafios globais deste século, a transição climática ganhou protagonismo ao longo do último ano devido à crise energética exponenciada pela guerra na Ucrânia. Mas da mesma maneira que esta crise pressiona as empresas a transformarem-se para serem energeticamente mais eficientes, abre também oportunidades para que este setor possa liderar uma transformação a nível europeu. 
Portugal continua a ser um dos países da União Europeia (UE) com maior produção de energias renováveis. A prazo, estas fontes alternativas, a par com novas indústrias como o hidrogénio verde, podem ajudar o país a posicionar-se como alternativa às energias fósseis e ao gás comercializado pela Rússia. Com o apoio do PRR, várias agendas mobilizadoras reúnem consórcios de empresas nacionais que, em conjunto, estão a desenvolver projetos que apontam neste sentido. A inovação continuará, neste como noutros temas, a ser essencial para que outras empresas e outros projetos possam igualmente contribuir para que Portugal possa assumir um papel de liderança na energia.